Connect with us

RIOT em entrevista: Vêm aí as noites «Fala Baixo»

Riot
©Divulgação oficial

Notícias

RIOT em entrevista: Vêm aí as noites «Fala Baixo»

DJ Riot, dos Buraka Som Sistema, explica-nos que a rotina de um DJ/produtor/músico passa por ir ao Soundcloud, ou ao Youtube logo antes de começar a trabalhar, para pesquisar coisas novas. Algumas das «coisas novas» que RIOT descobre, mas também algumas das suas influências, vão poder ser vistas ao vivo a partir de amanhã, 13 de Fevereiro. As noites «Fala Baixo» chegam ao Musicbox, em Lisboa, com o objectivo de criar noites onde os vários géneros ligados à bass music se possam ouvir, em festas «super divertidas». Passemos a palavra a quem sabe.

 

MYWAY: Vais arrancar esta sexta-feira, dia 13 com a curadoria «Fala Baixo» no Musicbox, o que é que tens preparado para estas noites?

RIOT: Lisboa precisa de um espaço onde se possa ouvir todos os géneros de música ligadas à bass music, à cultura do baixo. Sinto que está tudo muito segmentado, ainda. Festas de Drum and Bass são uma coisa, festas de kuduro são outra, e eu acho que isso não faz sentido nenhum. É para aí dos únicos países da Europa em que isso continua a ser uma verdade. Então, achei que fazia falta um sítio destes, sempre tive essa opinião. Acabei por falar com o pessoal da Arruada, com o Pedro Trigueiro, e então acabámos por avançar com este projecto, porque faz todo o sentido. É um bocado aquilo que eu tenho visto pela Europa toda, e aquilo que eu sempre fiz, primeiro enquanto membro da Kooltrain, e depois mais tarde enquanto membro dos Buraka Som Sistema, onde sempre misturámos tudo e mais alguma coisa desde que a gente goste, e que faça sentido. Obviamente que também gosto de algumas faixas de heavy metal, mas não faz muito sentido, então na noite, estar a misturá-las. Basicamente, o que me fez querer ter uma noite «Fala Baixo» foi ter um espaço onde possa trazer artistas com os quais me identifico, e ao mesmo tempo poder tocar as músicas que me apetece (risos).

 

MYWAY: Tendo em conta a tua experiência em vários países sentes, então, que o que falta em Portugal, a nível da música, é fugir aos rótulos?

RIOT:É inevitável haver rótulos, acho eu. Todo o planeta põe rótulos nas músicas, por muito que se tente fugir a isso. O que não é inevitável, e se pode mudar, é ter uma noite onde se consuma tanto Kuduro como Drum and Bass, dubstep, como trap, como o que tu quiseres, que faça algum sentido. Os amantes da música electrónica que gostam mais desta vertente bass music não consomem só um género de música, como toda a gente. Basicamente faz sentido que uma noite seja assim também, seja super divertida. Daí também que os primeiros convidados sejam os GotSome, sejam um projecto de house que está muito ligado à bass music. Têm influências de Roni Size, até Andy C, e pessoas mais ligadas até ao Drum and Bass, e eles fazem house music. É esse o tipo de projectos que eu tento trazer cá, pessoas que misturam dentro das suas próprias produções, não só nos seus sets.

 

MYWAY: Já tens vários nomes confirmados até Abril, como é que chegaste a eles?

RIOT: O Phizix é um grande amigo meu, eu conheci-o lá fora a tocar num festival, se não me engano foi em Manchester – que é a casa dele – entretanto já temos estado juntos, já temos tocado juntos, e entre mim e o George – que é o nome dele – há aqui uma empatia musical no que diz respeito a batidas mais fora do comum. Ele, apesar de estar ligado ao Drum and Bass, se calhar não é aquele Drum and Bass que as pessoas estão se calhar mais habituadas, é muito minimalista, e isso atraiu-me, obviamente.

O Doc Scott, para quem começa a tocar Drum n’Bass no início dos anos 90 como eu, era uma referência mundial, é uma das pessoas mais importantes ligadas à Metalheadz, e depois mais tarde à editora dele – que é a 31 Recordings – na minha óptica sempre a pessoa que conseguiu ligar a parte mais melódica do Drum and Bass à pista de dança, e percebeu que as duas não tinham de estar estanques. Acho que foi um pioneiro nesse campo, conseguiu juntar a agressividade que a noite pede à beleza e melodia que a noite pode trazer.

No caso dos GotSome foi mesmo um acaso, de pesquisa de Soundcloud. Não esquecer que quase todos os DJs e músicos acordam de manhã e quando vão trabalhar faz parte da vida deles ir ao Soundcloud, ou ao Youtube, e pesquisar coisas novas. Os GotSome, dentro de uma pesquisa que eu estava a fazer mais virada para o house music, e mais para este novo darkhouse que tem aparecido ultimamente com muitas influências dos anos 90, mas com uma sonoridade mais fresca, cruzei-me com este tema, de umas pessoas que estão habituadíssimas a editar na «Defektor», que é uma editora de house clássico, mas que têm um single chamado «Vibe Out» com o Wiley, que é um MC de grime londrino, que não tem aparentemente nada a ver com nada, e está ali uma mistura que encaixa na perfeição. Isso fez-me querer trazê-los cá.

