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Mimicat em entrevista: «A Mimicat é a Marisa mais atrevida, mais despreocupada»

Mimicat
©Nádia Dias para o MYWAY

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Mimicat em entrevista: «A Mimicat é a Marisa mais atrevida, mais despreocupada»

Há uma nova voz na soul nacional. Marisa Mena, transforma-se em Mimicat quando faz música, e no mês em que lança o primeiro álbum, «For You», conta-nos onde encontra as histórias que conta, revela como é o processo de composição, e colaborações de sonho.

 

MYWAY: Começaste a cantar logo em pequena, quando é que decidiste que era altura de te lançares a solo, e te transformares em Mimicat?

Mimicat: Desde pequena que sou uma cantora a solo, só quando entrei para os Casino Royale é que integrei uma banda. Desde pequena que sempre escrevi letras para canções, e às tantas comecei a compor as melodias. Já com Casino Royale isso acontecia, escrevia as letras, e entretanto comecei a compor músicas para mim. Houve uma certa altura que eu já tinha tantas músicas, e queria andar com o projecto para a frente, e então já não fazia sentido para mim estar numa banda quando não me conseguia dedicar aos dois projectos a 100%, tinha que escolher um, então escolhi dedicar-me ao meu, e começar a tratar de produzir o disco.

 

Não consigo escrever só sobre o que se passa na minha vida porque felizmente não tenho grandes desgostos nem grandes dramas, a minha vida é feliz, não consigo ter nada assim muito dramático para escrever. 

 

MYWAY: Lançaste este mês o teu primeiro álbum, chamado «For You». Estas canções têm dedicatória?

Mimicat: Têm! Algumas delas são explicitamente sobre a minha relação com o meu namorado, e sobre a nossa vida, e a nossa história. As outras são vivências que não são directamente pessoais, são através de pessoas que me são próximas. Eu não consigo escrever só sobre o que se passa na minha vida porque felizmente não tenho grandes desgostos nem grandes dramas, a minha vida é feliz, não consigo ter nada assim muito dramático para escrever. Então, acabo por me aproveitar um bocadinho das histórias dos outros, e sentir um bocadinho a dor dessas pessoas. Isso acabou por acontecer, e foi assim que apanhei a maior parte das ideias para as músicas que estão aí, e mesmo para as outras que vou compondo.

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MYWAY: Só consegues escrever sobre os dramas e as dores?

Mimicat: Não só. A única música mesmo feliz que tenho no disco é a «Song For You», que é assim mais catita e mais alegre. O «Somebody Else» também é uma música positiva. A maior parte delas tem uma mensagem positiva por trás da dor, e por trás do drama. Ou seja, mesmo que conte a história das outras pessoas, colocando-me no lugar delas, provavelmente teria a atitude que está referida nas canções. Então, eu falo sobre a desconstrução das relações, e a forma como as pessoas se afastam, mas depois também tenho algumas que falam sobre a forma como eu me sinto próxima da pessoa que está comigo. Acaba por não ser propriamente pensado, sabes? É o que sair, e o que a canção me disser na altura. Eu costumo dizer que o primeiro verso da letra é o que me diz o que a canção vai ser. O «Tell Me Why», assim que me saiu o «You gotta tell me why» eu pensei logo, ‘bem, isto é mesmo uma cena de discussão’. O resto da música vem todo a partir daí, (entre risos) eu tenho uma imaginação relativamente fértil.

 

O primeiro verso da letra é o que me diz o que a canção vai ser

 

MYWAY: Partilhas precisamente uma versão do «Tell Me Why» com o Tatanka dos The Black Mamba, como é que surgiu essa colaboração?

Mimicat: Nós temos o mesmo manager, e na altura o meu manager perguntou-me: ‘estás a gravar o disco, queres ter convidados, queres ter participações?’, e eu nem sequer tinha pensado nisso, mas eu já gostava tanto de ouvir o Tatanka cantar, e gostava tanto dos The Black Mamba, que disse: ‘olha, se tiver de ser, que seja com o Tatanka, que é a única voz masculina em Portugal que eu admiro neste momento’, não é que seja a melhor, mas é a que faz mais sentido para mim ter no meu disco. Ele foi um querido, aceitou, e fez o trabalho excelente que está no disco. Foi um excelente contributo da parte dele.

