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Reportagem polaroid: Ivete Sangalo na MEO Arena
Ivete Sangalo deu na noite passada o primeiro de dois concertos em Portugal, de celebração de vinte anos de carreira. No final de duas horas de atuação, a energia era a de quem celebrava vinte anos de vida. A mulher-furacão regressou ao país que diz sentir como «segunda casa», disse-se «filha da terra», e soltou o carnaval. Sem máscara.
Os vinte anos de carreira de Ivete são vinte anos de sucesso, e por isso não é de estranhar que dispare trunfos de rajada logo no arranque do concerto. «Tempo de Alegria», «Acelera aê», «Festa», e «Sorte Grande» foram lançados em formato medley, e a partir daí Ivete não parou, e o público acompanhou-a. Do que conseguimos ver, a MEO Arena estava quase cheia, e com mais ou menos espaço, terão sido muito poucos os que não dançaram desde o primeiro ao último minuto, com poucas pausas – não que parecessem necessárias – para recuperar o fôlego. A rainha do Axé passou por «Na Base do Beijo», e em «Dançando» todos iam obedecendo às ordens de mão na cabeça, e mão na cintura.
O tempo vai passando, mas Ivete não dá ares de cansaço. Na plateia, esvaziam-se os copos de cerveja, compram-se garrafas de água, mata-se a sede e o frio que ficou esquecido com o vento das ruas lisboetas. Ali dentro era verão brasileiro, e Carnaval. Ivete, ainda a recuperar da temporada carnavalesca nos Trios Elétricos, mostrava a vontade de fazer «um carnaval no Chiado», onde se vestiria «de amarelo, no elétrico amarelo». O senão? Ivete garante que se ficasse quatro meses a preparar o Carnaval em Portugal, não caberia nas roupas, dada a quantidade de comida nacional irresistível.
A festa seguiu. Antes do momento baladeiro, foi «Levada Louca» a receber uma das maiores celebrações da noite, e Ivete dedicava o muito celebrado «Amor que não sai» aos imigrantes brasileiros em Portugal, desejando: «que a gente faça dessa pátria a nossa segunda casa». «Could You Be Loved», versão em inglês açucarado do clássico de Bob Marley mudou o tom o espetáculo, mas não por muito tempo. Depois do reggae, Ivete vestiu a Bahia no corpo e no palco, e logo chegaria «Beleza Rara», ainda dos tempos de Banda Eva, assim como, precisamente, «Eva». A viagem pelo passado continua quando ao som de «Pra Sempre Ter Você», que é acompanhado de um vídeo com alguns dos melhores momentos da carreira da cantora, incluindo as dezenas de colaborações. De Caetano Veloso a Gilberto Gil, de Alejandro Sanz a Alexandre Pires, de Maria Bethânia, de Marcelo Camelo a Roberto Carlos.
O descanso da incansável Ivete chegou com as canções de amor. Já de vestido vermelho solene e brilhante, a cantora avança para «Beijos de Hortelã», e os casais começam a juntar-se.O clímax chegou com «Se eu não te amasse tanto assim», reconhecido pelo público ao início do primeiro acorde. A meio da canção, a cantora angolana Pérola junta-se a Ivete para um bem-sucedido dueto, antes de lhe Pérola dedicar à diva brasileira «Deus te fez mulher». Depois de «Se eu não te amasse tanto assim», o público antecipava «Quando a chuva passar», e recebia-a. Tal como em todos os concertos que vimos de Ivete Sangalo em Portugal, a canção é uma das mais acarinhadas, e cantadas de telemóvel no ar e mão no peito.
Depois da calma, a tempestade regressou, e o carnaval contra-atacou. «Bota para Ferver» e «Areré», mesmo a sair para o encore, fecharam o concerto com a apoteose e a adrenalina que manteve os pés fora do chão durante tanto tempo. Já no encore, a versão em tom kizomba de «Careless Whisper» leva a Ivete do mundo a África, e nem parece que já passaram duas horas. À saída, ouvimos uns exaustos «não aguento mais» a descansar nas escadas exteriores à MEO Arena, e ficamos com a certeza de que no dia seguinte seriam muitos os que sentiriam nas pernas a adrenalina de Ivete, mas também que fariam tudo de novo. A «filha da terra» estará sempre em casa quando atua em Portugal.