 

MYWAY: Tu estás ligado a esta cultura há muitos anos, como é que tens visto a evolução em Portugal?

RIOT: Ah, Portugal está espectacular no que diz respeito a música alternativa, e à velocidade com que as coisas chegam cá. Nós também sempre fomos um povo muito informado, eu acho. Pelo menos falo desta cultura da noite, de DJs, produção, e música electrónica. Sempre houve fãs de techno, de Drum and Bass muito antes de Espanha, por exemplo. Eu lembro-me de ir tocar a Espanha quando entrei para a Kooltrain, e os Djs, e os sets dos DJs, estavam todos quatro anos atrás em relação aos portugueses. Portanto, eu acho que somos um povo muito atento a essas coisas, ficamos bastante excitados com a novidade. Apesar de às vezes chegarmos um ou dois anos atrasados às cenas, recuperamos muito bem. Eu acho que hoje, em 2014/15, já estás ao nível das grandes metrópoles. Pelo menos falo de Lisboa, Porto, e outras metrópoles grandes tipo Guimarães, Bragança, Faro…acho que hoje em dia as pessoas ligam a Internet e vão só à procura do que saiu ontem, para serem os primeiros a postar, e a dizer aos amigos que encontraram uma coisa espectacular. Do ponto de vista de promotores e DJs, acho que a noite está espectacular, agora do ponto de vista das casas, ainda há muitas retrógradas. Há muita casa que não se desenvolve, continua a passar aquele house azeiteiro do princípio ao fim, o que interessa é vender «Sagres» e ‘tá a andar de mota. Basicamente, as casas ainda têm de apanhar alguns comboios. Depois temos a sorte de ter casas como o Musicbox, que tem feito um trabalho excelente na promoção da música alternativa.

 

MYWAY: Estavas há pouco a falar sobre como se ouvem muitas coisas muito diferentes dentro dos Buraka Som Sistema. É difícil chegar ao vosso som particular?

RIOT: É, é muito complicado! (risos) É muito complicado, mas a gente já sabe que vai ser. Somos três produtores, ou seja, três pessoas a olhar para um computador a dizer ‘ah, eu não fazia assim, fazia assado’, portanto, aprendemos ao longo dos anos a ir tomar um café na altura certa, a ir à casa de banho quando um está não sei onde, um senta-se na cadeira do produtor e outro vai beber um copo de água…tem de ser assim, engolir alguns sapos, gerir outros. Não é complicado no sentido pejorativo. É difícil, mas é um jogo de xadrez, porque tu já sabes que quando fazes uma ideia em casa, que ela vai ser completamente dissecada, e transformada noutra coisa. É como deixar um filho na escola, e saber que ele vai sair de lá com uma cabeça diferente (risos). É isso que acontece com Buraka, mas é isso que faz o som de Buraka tão eclético. O Andro (Conductor) se calhar sabe mais de sons de Kuduro e Afrohouse que saíram ontem em Angola, e eu se calhar estou mais informado sobre a cena londrina, ou do Reino Unido em geral, e o João (Branko) está sempre à procura de estilos novos na Venezuela, Caracas…aparece sempre com um estilo novo que a gente nunca ouviu na vida, e ele tem logo três ou quatro artistas!

 

MYWAY: Tens estado mais concentrado nesta vertente a solo, ou tens estado também a trabalhar com os Buraka em nova música?

RIOT: Eu estou sempre a trabalhar com os Buraka. Estou sempre a fazer música, basicamente. Sendo que os Buraka foram os pioneiros deste género novo que é o Zouk Bass, e explodiu o ano passado no underground da música electrónica, e repente já havia produtores de Zouk Bass na Rússia em menos de duas semanas, o que para mim foi incrível! Bastou fazermos aquele «Boiler Room» – não este, mas o anterior – e mostrar ao mundo aquela ideia que tínhamos tido, e de repente havia produtores de todo o mundo a fazerem Zouk Bass. Também achei que foi o final de um ciclo, porque o Zouk Bass acaba de ser à volta das 90 batidas por minuto, o são 180, que é basicamente o Drum and Bass. Ou seja, deu para conseguir juntar muito melhor do que tinha conseguido até hoje o universo Buraka com o que faço sozinho. Então, obviamente que para mim foi manteiga fazer vinte temas de Zouk Bass em quase duas semanas! Fiquei muito inspirado com todo esse movimento que estava a aparecer, e pronto surgiu o EP que eu editei pela Enchufada, o «Originator», que tem estado a ser muito bem recebido e é baseado no Zouk Bass, e que faz com que consiga passar de Drum n’Bass para Buraka, para Zouk Bass, para Anselmo Ralph se me apetecer! (Risos) O que é muito bom, é precisamente isso que eu gosto.


Mais em Notícias

Advertisement

Mais Lidas

Advertisement
To Top