 

MYWAY: Há alguma colaboração de sonho, que tenhas?

Mimicat: Ah, tenho várias! (risos) Acho que assim a que gostava mais, assim de repente, é com o Jamie Cullum, depois com o John Legend. Em relação a mulheres, gostava muito de fazer com uma miúda nova que é a Lianne La Havas, que é fantástica, gostava muito de fazer com a Gill Scott, também…na verdade eu não sou muito esquisita nisso! Desde que eu goste do tipo de pessoa, e do tipo de artista, venha quem vier…as participações são experiências muito positivas. Acabas sempre por aprender alguma coisa com aquela pessoa. Ainda por cima, quando a canção é tua, aquela pessoa traz sempre alguma coisa de novo à canção, e isso acaba por ser sempre interessante.

 

Há situações em que a melodia sai, e sai a letra, e eu tenho de largar imediatamente o que estou a fazer, e ir a correr para gravar e escrever

 

MYWAY: Voltando um bocadinho às letras, eu li em várias entrevistas tuas que as melodias te surgem de repente, no dia-a-dia, como é que é com as letras?

Mimicat: Há situações em que a melodia sai, e sai a letra, e eu tenho de largar imediatamente o que estou a fazer, e ir a correr para gravar e escrever, e às vezes estou ali duas horas ou três – foi o máximo que já estive, acho eu – até conseguir fazer a letra toda, e a música toda. A maior parte das vezes é que a música surge-me, e surge-me um tema. Tem que me sair uma frase qualquer, e quando me sai essa frase, normalmente eu deixo-a estar um bocadinho, e depois vou pensar sobre ela. Acaba por ser muitas das vezes o apanhar de vivências de pessoas que me são próximas, e direcionar naquele sentido.

 

MYWAY: Sendo esse processo tão espontâneo, e tão ligado ao dia-a-dia, já tens mais canções prontas?

Mimicat: Eu já tenho o segundo disco feito! (risos) Quer dizer, não está feito porque não está produzido, mas já tenho mais músicas do que as suficientes para um disco novo!

 

MYWAY: Como é que fazes para reduzir essas centenas de ideias que vais tendo?

Mimicat: A maior parte delas não são boas, portanto, das centenas de ideias que eu tenho, descarto a maior parte. Na verdade, eu consigo seleccionar aí umas vinte que acho que são boas o suficiente. Depois, o que tenho de fazer é pensar quais são as mais fiéis a mim, e ao que estou a tentar representar – e essa parte é difícil porque as músicas, sendo minhas, é tipo deixar um filho de lado – mas acaba por não ser muito difícil porque tens de procurar a parte prática: o que é que funciona melhor, o que é que o disco precisa…sei lá, há uma música no disco que já estávamos no processo de gravação quando a fiz. Já não estava para ir, mas ainda foi. Podia ter ido buscar alguma das antigas, mas não, tirei uma antiga para colocar essa.

 

MYWAY: Já deste alguns concertos de apresentação deste trabalho, a Marisa já se sente confortável na pele da Mimicat?

Mimicat: A Marisa sempre se sentiu confortável na pele da Mimicat. A Mimicat é a Marisa mais atrevida, e mais despreocupada. A Mimicat não tem tantas preocupações como eu tenho no meu dia-a-dia. No meu dia-a-dia tento ser o mais encaixada possível, não é? É o que toda a gente tenta, não ser demasiado excêntrico. Enquanto Mimicat, posso ser, a parte livre de mim é a Mimicat.

 

MYWAY: Sentiste que tinhas de assumir esse papel para poder enfrentar o palco e as luzes todas à tua volta?

Mimicat: Tens mesmo que ser aquilo que não consegues ser no dia-a-dia, e acho que é por isso que os artistas são artistas, porque conseguem extravasar coisas que normalmente não se consegue. Uma pessoa que tenha um trabalho das nove às cinco, se fosse excêntrico era despedido, provavelmente. Os artistas têm sempre essa liberdade no palco, e o palco é um lugar onde não há grandes preconceitos, podes ser aquilo que quiseres. Mesmo na escrita das canções, a Marisa e a Mimicat fundem-se. Eu costumo dizer que a Marisa é a pessoa que escreve as canções, e a Mimicat é quem as interpreta.

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