Connect with us

Miguel Ângelo em entrevista: «Respiro a cultura da Pop desde pequenino»

Miguel Angelo com a mãe na capa de «Segundo»

Notícias

Miguel Ângelo em entrevista: «Respiro a cultura da Pop desde pequenino»

«Segundo» é o mais recente álbum de Miguel Ângelo, e conforme dita a lógica, sucede a «Primeiro». O nome, diz-nos, não tem apenas a ver com questões numéricas, mas sim com uma trilogia que agora vai a meio. É sobre as influências do passado e do presente nas novas canções, a estética, ou a importância das canções que falamos.

 

MYWAY: Lançou recentemente o álbum «Segundo» em vinil. O formato CD está acabado?

Miguel Ângelo: Para mim está (risos). Acho que é uma questão de pouco tempo, nós temos vindo a notar um decréscimo muito grande mesmo semana a semana nos topes de vendas das lojas. Neste caso nem foi só isso. Obviamente que isso pesou, mas eu acho que a ter uma edição física – e porque este disco tinha uma capa muito especial – queria que fosse editado num formato um bocadinho mais nobre, e que desse mais visibilidade à foto, ao design gráfico, etc. Também, o vinil é algo que nos faz obrigatoriamente ter mais disponibilidade para ouvi-lo, há aquele ritual de pôr o disco, ouvir, ler as letras, levantar para virar para o lado B…é um bocadinho para opor à velocidade do digital, onde eu também estou. Lancei não só o download code no vinil, mas lancei também o disco nas plataformas, até antes do vinil. Gosto de estar nos dois lados, e já que é para existir um objeto que não seja o objeto plástico do CD, mas sim um bocadinho mais interessante.

 

MYWAY: Falava dessa capa especial, que foi inspirada numa reportagem da revista «LIFE», que mostrava os músicos com as mães, também é importante para si associar essa ideia estética às canções?

MA: Sim. Eu respiro essa cultura da Pop desde pequenino, e gosto de ter essas referências. Essa reportagem é de 1971, era muito engraçada porque integrava todos os rockstars da altura nos seus ambientes mais domésticos e familiares, quase kitch. Eu não lhe chamaria kitch porque aquilo tem um lado de ternura muito grande – a mãe da Janis Joplin com o braço à volta dela, o Frank Zappa com o pai – são momentos muito engraçados, e eu achei que também queria ter um momento desses, neste caso com a minha mãe, na sala onde cresci, e agarrar as referências que a tal velocidade digital às vezes dilui tão rapidamente, para lançar este «Segundo».

 

Gosto de ouvir agora um disco novo, e depois aquilo lembra-me uma coisa qualquer antiga, e vou descobrir um disco dos anos 60, ou dos anos 70, e depois volto ao presente. Gosto muito desse ping-pong da história música popular.

 

MYWAY: Estas referências também estão presentes na música?

MA: Eu acho que sim! Eu gosto muito de um certo ping-pong que existe. Gosto de ouvir agora um disco novo, e depois aquilo lembra-me uma coisa qualquer antiga, e vou descobrir um disco dos anos 60, ou dos anos 70, e depois volto ao presente. Gosto muito desse ping-pong da história música popular. É natural que a minha música também reflita isso. Tenho influências de coisas que ouvi quando era miúdo, coisas que oiço agora, coisas que oiço agora que me fazem lembrar coisas que ouvia quando era miúdo, por exemplo (risos). Essa descoberta e redescoberta do passado é aquilo que acho que mais consistência pode dar à música pop que se faz atualmente.

 

MYWAY: Falando em redescobrir o passado, este álbum conta com uma versão do tema «O Vento Mudou», como é que surgiu essa colaboração?

