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A música em 2014 – As nossas escolhas
Acho que podemos dizer que 2014 foi o «nosso» ano a partir do momento em que temos dificuldade em não fazer uma lista de melhores do ano só com álbuns portugueses. Soubesse o Mundo o que passa por aqui… Mas nós sabemos que somos privilegiados por termos assistido a um ano tão rico a nível musical, e queremos partilhá-lo com vocês. E, se estamos em Portugal, que se use o futebol para esta analogia: esta «geração de ouro», ao longo de todo este último ano, presenteou-nos com disco atrás de disco, concerto atrás de concerto. A diferença aqui, é que a geração de ouro do futebol nunca ganhou competições, e esta, a da música, lidera campeonatos. Nas nossas preferências, separámos os discos internacionais dos nacionais, mas apenas por razões de logística; aqui, cada um deles merecia um lugar no «top». Seja ele qual for.
Sempre vossas,
Marta Rocha e Joana Canela
Melhores álbuns nacionais
Marta Rocha
- Capitão fausto – Pesar o Sol
Às vezes devemos mesmo acreditar no hype. Ao segundo álbum, o rock dos Capitão Fausto ganhou espaço, em todas as suas dimensões. O ritmo ofegante a que «Gazela» corria ganha tempo e fôlego psicadélico em canções espaciais. Roubamos a expressão aos Spiritualized para explicar o que canções como «Tui», «Litoral», ou «Flores do Mal» transmitem: «Senhoras e senhores, estamos a flutuar no espaço». Em palco, os Capitão Fausto não deixaram que o facto de terem entrado em órbita e lhes tirasse imediatismo, e a energia dos concertos manteve-se intacta. Tocaram pelo país como se tocassem em Pompeia, e ganharam o ano.
- B Fachada – B Fachada
O mês é Maio, o ano é 2014, e o local é a Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. O motivo? O primeiro concerto de B Fachada com canções novas, depois de mais de um ano sem lançar nada. O espaço temporal sem obra soará a curto para muitos artistas, mas B Fachada tinha-nos habituado ao ritmo de mais de um álbum por ano, pelo que o ano sabático fez-se sentir. O tom de bailarico trazido em samples e teclado soou-me estranha aos primeiros segundos, mas familiar aos seguintes. B Fachada estava de volta, e continuou de portugalidade entranhada, a mexer com a língua com o conforto de quem a conhece por dentro e ao detalhe, e a brincar com o passado com o passado e com a identidade. «B Fachada» confirma o seu autor como um dos mais geniais autores nacionais
- Diabo na Cruz – Diabo na Cruz
Ao terceiro álbum, os Diabo na Cruz encontraram a pele que melhor lhes assenta. A tradição que tocam chega-nos desta vez não só pela viola braguesa (agora a cargo de Sérgio Pires, depois da saída de B Fachada), mas com os teclados de João Gil a soarem a festa de aldeia, particularmente em canções como «Ganhar o Dia». Ao terceiro álbum, o equilíbrio entre influências dos Diabo na Cruz chega ao ponto de rebuçado, como «Moça Esquiva» tão bem comprova. A tradição é agora, e está de boa saúde.
- Capicua – Sereia Louca
- 5-30 – 5-30
- D’Alva – #batequebate
- Bruno Pernadas – How Can We Be Joyful in a World Full Of Knowledge
- The Legendary Tigerman – True
- You Can’t Win, Charlie Brown – Defraction / Refraction
- Dead Combo – A Bunch Of Meninos
Joana Canela
- Bruno Pernadas – How To Be Joyful In A World Full Of Knowledge
Bruno Pernadas foi a surpresa de 2014. O guitarrista dos Julie and The Carjackers aproveitou a pausa da banda para se explorar como artista individual, editando o seu primeiro disco a solo (já tinha feito outro que acabou por não pôr cá fora). «To Be Joyful In A World Full Of Knowledge» é um disco completo, novo, exótico. Uma fusão de experiências sonoras cuidadosamente alinhadas em camadas que se podem descortinar numa audição mais atenta. Sobre a sonoridade do álbum, Bruno Pernadas fala em «música estranha», por fugir à linha da música pop convencional, mas a verdade é que de estranho nada tem ao ouvido.
