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NOS Primavera Sound’15 – Reportagem do 3º dia

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NOS Primavera Sound’15 – Reportagem do 3º dia

Foram 77 mil as pessoas que passaram pelo Parque da Cidade para o NOS Primavera Sound, em afluência recorde para o festival. Tal aumento sentiu-se a olhos vistos, mas nem por isso alterou o espírito de paz, amor e música que domina o festival. Ao terceiro e último dia, eram mais os que aproveitavam as colinas para verem os concertos sentados, com os pés e almas a acusar cansaço. Death Cab For Cutie, Manel Cruz, Ride, ou Thurston Moore, atuaram, e os Foxygen ganharam pela diferença.

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17h30 – Manel Cruz

«Mandámos vir este solinho, espero que gostem», dizia Manel Cruz à chegada ao Palco Super Bock, perante uma plateia bem composta, que cresceu até ao final da atuação. O culto gerado por um dos mais geniais músicos nacionais não falha, e muito menos com Cruz a jogar em casa.

O que não falta a Manel Cruz são projetos e alter-egos, e no NOS Primavera Sound o músico recordou as suas várias facetas, e acompanhado de três músicos, Nico Tricot, António Serginho, e Eduardo Silva, apresentou o projeto Estação de Serviço. A estreia desta nova versão de Manel foi feita em novembro passado com um concerto no Porto, e vai ganhando forma. Nas novas canções apresentadas, ouvimos que medo e o divino continuam a fazer parte das histórias cantadas por Manel Cruz. «Na minha aldeia chamam-me maluco por não fazer a barba às ideias», canta Cruz numa das novas canções, a soar a tango caótico. Por aqui, a poesia nunca é servida na mesma forma, e as histórias do quotidiano mais ou menos inventado enchem-se de esquinas e surpresas.

Além das novas canções, os músicos olharam para o passado, mas não tanto que chegassem aos Ornatos Violeta. «Ócio», dos Supernada, começou o caminho pelo retrovisor pelo projeto mais próximo, passando logo para «Estou pronto», de Foge Foge Bandido, projeto que regressou logo com «A Cisma», e mais tarde com a brilhante «Canção da Canção Triste», celebrada com a euforia merecida. Já sem t-shirt – como é habitual – Manel Cruz termina o concerto de polegares estendidos e sorriso agradecido. O «solinho» também chegou aqui.

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18h45 – Thurston Moore

Pelo verdejante Palco ATP, Thurston Moore e a sua banda despejavam eletricidade, a invadir sem pedir licença o dia claro. Com o álbum «The Best Day» por apresentar, o ex-Sonic Youth fez o que melhor sabe fazer desde que ainda não tinha o título de «ex». O músico cavalgou riffs intermináveis, sem medo da distorção barulhenta, em temas como «Speak To The Wild», ou o muito bem recebido «Germ Burns». Além das canções, houve o agradecimento aos companheiros de palco pela ajuda com o som – a banda teria aterrado em cima da hora – e a garantia bem recebida de que um segundo álbum vem a caminho.

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19h50 – Foxygen

Lutas de espadas, zangas encenadas, bailarinas coordenadas, música de circo. Dito assim não parece, mas tudo isto fez parte do concerto dos norte-americanos Foxygen no NOS Primavera Sound. Se a isto juntarmos um vocalista – Sam France – que é uma espécie de Mick Jagger nos seus sonhos mais selvagens e sob o aparente efeito do dobro das drogas que o Rolling Stone possa ter tomado, temos uma noção da brilhante loucura da atuação, que faz os Flaming Lips – que vimos no mesmo palco há três anos – parecerem meninos de coro.

«Acabei com a minha namorada precisamente hoje, por isso mereço uma bebida. O pior, é que também acabei com o meu namorado», dizia Sam logo ao início do concerto, antes de despejar uma garrafa para cima de si próprio. Antes de uma versão particularmente desesperada e encenada do genial «Shuggie», os músicos encenavam uma discussão, as bailarinas mostravam o seu melhor olhar de choque, até chegarem a uma luta de «espadas». Do lado de cá, olhares confusos de sorriso aberto, que aumentaram quando a banda sai de palco durante um logo período de tempo enquanto o sucesso «San Francisco» saía pelas colunas. No regresso, o anúncio: «esta é a nossa última música, fiquem com ‘Let It Be’». Obviamente, não foi nada disso que aconteceu, e a banda volta a trocar «insultos» entre si, enquanto as bailarinas e cantoras anunciam que também querem apresentar o seu projeto. A pop psicadélica de toada épica continuou por «Teenage Alien Blues», «No Destruction», e «Everyone Needs Love» ditou o fim do furacão. Em uma hora, aconteceram mais coisas do que poderíamos imaginar que coubessem em sessenta minutos. Soube melhor que refresco.

