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Super Bock Super Rock: o primeiro dia

©‎Tatiana Fidalgo

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Super Bock Super Rock: o primeiro dia

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Este verão, a «Música no Coração» escolheu deslocar o festival Super Bock Super Rock para o Parque das Nações, onde teve lugar em 1998. A notícia da mudança gerou reações adversas: por um lado foi vista como uma vantagem para quem não tinha oportunidade de se deslocar diariamente para a Herdade do Cabeço da Flauta (e dispensava o campismo), por outro, como uma desvantagem semelhante a uma separação romântica entre os festivaleiros assíduos e o sol, a praia, o pó, e os espaços verdes. Será este o eterno retorno do festival para o Parque das Nações?

Ontem, o festival deu o seu 21º salto e abriu as suas portas no Parque das Nações, com 4 palcos: o Palco Super Bock na Sala Atlântico do Meo Arena, o palco Carlsberg na sala Tejo do MEO Arena, o Palco EDP instalado na pala do Pavilhão de Portugal e o Palco Antena 3. Nas primeiras instâncias de abertura das portas, o clima emocional que pairou era de incerteza e reticência: desenrolava-se o processo de interiorização de mudança por parte de quem garantiu entrada no evento.

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À primeira vista, «Cellophane» seria só uma música, não um concerto. Mas os King Gizzard And The Lizard Wizard – eles e o seu grande e sononte nome – não pensam assim. Por isso, desmistificando o conceito de atuação, decidiram mostrar algo de diferente daquilo que mostraram no passado Vodafone Mexefest. Na realidade, encontrei-os nessa noite de festival, no fim de novembro, felizes e despreocupados pelas ruas da Avenida, festejando os primeiros tempos como banda a viajar pelo mundo.  Hoje, fora da cave da garagem EPAL (que serviu de palco ao primeiro concerto), o grupo australiano compôs um irrepreensível alinhamento de rock psicadélico, composto de interlúdios constantes entre os seus maiores êxitos: «Cellophane», «I’m In Your Mind Fuzz» e «Im Not In Your Mind», todos provenientes do quase homónimo álbum «I’m In Your Mind Fuzz», lançado em 2013. O dia acabava de começar, mas pelo Palco EDP o público vibrava e dançava e lançava-se em moshes sem olhar a género.

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O recinto enchia-se a medo, mas foi às 19 horas que o primeiro cabeça de cartaz atuou. O duo alemão Milky Chance fez a sua estreia musical no país. Os amigos de longa data, Clemens Rehbein e Phillip Dausch, fizeram sucesso no verão de 2013 com o single «Stolen Dance». «Sadnecessary», o seu único disco de originais, foi polido numa surpreendente atuação amigável como uma brisa, por 40 minutos que conquistaram as pessoas sem enormes esforços, apenas com a naturalidade das melodias raggae, eletrónicas e folk. Num MEO Arena composto por um pequeno aglomerado de pessoas que nem excedeu metade do espaço reservado à plateia dançante, a química entre o público a banda foi evidente. A audiência, ao contrário à norma, puxou pelos novatos, não se deixando ficar aquém ao som da batida fluente em «Sadnecessary» e ao refrão poderoso da reconhecida e livre «Flashed Junk Mind». Os Milky Chance têm um dom, o de acalmar os espíritos como um curso de água, com direito a ondas que também nos concedem mergulhos na introspeção. A voz rasgada de Clemens é uma pedra atirada contra um oceano calmo, uma rouquidão ébria, que conduz o teor temático de cada música. «A próxima música é para dançar. Gostam de dançar?», pergunta o vocalista, num convite à plateia para se desinibir com «Sweet Sun».  Já com um alinhamento de uma dezena de músicas tocadas, os Milky anunciam que vem aí a última canção e que estavam orgulhosos do primeiro concerto em Portugal. A multidão berrou, à espera do sucesso «Stolen Dance», que arrancou de seguida e agarrou os festivaleiros, que muito dançaram e cantaram no refrão. «Obrigada Portugal. Paz e Amor». Cá vos esperamos outra vez, para a próxima com novos trabalhos.

No palco EDP, às 19h45, já se antecipava uma cara cujo nome já todos ouvimos falar, pelo menos uma vez. O músico foi presença no Vodafone Mexefest de 2014 e até St Vincent já manifestou a sua afeição pelo artista, através de um tweet em que afirmava gostar muito da canção «Queen». Perfume Genius, de nome Mike Hadreas, tem pouco mais de 30 anos e já conta com três álbuns de estúdio, mas foi realmente no ano passado que obteve mais reconhecimento. É, de facto, um génio da performance. Mais que uma voz divina e um perfeito domínio do piano, Perfume Genius é um génio teatral. Apresentou-se vestido de negro, pálido, e com lábios vermelhos. Demasiado expressivo, ora encarava o público como os seus demónios, ora escondia-se deste com uma classe e delicadeza profundas, enquanto se envolvia em sussuros e cantava a olhar para o chão. Perfume Genius trouxe magia a um concerto que nos abriu portas à sua intimidade, moveu-se de modo tribal e serpenteante, ao longo  de um reportório em que assumiu a dicotomia presa-predador. Humilde e afetuoso, sem deixar de agradecer constantemente à plateia, Mike Hadreas atuou acompanhado da banda, mas também sozinho ao piano elétrico, numa atuação em que por vezes gritou num registo agudo, vergastador de agonia. Não faltaram temas como «Sister Song», «Grid», a triste balada «Hood» (ao piano), e por fim, «Queen», que arrancou a euforia geral. Perfume Genius foi senhor e Rei do palco EDP.

