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Brass Wires Orchestra: «Não temos um estilo definido»
Em Junho passado, os Brass Wires Orchestra lançaram o álbum «Cornerstone» e criaram assim um objecto físico para o que já andavam a fazer ao vivo. Passado o Verão e mais alguns concertos, fomos falar com o vocalista Miguel da Bernarda, e com o músico Zé Valério. Fizemos o balanço, projectámos o futuro e as paredes que a banda vai construir, depois de lançar a primeira pedra.
Em Junho passado lançaram o álbum «Cornerstone», mas antes disso já andavam de palco em palco. Essa experiência preparou-vos para o que veio a seguir?
Miguel da Bernarda: Sim, claro. Antes de lançarmos o disco andámos um ano e meio – quase dois anos – a tocar estas músicas em vários palcos, palcos grandes, já tínhamos essa estrada, portanto foi muito fácil.
A reacção das pessoas à vossa música antes de conhecerem o álbum era muito diferente de agora, em que já saiu?
MB: Acho que o álbum não saiu assim há tanto tempo para as pessoas saberem as letras, mas nota-se, nota-se um bocadinho a diferença.
Zé Valério: Apesar de ainda não termos tocado vezes suficientes para sentirmos muito essa diferença, nota-se, nota-se que já têm as suas preferidas, aquelas que cantam mais do que as outras.
Temos de estar satisfeitos em termos artísticos, mas depois também temos de ter noção do que é comercial, do que é que é aceitável para passar nas rádios – Miguel da Bernarda
Vocês são uma banda enorme, de dez elementos, como é que se consegue que o processo de composição não se estenda durante demasiado tempo?
MdB: Temos de ser frios, às vezes, em algumas decisões que tomamos nas direcções das músicas…
ZV: Às vezes temos de dar o braço a torcer…
MdB: Sim, temos de ser concisos, ou seja, temos de estar satisfeitos em termos artísticos, mas depois também temos de ter noção do que é comercial, do que é que é aceitável para passar nas rádios…Geralmente é uma coisa natural, tranquila.
ZV: Sim, não costuma haver muita guerra.
O facto de serem amigos fora da banda ajuda a que as coisas aconteçam com essa naturalidade?
MdB: Sim. Desde o início que gerámos uma sinergia muito grande dentro e fora do estúdio, e isso ajuda, claro. Jogamos muito melhor em equipa.
Só andar a tocar versões dos outros não nos ia completar, não nos ia deixar satisfeitos – Zé Valério
Vocês começaram a tocar na rua, e a fazer versões. Nessa altura já tinham originais, e pensavam gravar um álbum, ou isso surgiu depois?
JV: Quando começámos não tínhamos noção da dimensão que as coisas poderiam tomar, claro. Mas realmente o Miguel já tinha umas músicas, apesar de não as ter mostrado logo de início, mas acho que quando se começa a fazer uma banda com tantos elementos, se pensa em fazer uma coisa própria.
MdB: É um bocado inevitável, não é?
ZV: Somos tantos, é uma logística que não é fácil, portanto tem de compensar de alguma maneira. Só andar a tocar versões dos outros não nos ia completar, não nos ia deixar satisfeitos. A partir daí, o Miguel foi-nos mostrando aquilo que tinha, e nós fomos trabalhando.
Desde cedo tentámos adoptar uma estética muito própria, que fosse identificável, e nunca desleixamos isso. – Miguel da Bernarda
O vosso álbum e os vossos vídeos têm uma imagem muito cuidada, e trabalhada. Sentem que a vossa identidade também se faz por aí, e completa a música?
MdB: Sim, eu acho que sim. A imagem, ou a estética, é muito importante. Cada vez mais as pessoas vão tendo essa noção, que a estética nas bandas, ou na música, é quase tão importante como a música em si. Desde cedo tentámos adoptar uma estética muito própria, que fosse identificável, e nunca desleixamos isso.
Vocês trabalharam recentemente com as Golden Slumbers, que cantaram uma canção vossa, e elas já tinham feito a primeira parte do vosso concerto no Armazém F. Essa colaboração é para manter? Preveem colaborações com outros artistas?
MdB: Em Portugal há pouca colaboração entre artistas. Como é um mercado muito pequenino, as pessoas querem a sua fatia. Eu achei muito interessante o projecto das Golden Slumbers, e achei que tinha muito a ver com o nosso projecto e com o nosso estilo. Achei também que como é um estilo tão pouco desbravado ainda em Portugal, devemos manter-nos unidos, criar uma abertura de mente para este estilo. O facto de elas terem aberto o nosso concerto de lançamento foi assim um marco importante para esta continuidade com as Golden Slumbers. Nesse concerto cantaram essa música connosco, e queríamos um registo em vídeo dessa colaboração.
O nome «Cornerstone» pode traduzir-se por «pedra basilar». Agora que já lançaram a primeira pedra, já estão a preparar o que vão construir a seguir?
ZV: Já andamos a tocar músicas fora do álbum…Queremos fazer um próximo álbum, claro. Não descartando a promoção que queremos fazer a este, mas já andamos a trabalhar temas novos, a dar continuidade a isto, à pedra mãe.
MdB: Também, acho que o primeiro álbum demorou tanto tempo a sair, que é inevitável nós continuarmos a trabalhar em coisas novas, mesmo para auto-estímulo, para nos motivarmos a continuar a fazer música. Então temos algumas coisas feitas, que estamos a guardar para um próximo trabalho.
Sendo que o álbum demorou algum tempo a fazer, as canções ainda vos representam em termos de sonoridade?
MdB: Acho que sim. Há uma evolução, hoje em dia ouvimos uma ou outra música do «Cornerstone» e já não nos identificamos tanto, como já passou muito tempo. Dessa forma, estas novas que estamos a compor agora têm uma nova maturidade em termos sonoros.
Para onde é que vai o caminho sonoro dos Brass Wires Orchestra?
MdB: Não se vai distanciar muito. Temos mais elementos, ou seja, menos acústicos. Dentro do folk, vamos tentar explorar outras sonoridades. É isso, explorar, experimentar. Não temos um estilo definido, não acho que valha a pena termos um estilo definido.
ZV: Acho que as coisas vão surgindo, e nós gostamos de as tocar, gostamos de as fazer…
MdB: Independentemente do estilo, vai ser sempre nosso.
ZV: Exacto, tem sempre a nossa chapa lá.