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Jimmy P: «As coisas à minha volta aconteceram muito rápido»

Jimmy P
©Divulgação oficial

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Jimmy P: «As coisas à minha volta aconteceram muito rápido»

O título do novo álbum de Jimmy P vai direto ao assunto: «FVMILY F1RST», a família primeiro, é o lema do músico, e é da família que se rodeia para fazer música. Entre a família entendida como todos os amigos / irmãos que o acompanham desde o início, ao público que o apoia desde o primeiro minuto, Jimmy não esquece no seu discurso quem o acompanhou antes das luzes apontarem para ele, e é sobre a sua importância que fala em conversa com o MYWAY. Na semana em que oferece concertos em estações ferroviárias pelo país, o músico revela ainda detalhes da sonoridade do álbum acabado de editar, do porquê da independência na música, e de escolher a recém-estreada editora de Fred (Orelha Negra, Banda do Mar, 5-30) para lançar o novo trabalho.

 

MYWAY: Acabaste de lançar um álbum chamado «FVMILY F1RST». É o teu lema?

Jimmy P: Sim. Acho que não é tão diferente daquilo que tinha feito no meu primeiro disco. Simplesmente o que aconteceu é que na altura do verão houve algumas mudanças na equipa que trabalha comigo, e nas pessoas que gerem a minha carreira. Ou seja, a equipa e o círculo ficaram ainda mais pequenos, e no fundo o título deste disco tem a ver com isso. Enquanto no primeiro tinha muitas pessoas de fora a participar – tive muitos convidados, muitos produtores, trabalhei com vários engenheiros de som – neste não. Provavelmente o único convidado de fora que existe é o Agir, que eu convidei porque queria trabalhar com ele, e de resto são tudo pessoas que fazem parte do meu ciclo de amigos.

 

 

MYWAY: Porque é que sentiste essa necessidade de reduzir ainda mais o núcleo à tua volta?

Jimmy P: Isso tem a ver com o meu percurso, sabes? As coisas à minha volta aconteceram muito rápido. Depois de eu lançar o meu primeiro disco, começaram a acontecer muitas coisas – tive a oportunidade de fazer bons espetáculos, bons festivais, bons palcos – inevitavelmente isso atraiu muitas pessoas que queriam trabalhar comigo. Infelizmente, nem todas elas estavam aqui com a mesma motivação que nós (risos). Por isso é que, mais ou menos em julho, tive a necessidade de reformular a equipa que trabalhava comigo e, lá está, deixar de trabalhar com algumas destas pessoas. Daí é que vem esse título, agora somos muito menos, mas em contrapartida sem quem são as pessoas que trabalham comigo, porque são pessoas que eu conheço desde que comecei a fazer música, quando ainda ninguém me conhecia. São essas pessoas que continuam comigo, que passaram todas essas etapas comigo. Isto foi um processo de maturação e de limpeza natural, que acabou por culminar nisto. Para além daquilo que se faz na gestão da minha carreira, a postura é exatamente a mesma em estúdio: são as pessoas que me estão próximas, os produtores, os músicos, as pessoas que estão comigo desde diariamente a trabalhar, são as pessoas que se envolveram neste disco também.

 

Decidi focar-me nos estilos pelos quais eu sou verdadeiramente apaixonado, que é o rap e o RnB. Este disco é assumidamente um crossover entre esses dois estilos

 

 

MYWAY: Consegues ter distância em relação ao trabalho, trabalhando com pessoas que te são tão próximas?

Jimmy P: Sim, porque nós sempre fizéssemos isso. O meu percurso tem muito a ver com isso. O que sustenta o meu percurso e a minha carreira são estas relações humanas entre as pessoas. Para nós é um bocado difícil dissociar as duas coisas, porque inevitavelmente elas estão ligadas, mas também há alturas em que tens de ser pragmático e perceber que há coisas que estás a fazer que não estão a resultar. Felizmente temos essa frieza, essa capacidade de nos elevarmos acima da amizade, e perceber quando é que as coisas estão a funcionar ou não. Neste meu novo disco incluímos doze temas, e gravámos perto de 19 faixas, portanto ainda houve ali uma seleção relativamente àquilo que tinha qualidade suficiente para entrar no disco ou não. Felizmente conseguimos fazer essa seleção natural, e ficaram só os melhores temas. Apesar de termos essa relação, conseguimos abstrair-nos dela para poder trabalhar e sermos pragmáticos no que estávamos a fazer.

