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PZ: «Gosto de me expressar com ironia»

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PZ: «Gosto de me expressar com ironia»

Foram a «Cara de Chewbacca» e os «Croquetes» que o deixaram na boca de muitos. PZ transmite agora as «Mensagens da Nave-mãe», e conta como a ironia e o humor sério o ajudam a transmiti-las.

 

MYWAY: Estás a apresentar o álbum «Mensagens da Nave-Mãe». É de lá que te vem a inspiração?

PZ: Sim, também. Pode ser uma fonte de inspiração que engloba todas as minhas inspirações. É o objeto emissor, e neste caso eu sou o recetor. Também tem a ver com ficção científica, também tem a ver com a parte eletrónica da minha música, e com um amigo meu que quando eu estava ‘daydreaming’ disse: «ui, cuidado que ele está a receber mensagens da nave-mãe». No final, tinha as músicas todas e fez-me sentido usar este título.

 

MYWAY: A ficção científica é inspiração, também?

PZ: Sim, se calhar mais na parte instrumental. Se calhar no «Anticorpos» tem um bocadinho de ficção científica, nas outras sou mais terra a terra, mas dentro de um ambiente sci-fi, mais eletrónico, fora do convencional. Também tem a ver com as influências que eu sempre ouvi…

 

MYWAY: A tua música tem uma mensagem direta, mas também irónica. É uma maneira de tirares peso à mensagem, ou é a tua forma natural de te expressares?

PZ: Eu gosto de me expressar com ironia e criar também uma certa sensação de humor através da ironia, que acho que chega melhor às pessoas. Pelo menos a mim, é um tipo de abordagem que me faz sentido, e divirto-me também a fazer as músicas assim. É um bocado um monólogo interior. Às vezes sou eu o personagem que está dentro da música, é aquela coisa de me rir de mim próprio. É uma maneira direta de chegar às pessoas, e de dar outra dimensão à mensagem, fazer pensar além do que está lá.

 

MYWAY: Mas essa ironia às vezes não é bem compreendida, a música «Cara de Chewbaca», e mesmo a «Croquetes» foram muito analisadas…

PZ: Sim, mas eu acho isso interessante. Cada pessoa tem a sua interpretação, o seu background, e não entende da mesma maneira. É importante até confundir as pessoas nesse sentido (risos). Na «Cara de Chewbacca» houve alguns episódios de pessoas que acharam que a música era sexista. Com os «Croquetes» acharam que eu andava a fumar croquetes, pensaram que era uma alegoria para um certo tipo de estupefacientes, e até houve um comentário no Youtube em que achavam que eu era gay. Porquê? Porque tinha croquetes e duas batatinhas…e depois diziam: reparam que ele também não gosta do bacalhau! Também me perguntaram se era uma coisa mais política a dizer que não haveria almoços grátis. Acho que a ironia é mais na abordagem, mas é mesmo só sobre croquetes.

 

MYWAY: essas te levou a pensar mais na forma como apresentas as músicas?

PZ: Eu gosto de cantar de maneira séria, do humor sério, e cria um bocado um impacto forte, pelo menos em mim. Mesmo durante os concertos, mantenho sempre aquela seriedade dentro do humor, exatamente para criar aquele contraste que leva a questionar: «será que ele está a sério? Será que não está?». Isso cria impacto no público.

 

MYWAY: O teu objetivo é sempre colocar as pessoas a pensar no que estás a dizer?

PZ: A minha música é um bocadinho exigente. Tem de se ouvir mais do que uma vez para se perceber o que é que se passa aqui dentro, mesmo nas letras e tudo tenho de manter um bocado esta personagem, mas sou eu próprio, e são coisas que eu gosto de pensar, e das quais gosto de me rir.

 

MYWAY: Era isso que ia perguntar, o PZ que aparece de pijama, e que volta a falar desse conforto na música «Nada Mais» é uma personagem, ou és tu sem filtros?

PZ: É as duas coisas.

 

MYWAY: És tu levado ao exagero?