MA: Quando éramos miúdos (os Delfins) lançámos o primeiro single em vinil em 1984, escolhemos para o Lado B uma versão de uma música que tinha participado no Festival da Canção em 1977 – aliás, ganhou e foi à Eurovisão – e era defendida pelo Eduardo Nascimento. Eu gostava tanto daquela canção, que acho que convenci os outros membros dos Delfins a ouvir o disco, e a deixarem de lado os preconceitos, se era música festivaleira, música ligeira, nacional cançonetismo, que era tudo o que se falava em relação ao Festival da Canção na altura, e disse: «não, mas oiçam a interpretação deste senhor, sintam o que é que esta letra está a querer dizer, e vamos lá nós tentar fazer uma versão mais moderna disto». O meu flirt com «O Vento Mudou» começou nesta altura. Depois, na altura acabei por conhecer fugazmente o Eduardo num programa de televisão onde nós fomos, e ele estava lá a ser entrevistado. Eu nunca mais me esqueço que acabou – nós estávamos a fazer playback em televisão – e o Eduardo pegou no microfone e começou a cantar por cima do playback, numa espécie de um dueto inventado comigo. Eu fiquei com aquilo na cabeça. 30 anos mais tarde, devido a um espetáculo que fiz de celebração dos meus 30 anos de carreira, e de achar que devia ter convidados comigo em palco, pensei: e se eu tentasse descobrir o número de telefone do Eduardo Nascimento, e falar-lhe? No fundo ele foi a primeira pessoa que me influenciou diretamente como intérprete, e foi incrível, porque a resposta dele foi logo positiva, e ele ficou super entusiasmado. O convite não foi para o disco, foi para o espetáculo, só que eu vi que ele estava com uma voz fantástica, estava tão entusiasmado, as pessoas reagiram também, que olhámos um para o outro e pensámos: se calhar isto merecia um dueto. Houve uma resposta tão positiva da parte dele, que nem pensei duas vezes e avancei.

 

MYWAY: Li também que a nova versão do «Só eu te posso ajudar» também surgiu através dos concertos…

MA: É, a nossa vida são os concertos! (Risos) Todas as mudanças na indústria levaram a que fossem outra vez as rotas dos concertos a coluna vertebral da carreira de um músico. Portanto, o mais importante para mim são as tournées, os concertos, estar perto das pessoas a tocar. Os discos são um bocado o motivo para podermos fazer essas tournés. É natural que os discos sejam eles também influenciados pelo que acontece no espetáculo. Eu tinha as canções do «Primeiro», tinha alguma dos Delfins que sabia que queria tocar, e queria mais material que não fosse só dos Delfins. Lembrei-me desse disco que gravei nos anos 90, onde tinha duas canções da banda-sonora de um filme do Leonel Vieira – o «Zona Jota» – e disse: «vamos criar aqui um momento, já que estamos numa tourné de teatros mesmo íntimo, uma coisa muito despida, muito crua, só de voz e guitarra», e foi isso que aconteceu. Tocámos essa noite, e a partir daí tocámos todas as noites. Daí foi o passo para gravarmos a versão 2014 do «Só eu te posso ajudar» da mesma maneira simples e direta que tocámos ao vivo.

 

MYWAY: Este disco chama-se «Segundo» e sucede ao «Primeiro». É uma questão numérica, ou uma continuação do que foi começado com o anterior?

MA: É uma trilogia. É um bocado à cinema, não é? É uma trilogia que eu prometi quando comecei a carreira a solo a seguir aos Delfins, fazer o «Primeiro», «Segundo», e «Terceiro», todos muito à volta das guitarras e das canções, desta arte antiga de escrever canções, e aperfeiçoá-las. É uma fase que gosto muito, estar ali meses à volta de uma canção, é um trabalho artesanal que eu gosto muito. Esta trilogia que eu prometi, é digamos uma base para um cancioneiro a solo que eu possa ter para dar espetáculos ao vivo onde não dependa tanto das canções dos Delfins, e dependa mais do que eu faço atualmente.


Mais em Notícias

Advertisement

Mais Lidas

Advertisement
To Top