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Old Yellow Jack: «A energia que tentamos ter ao vivo, depois transparece para as músicas em estúdio»
Com o EP «Magnus» ainda fresco, os Old Yellow Jack são os mais recentes representantes da vaga de psicadelismo nacional. Sem pausa para descanso, a banda soma concertos e já prepara um novo álbum. Fomos falar com eles, e só Henrique Costa faltou à chamada.
MYWAY: Vocês lançaram recentemente um EP, serve de apresentação para o álbum que aí vem?
Todos: Nem por isso.
Filipe Fonseca: Já estamos a trabalhar no álbum, e é bastante diferente, mas acho que o Guilherme é a melhor pessoa para falar disso.
Guilherme Almeida: Não (risos). É diferente, acho que já evoluímos como banda, começámos a ouvir coisas diferentes. Acho que as partes mais pesadas do álbum são mais pesadas, e o que é mais calmo e mais bonito, também é mais bonito do que no EP.
Filipe: É mais de extremos.
Guilherme: É mais de extremos, mas às vezes na mesma música.
MYWAY: Já vão começar a apresentar músicas do novo álbum ao vivo?
Filipe: Já, já! Há músicas do álbum que são mais antigas do que as do EP.
Guilherme: Nós não temos qualquer respeito pela ordem. Se a música está acabada, vamos a isso!
MYWAY: Quando compõem é, canção a canção, não estão preocupados com o conceito, com um álbum?
Filipe: Agora estamos mais.
Guilherme: Acho que como as músicas estão a sair todas muito mais seguidas…
Filipe: Naturalmente acaba por sair coeso.
Guilherme: Há também um universo de coisas técnicas que dão azo a que haja um som mais coeso. Estamos a tentar fazer coisas um bocadinho diferentes. Há uma coesão natural, não muito pensada.
MYWAY: Estavam a dizer que começaram a ouvir coisas diferentes entretanto, o que é que começaram a ouvir que não ouviam antes?
Miguel Costa: Eu não acho que tenhamos começado a ouvir coisas diferentes…
Guilherme: Sei lá, continuas a ouvir algumas influências do EP tipo Kurt Vile e Mac DeMarco? Quer dizer, eu ainda gosto, mas há aquelas bandas que uma pessoa gosta imenso, e depois vê ao vivo e fica tipo: ‘ok, arrumei!’. MacDeMarco e Kurt Vile gostei imenso, mas não é uma coisa que oiça com muita frequência.
Filipe: Agora estamos à espera que os Metallica voltem a Portugal, que é para arrumar também. (risos)
Guilherme: Eu sempre ouvi muito Pavement, por exemplo, ou Parquet Courts, só agora é que começámos a ouvir a sério, e acho que vai ter uma influência maior. Até coisas diferentes, tipo St. Vincent…
Filipe: Kendrick Lamar
Guilherme: Sim, e também coisas que não têm nada a ver e que podem transparecer de maneiras que nós não pensamos. Eu e o Henrique – eles também, mas em menor grau – começámos a ouvir hip-hop do nada, aconteceu, e também tenho ouvido muita eletrónica…
Filipe: E Metal Moçambicano também! E não estou a gozar. Há bocado com os Metallica estava a gozar, mas agora não estou.
MYWAY: Estavam a falar sobre as músicas novas nos concertos. A vossa identidade ao vivo também influencia a forma como compõem?
Guilherme: Sim, sim. Por exemplo há um cover que nós tocamos sempre, e que tem sempre boa reação do público, uma dos The Oh Sees, que se chama «Sweet Helicopter», quando nós começámos a tocar não tínhamos nada tão agressivo como aquilo, mas percebemos que funcionava. Percebemos: ‘ok, as pessoas reagem bem a isto, se calhar podemos puxar’…
Miguel: Não nos estamos a tornar uma banda de Metal, tenham calma!
Guilherme: Os The Oh Sees não são uma banda de Metal…
Miguel: Eu sei, estou só a dizer que não nos estamos a tornar uma banda de Metal
Guilherme: A energia que tentamos ter ao vivo, depois transparece para as músicas em estúdio.
MYWAY: No meio de tantas influências, conseguem definir mais ou menos o vosso som para quem não ouviu?
Miguel: Rock.
Guilherme: Mas é que rock puxa para coisas tipo Foo Fighters, e Guns N’Roses, e coisas desse género, não tem nada a ver. Acho que é Indie Rock no sentido americano da expressão, não no sentido inglês de Arctic Monkeys, nem Bloc Party, nem nada disso. É um termo muito mais abrangente, por exemplo, Pavement no primeiro álbum é muito mais noise-pop, mas também é um psicadelismo, surrealismo das letras e das estruturas estranhas. Acho que há todo um universo psicadélico em Pavement, e nessas bandas mais…há uma palavra que eles usam muito, e que não sei qual é a tradução, que é «sprawl», é espaço….músicas que lembram um bocado aquelas grandes planícies norte-americanas. É esse género de psicadelismo que existe no Indie norte-americano, que é muito mais aberto e diversificado….
Filipe: O Guilherme é americano por dentro. Ericeirense, como somos todos, mas americano por dentro.
O vosso som é intencional, ou vocês compõem o que sentem?
Filipe: É o que der na gana
Miguel: É o que dá
Filipe: Quer dizer, se vier uma coisa muito fora…há um filtro, mas não é…
Guilherme: Não é tipo: ‘agora vamos fazer um álbum americano’. Acontece. Acho que é orgânico.
Já têm muitos concertos marcados para os próximos tempos?
Guilherme: Está um bocado em aberto, e isso é uma coisa que nós gostamos. Por exemplo, o Mexefest foi uma surpresa, tipo duas semanas antes não fazíamos ideia…
Filipe: O Guilherme até chorou!
Guilherme: Não fui eu que chorei, foi o Miguel que chorou! Estão-me sempre a difamar, em todas as entrevistas.
Filipe: Os americanos também choram!
Guilherme: Há sempre surpresas, e confirmações para coisas que não estávamos à espera, por isso vamos anunciando. O Filipe é o nosso baterista / manager, e ele está sempre a congeminar e a conspirar, por isso vamos ver.
MYWAY: Têm falado muito sobre esse concerto do Mexefest, mesmo em outras entrevistas que vi vossas, foi assim tão marcante?
Todos: Foi!
Guilherme: Foi o maior e melhor concerto que nós demos!
Filipe: Não se chora por acaso, não é?
Guilherme: No outro dia passei na parte de trás do S. Jorge, e foi tipo uma nostalgia gigante! Foi um momento marcante, sentimo-nos parte…
Filipe: Da comunidade musical portuguesa.
Guilherme: Sim, da comunidade musical portuguesa, não éramos só aquela banda de putos que toca nos bares às vezes.
Filipe: E fizemos um amigo! O Éme.
Guilherme: Sim! Grandes fãs…mas foi uma experiência espetacular, não tínhamos tido nada como aquilo!