 

 

MYWAY: Disseste que aconteceu tudo muito rápido na tua carreira. Estavas preparado para isso?

Jimmy P: Bom, não sei se estava preparado. Não estava era à espera que as coisas acontecessem tão rápido. Imagina, eu passei de ser um artista que fazia uns concertos nuns botecos para 100 / 150 pessoas, para um artista que de repente começou a atuar para três mil, cinco mil, seis mil pessoas, e isso foi uma coisa natural e não foi premeditada. O que aconteceu é que tivemos que nos ajustar e tivemos que nos adaptar a essa realidade, porque é uma realidade que nós não conhecíamos. Quando estás nesses circuitos o profissionalismo é outro, as pessoas trabalham de maneira diferente. Não é como nesses sítios onde eu ia, em que levava o meu DJ, metíamos uns beats e eu fazia os meus sons sem pressão nenhuma. Acho que a pressão é muito maior, tendo em conta que estás perante muito mais pessoas. Agora, nós também trabalhámos para chegar a esses sítios, não estávamos era à espera que acontecesse tão cedo. Por exemplo, se não me engano em outubro ou em novembro, ganhámos aquele prémio do Portugal Festival Awards, e acho que isso no fundo ilustra bem aquilo que está a acontecer. Em primeiro lugar nunca houve nenhum artista do universo cultural do hip-hop a ganhar um prémio desses, e em segundo lugar é um prémio de «Melhor Performance ao Vivo», isso também significa que desde aí temos vindo a desenvolver um bom trabalho, que as pessoas estão atentas àquilo que estamos a fazer, e consideram que merecemos estar ali. Apesar de termos uma estrutura independente, estamos a trabalhar ao nível dos artistas grandes e que têm grande capital à disposição para fazer acontecer coisas maiores. Portanto acho que estamos a competir nesse nível, o que é muito bom.

 

 

MYWAY: Existe pressão para manter essa fasquia neste álbum?

Jimmy P: Ya, definitivamente, e o desafio era conseguir fazer um disco melhor do que o primeiro, que acho que conseguimos, claramente até. Pelo menos, pela reação das pessoas, parece que conseguimos fazer um disco melhor. Acho que o objetivo quando fazes música, quando estás a investir na tua carreira é precisamente esse, conseguires sempre acrescentar valor àquilo que estás a fazer, e fazer coisas melhores do que aquelas que já fizeste. O objetivo é sempre acrescentar, subir degraus, e não o contrário.

 

 

MYWAY: Quais é que sentes que são as maiores diferenças a nível de sonoridade entre o teu primeiro trabalho e este?

O meu primeiro disco, porque tinha muitos intervenientes, tinha muitos universos musicais distintos. Ou seja, tu conseguias encontrar no disco todas as influências que me definem – ou seja, toda a música que eu gosto de ouvir – mas tendo o rap como forma de expressão. Neste aqui, eu decidi focar-me nos estilos pelos quais eu sou verdadeiramente apaixonado, que é o rap e o RnB. Este disco é assumidamente um crossover entre esses dois estilos, e é uma coisa que eu já tinha vontade de fazer há algum tempo, simplesmente não me sentia suficientemente confiante para o fazer. Achei que estava na altura, até aqui vinha fazendo alguma demos, experimentando algumas coisas, e sentia-me confortável nessa praia, não é? Decidi arriscar e fazer esse crossover porque é o que eu gosto de fazer, e no universo da black music é o que eu gosto de ouvir também.

 

Fui abordado por todas as editoras grandes em Portugal para lançarem o meu disco, só que eu percebi que a maior parte dessas pessoas não percebem a nossa linguagem.

 

 

MYWAY: Este disco é um dos primeiros, senão o primeiro, da editora «Kambas”», do Fred Ferreira (Orelha Negra, 5-30, Banda do Mar…). Esse encontro também veio por amizade?

