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Mazgani: «Todos os discos são um processo de aprendizagem»
Há quem diga que há canções que salvam vidas. Mazgani concorda, «sem dramas», com «Lifeboat» recria algumas das canções que lhe deram «sentido aos dias». Falámos com ele sobre o processo de recriação, e de como tornou suas as canções que eram de outros.
«Acho que todos precisamos desses espaços de silêncio, recolhimento, de reencontro, dessa solidão escolhida»
MYWAY: Estás a lançar um álbum chamado «Lifeboat», que inclui versões de alguns músicos que admiras. Essas canções salvaram-te a vida?
Mazgani: Sem drama, posso dizer que sim. Deram sentido aos meus dias, acompanham-me e são, digamos, quartos que habito, lugares que habito. É uma casa, se quiseres, uma casa confortável. Acho que todos precisamos desses espaços de silêncio, recolhimento, de reencontro, dessa solidão escolhida. Todos nós precisamos disso de alguma forma.
MYWAY: Ao interpretares canções que salvam vidas, e que servem de «porto seguro», tens noção que também estás a trazer isso a outras pessoas quando cantas?
Mazgani: Isso é a melhor coisa que pode acontecer. Não sei se acontece, mas neste pequeno trajeto, talvez as experiências mais gratificantes foram algumas palavras que amigos com que me cruzei, ou pessoas que nos tocaram, e que me disseram: olha, a tua canção, ou o teu disco, ajudaram-me a ultrapassar este ou aquele sarilho. Isso é a melhor coisa que me pode acontecer, é ter utilidade para alguém.
MYWAY: Estas músicas também foram escolhidas pela importância dos autores na tua vida, ou foi pela influência das músicas por si?
Mazgani: Acho que na maioria dos casos os autores também são importantes, sendo que poderá excecionalmente um ou outro autor ter-me interessado mais por uma ou outra canção.
MYWAY: Foi difícil escolher as canções?
Mazgani: Desde que oiço música que pensava: «bom, gostava de ter escrito esta canção, gostava de cantar esta canção», etc. Portanto, a lista seria infindável, e a escolha difícil. Tentei escolher canções que eu achei que podiam casar, de alguma forma, esteticamente, ou que eu podia de alguma forma ajustar para que houvesse um fio condutor que ligasse as canções tematicamente.
MYWAY: Elas tornaram-se tuas assim que as cantaste, ou foi difícil fazer com que ganhassem um pouco da tua identidade?
Mazgani: Eu acho que é preciso conviver com as canções, é preciso digerir, é preciso conviver com as palavras, é preciso percebê-las, senti-las, saber que peso têm, até sentir que estou a contar a história com a autoridade que ela merece. Isso requer envolvimento.
MYWAY: O processo de criação é tão complicado como o processo de recriação?
Mazgani: Eu acho que a exigência é a mesma. Se quisermos dar a nossa versão das coisas, partimos para as canções como se fossem nossas. Acho que a exigência é a mesma, acho que é justo dizer que é a mesma coisa.
MYWAY: Demoraste muito até chegar aqui?
Mazgani: Não foi moroso, da decisão à feitura do disco não demorou muito tempo, mas isto de não demorar muito tempo foi relativo…normalmente em mim são muito lentas. Acho que foi rápido para os meus parâmetros, mesmo assim demorou algum tempo. Gravámos muitas canções em poucos dias, porque queríamos gravá-las ao vivo, e queríamos gravá-las juntos. Nesse sentido foi muito rápido.
MYWAY: Significa isso que em palco as canções vão ser muito semelhantes ao que está no disco?
Mazgani: Eu espero sempre que cresçam, espero sempre que adquiram novos significados. Assim como é preciso digerir as canções para as gravar, é preciso tocá-las, também. É preciso ir convivendo com elas no palco, para elas adquirirem novos significados, e depois tocar com intuição, no sentido de nos ouvirmos, de irmos fazendo perguntas novas, dando respostas novas, e as canções irem mudando de noite para noite.
MYWAY: Os concertos vão contar com este disco na íntegra?
Mazgani: Eu diria que eventualmente o grosso do repertório se centrará neste disco, e que vou revisitar músicas dos discos anteriores.
MYWAY: Sentes que este trabalho também te trouxe uma nova forma de fazer as coisas daqui para a frente?
Mazgani: Eu espero que sim, porque todos os discos são um processo de aprendizagem, e isso envolve olhar para as coisas com atenção, e com a atenção vêm novas coisas. A atenção eventualmente traz o vislumbre de novas possibilidades, e novos caminhos para explorar. É sempre uma prece que venham mais canções, e é malhar na coisa, trabalhar.