PZ: Sim, é um bocado uma caricatura, num certo sentido. É um bocado uma caricatura, e é uma maneira de me expressar e quase fazer uma autoanálise através da música. A arte é uma forma de uma pessoa expressar o que vai cá dentro, e é isso que eu faço também.

 

MYWAY: Quem te conhece só da «Cara de Chewbacca», e do «Croquetes» vai encontrar-te neste disco?

PZ: Penso que algumas músicas têm a ver, mas eu nunca mais vou fazer uma «Cara de Chewbacca», nem um «Croquetes. Quer dizer, já me disseram para fazer uma música sobre o «Corpo de Java» (risos), mas não faz sentido. Foi aquele momento que me inspirou, e está feito. São 12 músicas, são 12 momentos novos que eu tive de inspiração. Se calhar em termos de letra, um paralelo com os croquetes é uma música chamada «Trinca na Chamuça». Pelo menos estão na mesma papelaria.

 

MYWAY: Tu lanças «dinheiro» nos concertos, por exemplo, essa ideia estética também é importante para ti?

PZ: Sim, o PZ desde o início que é todo feito por mim, é tocado por mim, a capa é feita por mim, alguns videoclipes são feitos por mim…para o melhor e para o pior é uma egotrip. É o que eu sou, enquanto eu próprio também me estou a descobrir. Essa coisa do dinheiro, fui eu próprio que fiz a nota, e é a minha maneira de controlar este projeto do princípio ao fim, não só na parte musical, mas na parte da imagem. Mesmo os realizadores com quem eu trabalho – como o Alexandre Azinheira, Joana Areal, Filipa Cardoso – são amigos meus, e eu confio muito neles. Só trabalho com pessoas em que eu confio, mas dentro do possível tento fazer as coisas à minha maneira, para o melhor e para o pior. Em termos de estética fui encontrando outras pessoas, enquanto na parte musical eu faço tudo, produzo tudo. Na parte de misturar, só confio no meu irmão que é o Zé Nando Pimenta, e que faz parte da Meifumado, que é a nossa editora.

 

MYWAY: É isso que vamos poder esperar dos concertos? Uma extensão da «personagem»?

PZ: Sim, há músicas que pedem…lá está, no «Dinheiro» tenho uma nota com a minha cara, tirada do vídeo, e oferecemos «dinheiro» e croquetes. A cara de Chewbacca também entra em palco comigo. Quando é possível tentamos integrar esses personagens e esses temas dentro dos concertos.

 

MYWAY: Estavas a falar sobre o teu trabalho na Meifumado, sentes que a música independente tem mais espaço para trabalhar em Portugal?

PZ: Sinto que sim. Acho que as pessoas nem têm noção que a maior parte da música que ouvem nos últimos anos, se calhar vem de editoras independentes. Nós no mercado começamos a aperceber-nos que as editoras independentes, e mesmo artistas que lançam em nome próprio, às vezes têm mais vantagens. Têm mais controlo, se calhar têm um maior retorno também, o dinheiro não fica tanto no lado das editoras, e se tiverem algum nome já conseguem salvaguardar esse investimento. Uma editora, o que dá também é estrutura logística para investir em videoclipes – eu próprio também faço videoclipes dentro da editora, ainda há pouco fiz o videoclipe dos Corona, já realizei para os Mind Da Gap, já ajudei em equipas de produção do Expeão – fazemos de tudo um bocado, na Meifumado, mas normalmente damos liberdade para eles fazerem o que querem, e isso numa major pode ser mais difícil. Também tem a ver com o género de música, as editoras independentes começaram a surgir porque começou a haver música mais alternativa, digamos, em Portugal, a música alternativa começou a ser mais ouvida. O mainstream está muito dividido em cultos e gerações diferentes, e as editoras independentes começam a ter artistas que atingem esses públicos da mesma maneira que uma major. Obviamente que em termos de investimento não temos tanto poder, mas acho que para começar um projeto novo as editoras independentes são indispensáveis.

 

PZ apresenta hoje – 30 de maio – o álbum «Mensagens da Nave-Mãe» no MUSICBOX, em Lisboa.


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