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Noiserv: «O meu empenho nos concertos tem sido sempre o mesmo»

©Vera Marmelo

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Noiserv: «O meu empenho nos concertos tem sido sempre o mesmo»

Noiserv lançou este mês o seu primeiro DVD: «Everything should be perfect even if no one’s there». Ao MYWAY, revela de que forma o título reflecte o lema para todas as suas actuações, e explica o porquê de ser esta a altura ideal para o lançamento.

 

MYWAY: Estás a lançar o DVD «Everything should be perfect even if no one’s there». Esse título aplica-se aos teus concertos? Deve estar tudo perfeito, independentemente de quem assiste?

Noiserv: Sim, a ideia do título do DVD vem precisamente daí. Hoje em dia tenho tido mais sorte, as salas têm estado quase sempre cheias, mas ao princípio – e acho que todas as bandas passam um bocadinho por isso – há sempre aquela luta de montares tudo, teres um trabalho enorme, e depois estão três ou quatro pessoas. Eu sempre tive essa ideia de que, independentemente do número de pessoas que estejam, ou do género de pessoas que estejam, deves sempre fazer o teu melhor. Então achei que, quando estava a fazer um DVD, ou seja, uma ideia que era de registar um concerto, que esse lema que tenho tido para quase todos os concertos fazia sentido ser tipo a marca do DVD.

 

MYWAY: De que forma é que os teus concertos mudaram, desde que tinhas três ou quatro pessoas na audiência, até agora, que enches salas?

Noiserv: Acho que o meu empenho nos concertos tem sido sempre o mesmo. Como já tenho muito mais concertos, tenho muito mais capacidades de lidar às vezes com algum problema que esteja a acontecer. O número de pessoas que estão a ver influencia-te sempre um bocado, e põe-te mais ou menos nervoso, e com tantos concertos tenho tido mais capacidade de contornar isso. Portanto, consigo, independentemente de estarem dez, ou mil pessoas, se calhar tocar da mesma forma. Essa parte é mais ou menos parecida. Acho que poderei estar a tocar melhor as coisas, também, porque como já tenho vários anos de concertos, as coisas vão melhorando.

 

MYWAY: No formato Noiserv estás sozinho em palco com vários instrumentos, e objectos adaptados. Conseguiste logo habituar-te a trabalhar dessa forma?

Noiserv: Sim, o Noiserv começou logo sozinho, não era é com tantos instrumentos. Primeiro era só com guitarra, depois foi guitarra e um teclado, guitarra e dois teclados, depois guitarra e três teclados, e as coisas foram aumentando. Se começasse logo de raiz com isso tudo, se calhar o choque ia ser maior. Como a coisa foi crescendo…estava habituado àquele número, e pus mais um, habituei-me a isso, e pus mais um, e fui crescendo assim.

 

Se calhar, até ter editado este disco novo, achava que não tinha músicas suficientes para conseguir fazer quase como um best-off, ou um concerto ser por exemplo com várias músicas que as pessoas conhecessem.

 

MYWAY: Porque é que decidiste que era esta a altura para lançar um DVD?

Noiserv: Isto tem mais a ver com a questão das músicas, ou com a questão dos discos que já tenho. Se calhar, até ter editado este disco novo, achava que não tinha músicas suficientes para conseguir fazer quase como um best-off, ou um concerto ser por exemplo com várias músicas que as pessoas conhecessem. Acabaria por ser um concerto muito focado no primeiro disco, ou no primeiro disco com mais uma ou duas do EP a seguir. Senti que este disco até acabou por ser o que mediaticamente teve um boom maior, e achei que agora fazia sentido, e conseguia tirar 3 ou quatro músicas do primeiro disco, duas ou três do EP, e mais umas quantas do último, e então fazer quase um apanhado dos momentos que eu acho mais importantes nestes dez anos.

 

MYWAY: Sentes que estas músicas também são as que se adaptaram melhor a quem tu és ao vivo, ou essa evolução de que falavas também teve a ver com a forma como compunhas?

Noiserv: O primeiro EP de 2005 é muito diferente das coisas que vieram a seguir. O próprio disco de 2008 é menos complexo do que este, e ao vivo, as músicas que toco do primeiro disco também são mais simples. Acho que é agora neste último que ao vivo tudo faz mais sentido, e tudo fica mais preenchido, mas acho que as do primeiro, ou pelo menos aquelas que escolhi para meter no DVD, também têm alguma complexidade que faz sentido, mas são claramente mais simples do que as mais novas.

 

MYWAY: Porque é que escolheste esta sala?

Noiserv: Isto tem a ver com o teatro em si. Em todos os concertos que tenho feito, vou passado por várias salas, mais modernas, mais antigas, salas que são apenas um espaço que depois se torna um sítio de concertos, mas tenho apanhado muitos teatros, muito bonitos, com 100/150 anos, que foram reparados há vinte anos, ou menos tempo. Então, quando pensei que queria gravar alguma coisa, ou ficar com um registo, achei que esse registo não devia ser só das minhas músicas, mas a sala onde eu estava ser também algo que para mim, enquanto pessoa que está a tocar, fosse uma coisa bonita de se ver. Tinha de ser uma sala dessas mais antigas. Pensei em várias hipóteses, e tens teatros desses mais antigos que são muito grandes, e este de Ponte de Lima acabou por ter o tamanho ideal para aquilo que eu queria fazer. Depois, como eles foram todos muito prestáveis, acabou por ser aí que fiz.