Sim! Eu conheci o Fred no verão do ano passado, e na altura conversámos, falei sobre os meus projetos, ele falou-me sobre as coisas que estava a fazer, e nem sequer havia a ideia dessa editora. Foi muito engraçado, porque ele veio ter comigo e disse-me: «olha eu sou o Fred dos Orelha Negra, não sei se tu conheces», e eu tipo: «não, não sei quem é o Fred dos Orelha Negra!» (risos) Ele é uma pessoa super humilde, super afável, e falámos de música. Nessa altura, o meu percurso começou a chamar a atenção de várias editoras, tanto que eu fui abordado por todas as editoras grandes em Portugal para lançarem o meu disco, só que eu percebi que a maior parte dessas pessoas não percebem a nossa linguagem. Eles não sabem o nosso percurso, não sabem o que nos motiva a fazer música, não sabem quem é o nosso público, são pessoas que estão fechadas nos escritórios e não sabem nada do que se passa no terreno. O Fred tem essa vantagem, para começar é músico, é um músico que faz parte desta cultura do hip-hop, e percebe melhor do que qualquer outra pessoa, as lutas que nós travamos para poder executar determinado tipo de trabalhos. Foi aí que começou essa colaboração. Mais tarde, e foi depois do Sudoeste que as editoras todas começaram a carregar, queriam marcar reuniões connosco e começaram a enviar os possíveis deals  – recusámos todos porque nenhum deles tinha a ver com aquilo que nós procurávamos, e sentimos um bocado que eram as pessoas a apoderarem-se daquilo que tínhamos construído – e foi aí que entrou o Fred. Ele montou essa editora percebendo as lacunas que há no mercado, e acima de tudo a linguagem e as necessidades de artistas independentes como eu. Foi aí que nasceu a relação profissional, que antes disso é uma relação pessoal. Trata-se de alguém por quem eu tenho imenso apreço, é uma pessoa da qual eu gosto muito, e é provavelmente das pessoas que mais apoiou este novo disco. Tentamos encontrar um meio-termo que fosse vantajoso, e beneficiasse toda a gente. Fizemos convergir os esforços todos no mesmo sentido, e acho que é uma parceria que está a resultar, não me via a fazer isto com mais nenhuma editora.

 

 

MYWAY: Vais dar alguns concertos de apresentação em estações de comboios, como é que surgiu essa ideia?

Não vou estar aqui a inventar, o que nós queríamos fazer era uma apresentação de álbum como todos os artistas fazem: alugar uma sala tipo CCB, Musicbox, ou Casa da Música, e fazer a apresentação do disco aí. Só que eu tenho a sorte de poder tocar o ano todo, e isso permite-me estar em contato com as pessoas regularmente. O que eu percebi é que muitas vezes, apesar de ires a muitos sítios, há muitas pessoas que não conseguem ir aos teus concertos por causa do momento que o país está a viver, há muitas pessoas que não têm poder de compra, e para quem faz muita diferença dar 10 ou 15 euros para ir ver um espetáculo. Então, sempre que eu tenho um concerto recebo imensas mensagens de pessoas a dizerem: «olha, sei que estiveste na minha cidade mas não pude ir ver o teu concerto porque estou sem dinheiro, estava mesmo à rasca»…quando estava a falar com o meu manager disse-lhe que sentia a que era importante de estar mais próximo das pessoas. Apesar de tu poderes fazer bons festivais, e bons palcos, muitas vezes não consegues estar com as pessoas que foram lá para te ver, as pessoas que apoiam verdadeiramente a tua música. Tu tens uma massa de pessoas, mas só algumas são verdadeiramente apoiantes da tua música. Se por um lado a Internet é uma ferramenta super importante para a nossa promoção, também acabou por afastar um bocado as pessoas, e tornar isto da música um pouco impessoal. Da música e não só, também as relações. Então, achei por bem sugerir – e foi ideia do meu manager fazer isto nas estações de comboio – oferecer concertos a essas pessoas. Não dava para fazer em todas as cidades, porque é um investimento considerável, mas decidimos fazer em algumas das cidades onde eu tenho mais público: Braga, Porto, Coimbra, e Lisboa. Isto é uma oportunidade de ofereceres o concerto às pessoas, e além dos concertos disponibilizares o teu tempo para estares lá com elas. Ou seja, é tudo aquilo que não podes fazer quando vais aos outros sítios todos. Isto no fundo é uma forma de tu retribuíres o apoio que as pessoas te dão. Eu tenho noção que o público que me segue tem uma importância fundamental na minha exposição e no meu percurso. Se não forem eles a passarem a palavra, e a fazerem esse buzz todo…se és um músico e não tens ouvintes, és um músico inexistente. Tenho perfeita noção de que essas pessoas são o ingrediente essencial na minha carreira, e foi de forma a retribuir esse apoio que nós arquitetámos esta iniciativa.

 

Jimmy P atua de forma gratuita a 4 de Março na Estação Ferroviária de Coimbra A, e a 5 de Março na Estação Ferroviária do Rossio.


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