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Pólo Norte: «Temos uma geração que cresceu connosco»
Os Pólo Norte, de Miguel Gameiro, estão a celebrar 20 anos de banda, e sobem aos palcos dos Coliseus de Lisboa e do Porto para fazer a festa. Mariza, Boss AC e Miguel Ângelo juntam-se a eles em Lisboa, e Pedro Abrunhosa substitui o vocalista dos Delfins no concerto do Porto. Ao MYWAY, a banda olhou para o passado, e conta como vai ser o futuro próximo.
Os concertos têm lugar a 21 de Novembro no Coliseu de Lisboa, e 22 de Novembro no Coliseu do Porto.
Vocês vão actuar nos Coliseus neste mês de Novembro, mas têm dado alguns concertos entretanto. Isso já vos levou a pensar em fazer música nova enquanto Pólo Norte?
Miguel Gameiro: Não, para já é algo que não pensamos. Estes concertos surgem como forma de comemoração dos vinte anos de canções, 15 anos de grupo, cinco anos meus enquanto músico a solo. Essencialmente, a ideia é fazer esta celebração que temos vindo a fazer ao longo deste ano, e que culmina nos coliseus com a gravação de um DVD ao vivo, e depois fazemos o ano de 2015 em conjunto.
Estes concertos do Coliseu prometem ser especiais, o que é que têm preparado?
MG: Para já temos as canções de 20 anos, as canções que foram celebrizadas pelas pessoas, e que as pessoas conhecem, com as quais mais se identificam. Costumamos dizer que fazem parte da nossa história, mas também fazem parte da história das pessoas. Vamos ter convidados especiais, um quarteto de cordas que vai fazer alguns arranjos novos nas canções, também sopros, e a ideia é dar um cunho diferente às canções, para ser também um espectáculo diferente.
E para 2015, o que têm preparado é semelhante ao que têm feito até agora, vai ser também uma digressão em que vão estar a partilhar essas canções e histórias com o vosso público?
MG: Sim, sim. Durante 2015 faremos essa celebração, que é em si mesma a comemoração das canções. Nos aniversários nós comemoramos o tempo de vida, e nós neste caso comemoramos o tempo de vida das canções, da música, e das histórias que vivemos por este país fora.
Dessas histórias, há alguma que vos tenha marcado particularmente?
Tiago Oliveira: Há uma história que ficou marcada, talvez no início da banda, que foi uma coisa muito importante para a promoção e divulgação do grupo no início, foi uma tournée que fizemos durante um mês por Portugal inteiro. Alugámos uma carrinha – na altura uma Traffic – metemos uma tenda em cima da carrinha, comprámos umas salsichas e atum, almoçávamos à beira da estrada…essa tournée só por si engloba uma série de histórias incríveis!
MG: Foi uma tournée de rádios locais. A promoção toda foi feita a nível nacional, na altura agendámos as principais rádios do país, e estivemos cerca de um mês fora de casa junto das rádios locais, que tinham e têm uma importância muito grande na comunidade.
Em vinte anos muda muita coisa. Sentem isso quando vão agora para a estrada? É muito diferente, ou não evoluímos assim tanto?
TO: Não é tudo muito diferente, mas há mudanças substanciais, nomeadamente na produção dos espectáculos. Houve um grande avanço tecnológico, a nível de material. Eu lembro-me de um concerto na Figueira da Foz, em que no sistema de PA entravam as antenas dos bombeiros, portanto o Miguel cantava e ouviam-se os bombeiros. Hoje em dia, mesmo uma banda que esteja a começar, tem condições que nós só teríamos passado dois, três, quatro…cinco anos. Acho que essa é uma das maiores transformações no mercado musical. Como sabemos, a música portuguesa está hoje de boa saúde. Na parte dos mercados, acho que ainda nos podemos orgulhar de termos vários discos de ouro e de prata, das contagens antigas. Mudou muita coisa, agora, as canções são as mesmas. Os arranjos podem ser diferentes, mas quando são canções que marcam as pessoas, pode mudar tudo o resto, mas se a canção valer, fica.
Acham que ainda é possível começar, hoje em dia, uma carreira com vinte anos?
MG: Eu acho que sim. Quando nós começamos não podemos pensar no tempo, simplesmente começamos. Na nossa altura havia coisas que nos facilitavam a vida, havia outras que nos dificultavam. Hoje em dia, os tempos são outros, há muitos mais grupos, muito mais músicos, muito mais coisas a acontecer, muito mais oferta, até se sairmos da música e entrarmos na parte tecnológica, dos jogos, e dos vídeos, há muito mais coisas. Mas quer dizer, quando se gosta daquilo se faz, se acredita plenamente naquilo que se faz, não pensando no tempo, é tentar ser verdadeiro, passar essa verdade, e depois as pessoas avaliarão e julgarão.
O público dos Pólo Norte hoje em dia é gente nova que chegou entretanto, ou são muito as pessoas que estão convosco desde o início?
MG: É um bocadinho dos dois mundos. Temos uma geração que cresceu connosco, que é da nossa idade, e entretanto trazem os seus filhos para os concertos, e também já conhecem as canções, e temos um bocadinho desses dois mundos. Depois também quando fiz os meus discos a solo, penso que trouxe outras pessoas para o universo das canções que fazemos, e acabou por se prolongar um bocadinho o nome do grupo. Mas estou em crer que temos um público muito diversificado. Obviamente que não somos um grupo de teenagers, mas também não somos de uma faixa etária muito avançada. Acho que somos um grupo que atravessa gerações, e várias idades.
Estavas a falar dessa carreira a solo, o que é que os Pólo Norte influenciaram essa tua carreira?
MG: Influenciaram-me a todos os níveis. Quando nos juntámos para fazer o grupo, não sabíamos nada. Gostávamos de música, tínhamos guitarras, e tocávamos muito mal. Mas queríamos fazer, e dizer coisas. O meu percurso no grupo, como autor, permitiu-me aprender, crescer, e depois fazer as canções que eu gosto.
Significa então que na música é mais importante ter paixão do que ter logo um talento inato?
MG: Acho que é um pouco de tudo, mas paixão pelas coisas temos de ter. Não acredito em nada que seja bem-sucedido que não venha de dentro, que não venha da espontaneidade, e de algo intrínseco ao ser humano, seja em que área for. Acho que para sermos bem-sucedidos tem de ser muito nosso, e não pensarmos nas horas, em ensaiar até tarde, em fazer alguns sacrifícios pessoais. Claro que também terá de haver uma predisposição natural para fazer as coisas. Acho que é isso tudo junto que faz o músico, ou outro profissional de outra área.