- Capitão Fausto – Pesar o Sol
Com a chegada de 2014, chegou também o último álbum de Capitão Fausto. Agora, neste fim de ano, já não soa tanto a novo, mas continua a soar bem. «Pesar O Sol» valeu a estes cinco meninos a presença em quase todos os festivais que se fizeram durante este ano em Portugal. Depois do sucesso do primeiro «Gazela», começaram a angariar fãs nas digressões pelo país. Mas depois do último trabalho, o hype fez-se à medida da qualidade do álbum – e dos concertos. «Pesar O Sol» é rock psicadélico leve, com o travo certo a pop; um álbum que tem como missão fazer viajar quem o ouve.
- Black Bombaim – Far Out
Barcelos é a casa de muitas bandas proeminentes do nosso país. Foi de lá que Tojó, Paulo e Senra «partiram» quando deram início a esta viagem que são (e têm sido) os Black Bombaim. «Far Out» é mais um capítulo da sua história como banda e foi com ele que correram a Europa e alguns festivais de relevo em Portugal como o Boom e o Reverence Valada. Mas este álbum chega a outros sítios: «Africa II» e «Arabia» são as únicas faixas que compõe o disco e prolongam-se por 34 minutos de transe. Ao trio do costume juntou-se o saxofonista Rodrigo Amado, para completar o já místico cenário musical do primeiro tema, e Luís Fernandes, para exacerbar a distorção de «Arabia» com sintetizadores modulares e electrónicos. «Far Out» podia ser o disco forte, possante e viajante de uma outra banda estrangeira de rock psicadélico que tem lugar marcado no Austin Psych Fest. Mas é um álbum nosso. E se o sonho de chegar ao festival Roadburn já foi concretizado, muitos outros estarão por concretizar.
- 5-30 – 5-30
- Keep Razors Sharp – Keep Razors Sharp
- Gala Drop – II
- Katabatic – Weighs Like A Nightmare On The Brains Of The Living
- Sensible Soccers – 8
- Dead Combo – A Bunch Of Meninos
- Paus – Clarão
Melhores álbuns internacionais
Marta Rocha
- Temples – Sun Structures
No ano em que os coletes e boinas folk deram lugar às camisas da avó e caracóis indomáveis, os Temples trouxeram o álbum que encheu o psicadelismo de sonhos doces. Pode dizer-se que «Sun Structures» é um álbum de 2014, tanto quando poderia ser de 1971, mas a verdade é que as guitarras não têm idade, e canções como «Move With The Season» levam esta que vos escreve a encher-se de arrepios emocionados. A música serve para isso, ou não?
- Mac DeMarco – Salad Days
«Salad Days» não tem um grande momento de explosão, nem um manifesto de intenções. Com o novo álbum, Mac DeMarco surge como o outsider relaxado que faz canções por prazer. O resultado é um álbum de simplicidade refinada, guitarras de personalidade vincada e exposta ao sol, e voa como uma viagem pacífica e introspectiva pela mente de um músico que só queríamos que fosse o nosso amigo cool.
- Perfume Genius – Too Bright
Já em «Dark Parts», do anterior «Put Your Back In 2 It», Perfume Genius cantava: «I Will take the dark part of your heart, into my heart» («Vou tirar a parte negra do teu coração para o meu»). É mesmo isso que o músico faz, e volta a fazer com «Too Bright», é pegar em todas essas partes obscuras do coração de cada um que o ouve, e deixá-las à flor da pele. Desta vez, Perfume Genius abre o peito à luz, faz as canções crescerem em poder, e dá-lhes a tonalidade épica de quem largou a timidez e tem vontade de gritar. Em «Too Bright», Perfume Genius espalha luz e cresce com ela.
- Jungle – Jungle
- Taylor Swift – 1989
- FKA Twigs – LP1
- Ty Segall – Manipulator
- Vincent – St. Vincent
- Banks – Goddess
- Jack White – Lazaretto
Joana Canela
- Thurston Moore – The Best Day
Desde 2009 que não se ouvia nada assim. Para os fãs de Sonic Youth, «Rather Ripped» tinha sido a última respiração do grupo nova-iorquino. Para Thurston Moore, «The Best Day» poderá ser o seu grito do Ipiranga, o seu álbum de celebração do presente, à distância certa do passado. Depois de dois álbuns a solo em guitarra acústica, Thurston Moore voltou à distorção. Acompanhado por Steve Shelley, baterista da sua extinta banda, James Sedwards, guitarrista britânico com toques de Lee Ranaldo, e Debbie Googe, baixista dos My Bloody Valentine e Primal Scream, no papel de Kim Gordon, o músico norte-americano conseguiu criar um álbum de destaque, com guitarras a gosto e com o mesmo tempero a Sonic Youth.
