Paulo Gonzo em duetos na MEO Arena: Carrossel multicultural

Paulo Gonzo actuou este sábado na MEO Arena, em Lisboa. O nome do espectáculo era simples e auto-explicativo: «Duetos ao Vivo», baseado precisamente no álbum com o mesmo nome, e que juntou o cantor a outros músicos, em reinterpretações de canções dos convidados. Não fora a ausência da espanhola India Martinez, e ninguém teria faltado à chamada. Falaram-se várias línguas, entenderam-se através das canções.

Quando Paulo Gonzo sobe ao palco pela primeira vez, ainda vem sem convidados, mas «apenas» com banda, e regressa às raízes para «So Do I», primeiro single que o cantor lançou a solo, depois de ter iniciado a carreira com a Go Graal Blues Band. Os «blues» ainda voltariam, pela voz de Rui Reininho, a quem Gonzo chamou o «melhor escritor de pop nacional de todos os tempos» (por cá, achamos que não está longe da verdade), e também de «minha flor». O músico interpretou «Coisas Soltas (These Foolish Things)», colaboração original dos músicos, que contou também com o falecido Bernardo Sassetti na composição original.

Até aos blues de Reininho, ainda aconteceu muito. Já Paulo Gonzo tinha cantado «Teimoso» com alguns tons a soar a Steve Tyler, dos Aerosmith, já Jorge Palma tinha subido ao palco para deixar Gonzo acompanhado enquanto este cantava o clássico de Palma, «Só», e tínhamos viajado a Cabo Verde, para cantar «Negra» com Tito Paris.

Ao longo de mais de duas horas, Gonzo foi recebendo os convidados nas cadeiras para o efeito, servindo vinho do Porto aos senhores, e uma rosa às senhoras. A primeira a ser recebida, e também a primeira a não falar português, foi Tammy Payne, cantora britânica ainda desconhecida por cá, e com quem Paulo Gonzo interpretou «Talk To Me Instead». Se Tammy Payne foi a primeira a não ter o português como língua-mãe, não foi a última. O italiano Mario Biondi, com voz a soar a Joe Cocker, cantou «Woman Woman», depois de Paulo Gonzo o ter colocado ao nível de Eusébio e James Brown no que à admiração diz respeito. Do México veio Carlos Rivera, para cantar «Fascinación». Perdoem-nos a piada básica, mas foi precisamente isso que o cantor provocou num público feminino indiferente ao seu nome, mas não à sua figura. A canção partilhada acabou por ser um dos melhores momentos do concerto.

A velocidade a que vão sendo apresentados os músicos faz com que o tempo passe rápido. Entre conversas e curiosidades, Fafá de Belém, mulher-espalhafato, conta como se emocionou com a canção que partilha com o músico nacional, «Vai entender», mas é já sozinho que Paulo Gonzo canta um dos seus maiores sucessos: «Jardins Proibidos». Curiosamente, o tema ganhou reconhecimento em formato dueto com Olavo Bilac. Poderíamos dizer que na MEO Arena foi apresentado a solo, mas a plateia, numerosa, serviu de segundo elemento.

O angolano Matias Damásio veio para interpretar «A Outra», os dois cantores encarnam a personagem de uma mulher amante de um homem casado. Feitos os elogios de Gonzo à roupa de Matias, e de Matias às canções do «colosso» Paulo Gonzo, faz-se seguir o carrossel.

Para o final, os mais aguardados. O entusiasmo do público pareceu-nos grande ao longo do concerto, mas é quando chega Anselmo Ralph que dispara. Assim que o cantor entra em palco, toda a plateia se levanta, antes de cantar «Ela é» em coro. O efeito é o mesmo à chegada de Ana Carolina, a derradeira convidada a cantar de rosa branca na mão. A cantora brasileira já tinha passado precisamente pela MEO Arena este ano, e na altura foi Paulo Gonzo o convidado da balada «Quem de nós dois». Desta vez, tal como no concerto da cantora brasileira, o momento foi um dos mais celebrados.

«Dei-te quase tudo» fechava o concerto antes do encore, enquanto o músico dava, de facto, tudo. Não se foram nem os dedos, nem os anéis, e Paulo Gonzo ainda regressou para o encore com «O teu brinquedo», e para a festa final com todos os músicos reunidos e um «Sei-te de cor» repetido, e recebido com os braços tão abertos como da primeira vez.