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No Palco Super Bock, a anteceder o clássico Noel Gallagher, os The Vaccines ficaram encarregues de assumir a pasta do indie rock. No vasto palco, o público espalhava-se e acumulava-se no sítio do costume, mas mostrava-se mais devoto e conhecedor que o que poderia ser esperado para a banda inglesa que até agora tinha obtido lugares em Paredes de Coura e outros que tais. Com uma vaga de revelações e desamores, o quarteto cativou a sedenta audiência com temas como Dream Lover, Melody Calling, ou ainda as mais celebradas Teenage Icon e If You Wanna. Na verdade, com a simples letra deste último tema, os Vaccines deixaram a promessa de um regresso para breve. If you wanna come back, it’s alright, it’s alright, it’s alright if you wanna come back… Nós percebemos e apoiamos.

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Às 22h, no Palco Super Bock, teve início Noel Gallagher’s High Flying Birds. O veterano Noel, ex-vocalista dos intemporais Oasis, lançou-se a solo em 2010 com os High Flying Birds, e contam já com dois álbuns. O MEO Arena já se encontrava cheio, principalmente nas bancadas, por uma geração mais velha que antecipava o conforto e a segurança de manter uma boa vista para Sting, que chegaria a seguir. O concerto teve direito a temas de Gallager e dos Oasis. Noel Gallager soube jogar pelo seguro, quando ao quarto tema brindou o público com um clássico dos anos dourados dos Oasis, «Champagne Supernova», prosseguindo com «Whatever» (também dos Oasis). A delícia estava feita, a saudade dos Oasis é mais que muita e Noel escolheu o alinhamento perfeito para agarrar o público. O jogo não pára, Noel é de poucas palavras e o concerto é fluído. Houve direito a, «Dream On» e «If I Had A Gun», música que Gallagher dedicou ao público, numa interpretação emotiva da canção, que tem maior sabor ao vivo, acompanhada por trompetes efusivos. De volta aos Oasis, interpretou «The Masterplan» e para fechar, deixou público saudoso com o brilhante êxito dos Oasis, «Don’t Look Back In Anger». A epicidade do momento atingiu proporções inimagináveis: o público saltou, esbracejou, abraçou a música com uma emoção revolucionária e foi dono do refrão, o qual Ghallager cedeu voz à plateia.

 

No palco EDP, uma das surpresas da noite: SBTRKT. Não pela falta do seu mediatismo, mas pela comparação com a performance menos rica com que nos presenteou na edição do ano passado do NOS Alive. Num palco menos secundário do que o do ano passado, Aaron Jerome ocupou-se das mentes do público, conduzindo a plateia com a sua eletrónica arraçada de alternativa. Se em 2011 conquistou vastos públicos-alvos com o single Wildfire, quatro anos depois afirmou-se com o ainda novo Wonder Where We Land, editado em novembro do ano passado.  apresenta um registo mais alargado e mexido. A completar êxitos bem conhecidos do passado como Right Thing To Do (com a doce voz de Jessie Ware), somaram-se temas do presente como Temporary View (com o seu “velho” amigo Sampha) ou New Dorp New York, a malha do seu novo álbum que anda a correr as rádios pela voz de Ezra Koenig, dos Vampire Weekend.

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Sting fez as honras à casa, num espetáculo que teve uma ode triunfal na recepção. Às 11h30, o espaço do MEO arena estava quase lotado, sobretudo as bancadas. As gerações de 60 e 70 acomodavam-se, os mais novos dançavam em pé. O inconfundível baixo de «If I Ever Lose My Faith In You» deu aso a um espetáculo que fez jus à lenda que é Sting, que se apresentou com uma barba farpuda e com um físico bem trabalhado. «Every Little Thing She Does Is Magic», da sua antiga banda (The Police) catapultou o público para a a dança, mas a conquista (quase desnecessária), estava feita com «Englishman in New York». «…be yourself, no matter what they say» foi a frase que ecoou em bis, que contou com a ajuda das palmas do público- as palmas mais ribombantes deste primeiro dia do festival. Sting, como de costume, agradeceu em português e afirmou estar muito feliz por se encontrar ali. Seguiu-se «So Lonely» e um interlúdio que incluiu a conjugação da improvisação jazz e do funk. «When the World Is Running Down, You Make the Best of What’s Still Around», cantou Sting. «Heavy Cloud No Rain» teve um início em acapella e brindou-nos com umas luzes de blues. Saudámos as raízes do raggae com «Walking Down The Moon», dos Police, ofuscada por «Message In a Bottle», que desencadeou o tumulto nas diferentes gerações. A mensagem foi bem apreendida e absorvida num engarrafado MEO Arena. O violino teve um grande papel neste espetáculo e liderou, num interlúdio experimental, o combate quase improvisado entre a música mais clássica e o jazz. Para finalizar, ouvimos «Roxanne» dos The Police, banhados por uma luz vermelha, com uma cover de Bill Withers pelo meio: «Ain’t no Sunshine». «Every Breath You Take» e «Fragile» finalizaram o concerto.

Texto por Catarina Soares e Joana Canela
Fotografias por Tatiana Fidalgo

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