- Alt-J – This Is All Yours
Depois de terem conquistado um Mercury Prize com o seu álbum de estreia «An Awesome Wave», os Alt-J viram criado um hype tão alto quanto as expectativas para o seu sucessor. A primeira amostra de «This Is All Yours» chegou em Junho com «Hunger Of The Pine», o polémico e vibrante single com uma sample de Miley Cyrus. No entanto, a coesão do álbum ditava que se tivesse de o ouvir na íntegra, e não por temas. Apesar de os seus singles terem sido metodicamente escolhidos – de referir tanto a apaixonante e marcante «Every Other Freckle» como a música «Left Hand Free», que foi escrita em 20 minutos para agradar a editora – o segundo registo do (agora) trio britânico requer uma audição dedicada e um coração aberto. É um álbum bonito, rico em géneros, efervescente em emoções e descalço de lugares-comuns.
- Run The Jewels – Run The Jewels II
No ano passado, o produtor de hip hop alternativo El-P associou-se a Killer Mike, rapper ligado aos Outkast e à editora de T.I., para juntos formarem os Run The Jewels. Depois da primeira amostra homónima, chega-nos este ano «Run The Jewels 2», o disco do melhor hip hop que se fez este ano. Fresco, violento, cru, catchy. Vários adjectivos se podem atribuir a este álbum. Os temas que o compõem não são feitos da mesma matéria que os básicos singles de hip hop que vivem no mesmo solo da pop; em vez disso, «Run The Jewels 2» faz-se preencher por beats irrepreensíveis e jogos de vozes tão agressivos como agradáveis ao ouvido. Este álbum traz uma urgência sonora e o trilho para o futuro do hip hop passa pelos Run The Jewels.
- Temples – Sun Strutures
- Ty Segall – Manipulator
- King Gizzard And The Lizzard Wizard – I’m In Your Mind Fuzz
- Nicki Minaj – The Pink Print
- Earth – Primitive And Dead
- Allah Las – Worship The Sun
- Moodoïd – Le Monde Möö
Vinte Músicas do Ano
Marta Rocha
Pharrell – Marilyn Monroe
Beyoncé – Drunk In love
Capicua – Mão Pesada
Banda do Mar – Dia Clarear
Future Islands – Seasons (Waiting On You)
Modernos – Sexta-feira
Hozier – Take Me To Church
Beyoncé – 7/11
Banks – Beggin For Thread
Mark Ronson – Uptown Funk feat. Bruno Mars
Temples – Move With The Season
Taylor Swift – Out Of The Woods
5-30 – Pitas querem guito
D’Alva – Barulho II
Diabo na Cruz – 200 mil horas
Jessie Ware – Keep On Lying
Mac DeMarco – Let Her Go
A$AP Rocky – Multiply (feat. Juicy J)
Tiago Bettencourt – Morena
One Direction – Clouds
Joana Canela
Thurston Moore – Forevermore
Sharon Van Etten – Your Love Is Killing Me
Bruno Pernadas – Premiére
Wytches – Gravedweller
Moodoid – La Lune
Run The Jewels – Oh My Darling (Don’t Cry)
Nicki Minaj – Only
Beyoncé – Drunk In Love
Swans – Screen Shot
Marissa Nadler – Drive
Wildest Dreams – 405
PAUS – Negro
Liars – Mess On A Mission
Capitão Fausto – Flores do Mal
Beck – Blue Moon
Mac De Marco – Chamber of Reflection
Goat – Hide From The Sun
Damon Albarn – Everyday Robots
Temples – Golden Throne
Alt-J – Hunger Of The Pine
Dez Melhores Concertos
Marta Rocha
Kendrick Lamar – NOS Primavera Sound
Beyoncé – MEO Arena
Mac DeMarco – Vodafone Paredes de Coura
Justin Timberlake – Rock In Rio Lisboa
The Rolling Stones – Rock In Rio Lisboa
D’Alva – NOS em Palco
St. Vincent – NOS Primavera Sound
Haim – NOS Primavera Sound
Buraka Som Sistema – NOS Alive
Capitão Fausto – Lux
Joana Canela
Thurston Moore – Galeria Zé dos Bois
Arcade Fire – Rock In Rio
PAUS – Optimus Alive
Capitão Fausto – Lux
Wooden Shjips – Cartaxo Sessions
Black Bombaim – Reverence Valada
Red Fang – Reverence Valada
Pond – Primavera Sound
The National – Primavera Sound
José Cid com o album 10,000 Anos Depois Entre Vénus e Marte – Aula Magna