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NOS Primavera Sound – dia 2: Todas as vénias para Patti Smith

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NOS Primavera Sound – dia 2: Todas as vénias para Patti Smith

O segundo dia de NOS Primavera Sound serviu de perfeito exemplo da essência do festival. Os próximos grandes nomes, as experiências nas performances, e as novidades, juntam-se à consagração de quem foi pioneiro. Patti Smith foi a rainha definitiva do segundo dia, a arrepiar uma enchente que chegou ao final da tarde para a ver. Os Belle and Sebastian levam o prémio de mais felizes, e os Run The Jewels confirmaram as melhores suspeitas sobre eles. Houve mais, muito mais, e muito bom.

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17h – Banda do Mar

Começou cedo a tarde no Parque da Cidade. Enquanto o sol ainda ia alto, e o vento desafiava os cabelos, o público ia chegando, combatendo a preguiça com refrescos, a acordar lentamente para a noite de concertos. A Banda do Mar mostrou-se, assim, a doce e ideal banda-sonora para o momento. Marcelo Camelo, Mallu Magalhães, e Fred percorreram os solarengos temas do homónimo álbum de estreia, como «Cidade Nova», «Hey Nana», «Mais Ninguém», ou «Me Sinto Ótima», mas também temas das carreiras a solo de Mallu e Marcelo, como «Janta», ou «Velha e Louca». Concerto curto, a servir de delicioso aperitivo para o que aí viria.

 

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19h00 – Patti Smith

Comecemos pelo final. Ao sair do concerto de Patti Smith depois de ouvir «People Have The Power» cantado por milhares, de punho levantado, temos a certeza de que se quiséssemos, podíamos mudar o mundo naquele sítio, naquele momento. Patti Smith é o que o rock devia ser sempre, amor e raiva, fraternidade maternal, e poder rebelde. Patti Smith é todos nós, e ao sê-lo é muito mais do que isso.

Antes de «People Have The Power» e «Because The Night» terem fechado o concerto de fim de tarde num Palco NOS com uma afluência aparentemente superior às que vimos nos últimos tempos, houve o clássico «Horses» inteiro. Ao chegar ao palco às 19 horas, Patti entoava a lendária frase: «Jesus died for somebody’s sins, but not mine». Arrepiante, o hino «Gloria» serviu de chamamento à multidão em movimento acelerado pela colina abaixo.

A poesia nas canções como «Birdland», «Free Money», ou «Break it Up» – escrita em memória de Jim Morrison – foi celebrada com emoção e profunda gratidão. «Elegy» fechou a viagem por «Horses». Dedicada a todos os que perdemos, recordou a memória de heróis musicais como Jimi Hendrix, Joe Strummer, Johnny Ramone, ou Lou Reed. Patti viveu-os, sobreviveu-lhes, e aos sessenta e oito anos é ainda capaz de mover e comover multidões com a palavra. A verdade é que poucas palavras são tão poderosas como as dela. Patti Smith é, e foi nos dois dias em que passou pelo Parque da Cidade, Gloriosa. Com ela brilhamos todos.

Não foi autorizada a recolha de imagens do concerto de Patti Smith, pelo que as fotografias apresentadas foram cedidas pela organização, e tiradas por Hugo Lima

 

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20h10 – José González

Difícil a tarefa de atuar pouco mais de dez minutos depois de Patti Smith, logo ali no vizinho Palco Super Bock. Foi José González o convocado para o desafio ao pôr do sol, e conseguiu pouco mais do que embalar a paisagem idílica que o momento proporcionava. Com uma plateia volumosa, mas nem sempre atenta, González e a sua guitarra desfilavam canções delicadas com toques leves de África. Houve espaço para uma versão de «Teardrop», original dos Massive Attack, a soar como se estivesse a ser tocada em Marrocos (elogio), e canções como «Leaf Off / The Cave», ou o sucesso «Heartbeats» trouxeram momentos maiores a um concerto suave e equilibrado. Sobra a certeza de que tal delicadeza se aguenta melhor em espaços fechados.

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21h20 – The Replacements (Fotoreportagem)

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21h45 – Sun Kil Moon

No Palco Pitchfork Mark Kozeleck subia ao palco como Sun Kill Moon, e trazia com ele o guitarrista dos Blind Zero, Vasco Espinheira, com quem já tinha mesmo tocado em digressão.

O motivo da visita foi o celebrado «Benji», álbum editado em 2014, e pelo meio, o músico chama ao palco a «amiga» Yasmine Hamdan, que durante a tarde tinha atuado no Palco ATP para um dueto do clássico «I Got You Babe», de Sonny & Cher, com o qual a cantora não estava – pelo menos aparentemente – familiarizada. O resultado foi um dueto trapalhão.

Em mais ou menos uma hora, Kozelek fez uma apologia do desespero na interpretação gritada de canções como «Ben’s My Friend», «Dogs», «The Possum», ou «Carissa», como quem folheia, angustiado, um diário com as pequenas histórias que juntas fizeram uma vida.

As recentes polémicas trocas de palavras de Kozelek – que atirou insultos a uma jornalista em palco, e está em guerra com Adam Granduciel, do projeto The War On Drugs – não foram esquecidas pelo próprio. Com piada, o músico disse a meio do concerto: «quem é a banda que está a atuar e a perturbar o meu concerto? Estou a brincar, estou a brincar!».

