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Afonso Pais em entrevista

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Afonso Pais em entrevista

Desde sempre, Afonso Pais junta a música à natureza. Agora, a  inspiração transformou-se num disco que pretende ser muito mais do que isso. «Terra Concreta» junta a guitarra do músico a nomes como Luisa Sobral, Joana Espadinha, Rita Maria, Beatriz Nunes, ou Albert Sanz, em canções gravadas no meio do campo. Falámos com Afonso Pais, que nos explica que o projeto não vai ficar por aqui.

 

MYWAY: Como é que surgiu a ideia de gravar um álbum no meio da natureza?

Afonso Pais: Surgiu casualmente, porque desde pequenino que faço viagens à natureza com os meus pais. Depois continuei a fazer, e como sou músico levo sempre uma guitarra acústica mais velha que tenho em casa, e costumo sempre tocar nessas viagens. Um dia percebi que a acústica era especial, e decidi usar um gravador muito específico, que as televisões costumam usar nos documentários sobre vida selvagem. Então, comecei a fazer experiências gravações na natureza, e a partir daí fiz o disco.

 

MYWAY: A natureza foi desde sempre uma inspiração para compor?

Afonso Pais: Sim sim, mesmo.

 

MYWAY: De que forma é que isso se traduz nas canções?

Afonso Pais: É difícil porque é uma correlação um bocado abstrata, mas posso dizer-te que…não sei, acho que não é uma particularidade minha – nem minha enquanto músico – acho que é uma particularidade da nossa espécie: o campo induz em todos nós tranquilidade, ou em e a quem não induz tranquilidade induz o oposto, mas induz-nos sempre qualquer coisa, porque ao fim ao cabo nós temos cá toda a matéria de quando vivíamos na natureza. Portanto, não é tanto de que forma molda a música que eu faço…mas molda definitivamente. Eu não sei dizer de que forma é, mas é de várias formas, dependendo do sítio, dependendo do espírito…

 

MYWAY: Como é que foram escolhidos os sítios para as gravações?

Afonso Pais: Então, foram os parques mais emblemáticos, e os lugares onde nós conseguimos arranjar forma de – por exemplo, no caso do Gerês – levar um piano. Depois foi também a procura dos sítios mais remotos, mais distantes da civilização. Passou sempre primeiro por um processo de ir ao lugar, perceber qual é o som natural, a paisagem sonora, e alguns dos maiores parques nacionais estão no disco.

 

MYWAY: Conhecias todos estes lugares antes de lá ires gravar?

Afonso Pais: Quase todos. Não conhecia, por exemplo, o «Terra Internacional», que eu acho muito bonito, quase na fronteira com Espanha. São todos muito diferentes, uns mais arborizados, outros mais áridos…as paisagens são realmente muito diferentes. Nós temos um país muito pequeno, mas com paisagens muito diferentes, e com animais também diferentes.

 

MYWAY: As músicas foram gravadas em cada sítio porque se adaptavam a ele?

Afonso Pais: Sim, sim, completamente. A música foi composta com um determinado sítio em mente, e com determinado convidado ou convidada em mente. É assim uma combinação de três variáveis. Depois é engraçado que isso reflete-se também nas próprias gravações, que têm sempre três variáveis: Dois músicos, e o terceiro elemento que é a participação dos pássaros, e dos elementos.

 

MYWAY: A natureza foi vista como o terceiro elemento numa banda?

Afonso Pais: Sim, sim! Influencia completamente os tempos de início, de fim, os compassos de espera…às vezes nós parávamos, e só recomeçávamos quando ouvíamos um canto específico. Nós gravámos para aí dez versões de cada música, muitas saíram mal por causa do vento, questões meteorológicas, ou por causa das mãos frias, mas nós sabíamos sempre qual era a versão que queríamos, e identificávamos pelo lugar em que o pássaro fazia determinado canto. Faz completamente parte do take.

 

MYWAY: Ia precisamente chegar à parte dos músicos. Como é que escolheram estes convidados?

Afonso Pais: São pessoas que eu conheço, e que eu sei que têm um certo tipo de sensibilidade à influência que o meio envolvente pode ter na música que se faz. Uma coisa é ser um músico profissional, competente, e capaz de fazer uma gravação boa e em pouco tempo, mas eu precisava mais do que isso e todas as pessoas que convidei sabia que iam aceitar. Sabia que iam vir comigo, mesmo tendo consciência que podíamos ter de voltar lá, como aconteceu com quase todos, e ao fim ao cabo encarar isto como uma experiência descontraída, tranquila, e simples que no fundo o disco é. Não é uma coisa frágil. É uma coisa exposta no aspeto musical, é uma coisa crua, mas ao mesmo tempo simples. É o conceito de pegar numa guitarra, e cantar com uma voz, seja onde for, sem amplificações.

 

MYWAY: Como é que vai ser feita a apresentação ao vivo de um álbum destes, que é tão específico, e tão trabalhado?

Afonso Pais: Não estou, para já, preocupado em fazer tudo assim como se fosse um disco de estúdio. Acho que vão ter de ser encontradas as circunstâncias certas em que não haja compromisso nem do meu lado, nem do lado da pessoa que contrata. Nós fizemos uma pré-apresentação em Monsanto, que correu muito bem, com o piano em cima da areia, e Lisboa ao fundo. A natureza também está nas cidades, e é preciso saber em que condições isso acontecerá. Quando isso acontecer, terá de ser com as condições ideais.

 

MYWAY: Mesmo a capa do álbum é toda muito trabalhada tendo em conta o contexto em que foi gravado. Vai ser sempre assim?

Afonso Pais: O que é importante que as pessoas sintam quando ouvem o disco – e o objeto também é muito importante por isso – é que tudo aquilo que estão a ouvir era aquilo que estava a acontecer no momento em que estávamos no meio do campo. Como digo, existem jardins, espaços nos arredores, e no centro de Lisboa, em que acho que é bem possível isso acontecer. Não estou é com o tipo de pressa que teria com outro tipo de disco que teria um circuito muito mais mainstream de concertos, ou festivais. Tenho um cartão de visita, e um projeto ongoing. Acho que vou querer continuar a fazer as gravações nas reservas, e ir disponibilizando os clipes na minha página.

 

MYWAY: Este projeto não se esgotará, então, neste álbum?

Afonso Pais: Não, não. O álbum foi, para mim, a prova de que é possível fazer um álbum nestes moldes. Eu lembro-me que para mim foi marcante na minha adolescência o «Unplugged», da MTV, porque as bandas estavam ali a tocar sem qualquer tipo de artifícios, no fundo é a possibilidade mais próxima que temos de perceber como é que o músico compôs. Para mim, este projeto para mim, não tem nada a ver com o unplugged, mas tem a ver com essa parte acústica, mas também com a parte da crueza com que a música é exposta à natureza, e a natureza é exposta à música. Este disco é a primeira representação física disso, mas sempre que tiver oportunidade e um concerto num sítio qualquer que fique perto de uma reserva, vou tentar fazer com que seja isso, um projeto ongoing.


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