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21h – Damien Rice

A diversidade de oferta do NOS Primavera Sound fez muitas vezes com que saltássemos de oposto em oposto, com uma diferença de poucos minutos e alguns metros de palco. No último dia de festival, isso voltou a acontecer com a saída do concerto dos Foxygen para entrar no de Damien Rice. À loucura absoluta do Palco Super Bock, contrastava a sobriedade de um homem, as suas guitarras, pedais de efeitos, e um coração partido.

Ao terceiro e último dia de festival, pareceu-nos que muito mais gente aproveitou para ver os concertos sentada na relva, o que é compreensível. Três dias de subidas e descidas pelas colinas, e danças na relva deixam marcas. O concerto intimista de Damien era precisamente um dos que pedia descanso, e foi isso que aconteceu. Distribuída entre as dedicadas filas da frente, e as colinas preenchidas por toalhas amarelas e gente sentada, a plateia mostrou-se atenta e respeitosa enquanto o músico cantava as dores de amor. Seria fácil que um concerto deste tipo se perdesse com a brisa do mar que chegava ao Parque da Cidade, mas canções como «Delicate», «I Remember», ou «Cannonball» chegaram com a angústia intacta. O músico tocou ainda «Trusty and True» para uma fã que o pedia, com a mensagem de desprendimento dos ressentimentos.

Sem surpresas, «The Blower’s Daughter» fez levantar milhares de telemóveis, tornando-se no momento mais marcante do concerto. No final, Rice dividiu-se entre a guitarra, os pedais, e a percurssão, vestindo-se de caos para «It Takes a Lot to Know a Man», e antes de sair de palco, foram muitos os que se levantaram para o aplaudir. A mensagem chegou ao lado de cá.

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22h10 – Death Cab For Cutie

A estreia dos Death Cab For Cutie em Portugal fez-se com três anos de atraso, mas aconteceu no lugar prometido. Em 2012, a banda cancelava o concerto no então Optimus Primavera Sound, alegando não poder esperar pela reparação do palco que tinha sido parcialmente destruído pela forte chuva que caíra durante o dia. Desta vez, não houve incidentes para a banda de Ben Gibbard.

Em palco, a banda parecia determinada em apresentar tudo o que queriam durante a hora de concerto. Gibbard mostrava-se frenético nas viagens pelo palco, enquanto a banda atravessava a carreira, e as canções do novo «Kinstsugi». Sem explodir, o lume dos Death Cab For Cutie mostrou-se bem aceso, particularmente em canções como «I Will Possess Your Heart», «Black Sun», «Little Wanderer», ou «Soul Meets Body». As canções flutuantes a soar a filme indie da banda não trazem arrebatamento, mas deram um conforto com sabor a casa ao festival.

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23h20 – Ride

Os veteranos do shoegaze Ride reuniram-se pela segunda vez no final do ano passado – cerca de 18 anos depois de terem anunciado o fim – e apresentaram em Portugal o resultado da reunião. Com a segurança de quem sabe há muito tempo o que faz, e a classe contemplativa das canções, os Ride deram um concerto seguro e confiante, mesmo que a audiência nos tenha parecido menor em relação a outros concertos no mesmo palco. Canções como «Dreams Burn Down», ou «Taste» fizeram parte do alinhamento, e o clássico «Vapour Trail» gerou uma das mais fortes reações. No final, «Drive Blind» andou entre a reflexão e a explosão, proporcionando um belo momento para o final do concerto.

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00h35 – The New Pornographers, e Dean Deacon

Antes de chegarmos ao fim da viagem pelo NOS Primavera Sound, subimos ao palco ATP para testemunhar o Indie Rock luminoso dos The New Pornographers. A banda do Canadá apresentava em Portugal o álbum Brill Bruisers, editado em 2014, mas o embalo de temas como «Sing Me Spanish Techno», ou «Dancehall Domine», e a cadência de «All The Old Showstoppers» não chegou para entusiasmar.

Descemos então ao Palco Super Rock para espreitar o concerto de Dan Deacon, que apresentava em Portugal o álbum «Gliss Riffer». Encontramo-lo debruçado sobre a máquina, qual cientista louco à procura das misturas ideais. Pela reação, a solução estava encontrada. Chegar ao Palco Super Bock a meio de um concerto de Deacon é como encontrar um pequeno ecossistema, onde todos dançam e se envolvem em alegria extasiada. Não sabemos se são estas as mesmas pessoas que foram relaxando pelas colinas verdes durante os outros concertos, ou se são outros dedicados à dança, mas sabemos que o momento é muito bonito. Deacon surge acompanhado por um baterista imparável, e entre um discurso sobre as limitações que o «copyright» provoca, e o agradecimento a todos os que criaram o festival, desde os construtores dos palcos, aos seguranças, vai atirando temas como «Feel The Light», ou «U.S.A» onde não deixa que a eletrónica afaste a canção.

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A festa do NOS Primavera Sound ainda continuou noite fora, mas nós despedimo-nos com a de Dan Deacon. Em 2016 a Primavera volta à cidade.


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