Sun Kil Moon não autorizou a recolha de imagens do concerto

 

22h45 – Spiritualized (fotoreportagem)

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23h – Belle and Sebastian

Passar do concerto de Sun Kil Moon diretamente para Belle and Sebastian, é como experenciar de repente dois pólos absolutamente opostos. Se Sun Kil Moon foi angústia e desespero na interpretação de histórias do dia a dia, os Belle and Sebastian são festa e amor mesmo quando o tema é a falta dele. No Palco Super Bock, a banda deu um dos concertos mais sorridentes e bonitos do festival.

«Girls In Peacetime Want To Dance» (as raparigas em tempo de paz querem dançar) é o nome do álbum que os escoceses trouxeram ao Porto, onde mostraram que não são só as tais raparigas que querem dança. Com uma autêntica fanfarra folk em palco, a banda certificou-se que a partir dos primeiros acordes do novo single «Nobody’s Empire» ninguém mais parava. Nos ecrãs, vídeos divertidos e sincronizados com o tom das canções acompanhavam temas como «I’m a Cuckoo», o radiante «The Party Line», ou o ironicamente sorridente «Perfect Couples Are Breaking Up». Enquanto isso, o vocalista Stuart Murdoch esforçava-se para falar português além do habitual «obrigado», com resultados adoráveis. Foi precisamente em português que o músico contou que era «fantástico estar no Porto».

A festa só acalmou para o belíssimo «Lord Anthony», sobre um rapaz demasiado «diferente» para ser aceite na escola, e que levou o vocalista à plateia para que uma fã o maquilhasse com o propósito de borrar a pintura para efeitos ilustrativos da canção. Já na reta final do concerto, o já clássico «The Boy With The Arab Strap» foi cantado com vários membros do público a dançar com a banda em cima de palco, incluindo uma jovem vestida de elefante. Do lado de cá, não imaginaríamos melhor cenário para descrever visualmente a atuação. «Everybody is happy», cantava-se no final, em «Sleep Around The Clock». Durante aquela hora no Palco Super Bock, também nos pareceu que sim.

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00h15 – Antony and The Johnsons

Pouco passava da meia-noite quando o NOS Primavera Sound parou para ver Antony and The Johnsons. O concerto era especial, com orquestra e destaque para um filme que ia acompanhando as canções. Antony subiu ao palco, de branco, e sem destaque luminoso para a sua face, tornando-se assim «mais uma» peça no projeto audiovisual que apresentava no festival.

A experiência podia ter corrido mal, mas do que nos apercebemos, foi bem-sucedida. A plateia muito numerosa – note-se que mais nenhum palco estava ativo – distribuiu-se entre os que aproveitaram o anfiteatro para absorverem o momento sentados, e os que escolheram as primeiras filas para ver o concerto de pé. Fosse qual fosse a escolha, quase todos mantiveram o silêncio de respeito perante a performance, rompendo em aplausos no final de cada música. Não há muitos festivais onde isto pudesse acontecer, e é sempre um prazer presenciar as experiências que o NOS Primavera Sound proporciona.

As canções, essas foram as mesmas que percorrem a carreira de Antony. Frágeis no formato, mas com força acrescida pelos arranjos clássicos, destacam a sua voz única. «I Am The Enemy», «I Fell In Love With a Dead Boy», «Blind», «You are My Sister», e «Hope There’s Someone» trouxeram os melhores momentos a um concerto que nos deixou com sentimentos contraditórios. Se por um lado o momento soou a intervalo anticlímax numa festa em pleno auge, por outro foi como uma experiência encantada.

Não foi autorizada a recolha de imagens do concerto de Antony and The Johnsons

 

1H40 – Run The Jewels + Jungle

A paragem para passer Antony no Palco NOS fez com que os três outros palcos do festival reiniciassem atividade ao mesmo tempo e que dois dos nomes mais fortes do cartaz se atropelassem: Run The Jewels, e Jungle.  A escolha era difícil, e por isso decidiu-se por metade para cada lado.

Comecemos pelos Run The Jewels. Normalmente, o clássico «We Are The Champions», dos Queen, chega nos jogos de futebol já depois de garantida a vitória. No caso dos Run The Jewels, a canção celebratória chega ainda antes do jogo. Tendo já conhecimento da qualidade da matéria-prima que vão levar a palco, a confiança no arranque augura tudo de bom. Não demorou muito para trazer surpresas às suspeitas, e El P e Killer Mike atiram rimas com humor e intervenção, como quem distribui jogo. «Oh My Darling Don’t Cry», «Blockbuster Night part. 1», ou «Banana Clipper» deixam uma plateia muito dedicada e conhecedora no chão, como quem acaba de ser fintado pelo Messi, mas sem a parte da humilhação, só da admiração. Antes de sairmos do Palco ATP em direção ao Palco Super Bock, ainda ouvimos El P dizer que o bilhete comprado para um concerto dos Run The Jewels dá direito a uma «corrente de ouro invisível» que cada um de nós carregará muito depois deste acabar. Saímos enquanto «Run The Jewels» cria motim saudável, e damos-lhes razão.

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Caminhada curta até ao Palco Super Bock, e quando chegamos ao concerto dos Jungle já o «circo» está montado. Plateia dançante e suada, como se quer, e o som potente a chegar dos sete músicos faz tremer o chão debaixo dos pés. Começamos por ouvir «Lucky I Got What I Want», antes de «Drops» nos envolver no funk. A atuação já estava na reta final, e é aí que chegam «Busy Earnin’», e «Time», canções à prova de cansaço, que lançaram o caos bom da dança improvisada. Irresistíveis.

 

O NOS Primavera Sound termina este sábado, com atuações de nomes como Death Cab For Cutie, Manel Cruz, Ride, ou Thurston Moore.


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