 

Numa sala de concertos – embora sejas só um, e não é um estádio nem um pavilhão Atlântico – as pessoas acabam por estar a uma distância de dez metros de mim, e como eu tenho instrumentos muito pequenos, há certas coisas que acabam por não conseguir ver. Eu queria que essas músicas que elas já viram ao vivo, as pudessem ver do sítio de onde eu estou a tocar.

 

 

MYWAY: Este DVD representa um concerto típico teu, ou foi especial para ser lançado?

Noiserv: A minha ideia foi um bocadinho quase fazer um registo parecido com o que têm sido os concertos com este novo disco, portanto toco músicas do novo, mas vou buscar algumas mais antigas que acho mais importantes. Numa sala de concertos – embora sejas só um, e não é um estádio nem um pavilhão Atlântico – as pessoas acabam por estar a uma distância de dez metros de mim, e como eu tenho instrumentos muito pequenos, há certas coisas que acabam por não conseguir ver. Eu queria que essas músicas que elas já viram ao vivo, as pudessem ver do sítio de onde eu estou a tocar. Então não fazia sentido serem coisas completamente diferentes, e músicas que eu nunca tinha tocado. Quem já viu um concerto se calhar já as viu ao vivo, mas tem aqui uma forma de as ver mais perto ainda.

 

MYWAY: Já estás na estrada há alguns anos, tens notado muitas diferenças nas salas, a nível de qualidade e quantidade?

Noiserv: Acho que, até da experiência que tenho de tocar lá fora, que Portugal está muito bem servido mesmo da parte técnica. Primeiro, há esta questão de haver salas muito bonitas de dimensões pequenas, e não é só os coliseus para 6 mil pessoas, como existe lá fora. Consegues fazer uma tournée pelo país todo em salas de 100, 200, 300 lugares, sempre em teatros bonitos, e não é só o teatro ser bonito, está tudo muito bem equipado. Se calhar no princípio, mesmo princípio, em que tocava em bares, e em salas que não eram salas de concertos, não tinha tantas condições. Desde os últimos, para aí, cinco anos que tenho tido a sorte de apanhar sempre salas com muito boas condições, e sempre técnicos que sabem muito bem o que estão a fazer. Acho que Portugal tem muito boas condições.

 

MYWAY: Lançaste o «Almost Visible Orchestra» no ano passado, e já este ano o «Diffraction/Refraction» com os You Can’t Win, Charlie Brown, já pensas em nova música para Noiserv?

Noiserv: Eu estou sempre a pensar em nova música, mas este ano foi realmente um ano muito cheio de muitas coisas, tanto concertos meus, como com os Charlie Brown, como o disco com os Charlie Brown, e mesmo a preparação do DVD foi uma coisa que durou algum tempo. Portanto, apesar de ter já algumas ideias, ainda não consigo ter assim certa uma data para fazer as coisas, ou uma data para ter as coisas terminadas. Tenho assim umas cinco ou seis ideias pequeninas, mas que ainda nem sequer me dizem bem qual é o rumo que vão ter.

 

MYWAY: Nem sabes se vais voltar a aumentar a complexidade?

Noiserv: Mais complexidade acho que é difícil, porque eu sinto que o último atingiu um nível em que mais do que aquilo depois também não seria confusão a mais. Não sei se a solução não será despir mais as coisas, em vez de estar a complicar mais. Mas lá está, depois de ter os rascunhos feitos é que consigo perceber: ‘esta música aguenta com mais 90 pistas como as do disco, ou faz sentido ser só assim?’ Só depois de ter as músicas fechadas é que vou conseguir perceber isso. Não sei ainda bem.

 

MYWAY: Quando estás nesse processo, não pensas em como é que as músicas vão ficar ao vivo?

Noiserv: Sim, acabam por ser dois processos diferentes. Há o processo de fazer a música, e depois o processo de pegar naquela música que já está gravada, e depois saber como é que eu vou conseguir desmanchar tudo para conseguir tocar ao vivo. Automaticamente, como sou uma pessoa só a compor as coisas, esta ideia de loops e de serem pequeninos segmentos que se vão repetindo, na minha cabeça, a composição também é assim. Portanto, quando passo para o ao vivo, à partida já sei que como alguns segmentos se repetem, vai ser fácil eu ouvir depois com os loops, e conseguir fazer isso. Mas são realmente dois processos diferentes. Há músicas que não consigo tocar ao vivo uma versão fiel à que está no disco, e acabo por não tocar essas músicas por isso mesmo. Por isso se à partida pensasse no tocar ao vivo, essas músicas acabariam por não existir, e acho que também é importante que existam.


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