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Super Bock Super Rock: o 2º dia
O segundo dia do festival teve uma lotação maior que o anterior. Não se sabe se foi pelo facto do cartaz do dia prometer mais rock, ou por ser sexta feira. A verdade é que, à noite, foi difícil arredar pé, por culpa do palco Carlsberg, templo de instrumentais de hip hop, electro swing e dubstep através dos resfolegados Gramatik. Com um início mais tardio que o dia anterior, o Palco Super Bock foi a arena de luta para o rock de várias nacionalidades, gerações, e diferentes histórias de luta. Se com The Drums, o indie rock, tatuado de influências pop, aqueceu o ritmo para o longo dia, com a habitual sintonia de Sérgio Godinho e Jorge Palma os espíritos foram acarinhados . Os dEUS, oriundos da Bélgica, para muitos uns intrusos mas com fãs de culto próximos do palco, aqueceram devidamente para a loucura que só viria de madrugada: Blur. Pois foi à uma da manhã, com a chegada dos Blur, que a visão desfocou num clímax de praticamente duas horas, numa euforia que valeu mais que a pena. O Palco EDP teve muitos adeptos e fez concorrência destemida aos primeiros nomes do Palco Super Bock Super Rock, com o pianista esfinge Benjamin Clementine ou as pulsações selvagens que emanaram das Savages.
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A contrariar os eventos do dia anterior, o segundo dia do Super Bock começou com uma plateia preenchida, quadradinho a quadradinho, logo às 6 e meia, no Palco EDP. Benjamin Clementine, o compositor londrino com historial de emigração em Paris, roubava a clientela dos outros palcos, concentrando, debaixo do mesmo sol moribundo, centenas de olhos vidrados na sua música. Mas na verdade, Benjamin lançou só este ano o seu primeiro álbum, At Least For Now. Foi um longo percurso desde os tempos de jovem desamparado nas ruas de Londres e Paris até aos palcos de inúmeras outras capitais. Ontem, em Lisboa, Benjamin Clementine chorou com a sua voz sofrida e apaixonada, desabafando poeticamente com o seu timbre grave e sério em temas como Gone, London ou Nemesis. É o alcance da sua voz que lhe confere este estatuto dito único, mas a sua expressividade em palco foi capaz de assegurar um contacto visual e espiritual constante com a sua devota e focada audiência, num dos concertos mais íntimos do festival.
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Às 21h50 o MEO Arena é o lar de Jorge Palma & Sérgio Godinho, a dupla de camaradas e amigos que nos brindou com a sua típica espontaneidade. São incontáveis as vezes que o nosso povo já teve oportunidade de os ver, quer tenha sido num registo de festival, em concerto único, ou em festas de Norte a Sul. Os músicos, há muito enraizados no panorama musical da música portuguesa, possuem uma cumplicidade inerente, ao interpretar temas clássicos do trabalho individual de cada um. Poetas e comandantes do sonho revolucionário, a dupla da música de intervenção portuguesa guiou um concerto repleto de juventude na plateia em pé, que mostrou conhecimento da maioria das letras. Sérgio Godinho fez questão de frisar a importância da união: «Juntos», enfatizou várias vezes. O espetáculo arrancou com «Lá em baixo», tema de Sérgio Godinho, que foi mestre na guitarra, com a banda de acompanhamento e um pano rôxo de fundo. Sucede «Mudemos de assunto», um dos sucessos do novo milénio de Sérgio Godinho, em dueto com Jorge Palma. É notável a destreza amigável que sobressai das duas vozes e é impossível, num espetáculo destes senhores, não embarcar num suave meneio sem ficar com um brilhozinho nos olhos e sorriso no rosto. Os corações aqueceram-se com «Dá-me Lume», de Jorge Palma, seguido do afável «Minha Senhora da Solidão» ao piano. Sérgio Godinho deixou a mensagem que também» é preciso ver a história pelo lado negro e parte para «Os Conquistadores», que arrecadou uma gigante salva de palmas. O alinhamento prosseguiu com «O Elixir da Eterna Juventude», uma versão funky de «Frágil», «Só», uma versão acústica de «Terra dos Sonhos», «A Noite Passada», «O Acesso Bloqueado» e «Deixa-me rir». Mas é «Portugal, Portugal», de Jorge Palma, que mais uma vez ofusca os outros temas, devido à intensidade que transporta. A dor das vicissitudes da história do nosso país, em comparação com o seu estado atual, é bem representada. «Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida», canta Godinho e a multidão, no refrão de «O Primeiro Dia». Os últimos temas foram o alegre «Liberdade» e o sereno «A gente vai continuar». Decerto que vamos, fica a promessa no ar. Este concerto deixou-nos a sensação de um abraço apertado, de união, que é o primeiro passo para a liberdade.
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Em 2013, no ano do lançamento do seu álbum de estreia, Silence Yourself, as Savages passaram pelo Primavera Sound e pelo Vodafone Mexefest. No ano seguinte, marcaram ainda presença no Hard Club, no Porto, para um concerto que a vocalista não deixou de relembrar com carinho, assumindo, neste regresso, a saudade de um dos seus públicos favoritos. E agora, à medida que os concertos avançam no tempo, vai-se compondo também um alinhamento com músicas e mais músicas novas, órfãs de álbum. O “difícil segundo álbum” das quatro meninas do post punk inconformado continua a ganhar forma e os seus traços são negros e carregados. Em palco, quatro feras de instrumentos em punho, exorcizando os fantasmas de um público vibrante e exaltado, que descarregou assertivamente as más energias com a fúria instrumental de temas como Husbands, Fuckers, I Am Here ou She Will. O amor é recíproco, Jehnny, voltem rápido com o vosso álbum prometido.
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Os Blur foram magnânimos e sem dúvida o regalo da noite. O BritPop voltou em força e os Blur são a prova que 26 anos de carreira e trabalhos novos não diminui o fanatismo da legião de fãs, que preenche diferentes gerações. Em duas horas de concerto, o imparável Damon Albarn, que se divertiu como uma criança no natal, foi o protagonista da histeria conjunta de milhares de jovens (a maioria entre os 20 e 30 anos), que saltaram, cantaram e improvisaram moshpits mesmo durante os temas mais calmos. A banda chegou a atuar mais de 20 temas. A introdução do espetáculo realizou-se com uma melodia macabra, característica das carrinhas que vendem gelados: o palco estava decorado com gelados de cone (da capa do último disco, «The Magic Whip»), cujas luzes neon reluziram durante o espetáculo e três bolas espelhos decoravam a parede. Damon é divertido, expressivo e assume um comportamento indígena ao encarar os fãs e jogar à mímica com eles. Sem dúvida, um deleite visual e sonoro. Para abrir, «Go Out», do último trabalho da banda, causou a histeria geral na plateia, que «abriu as goelas» e lançou-se ao ar. «There’s no Other way», um dos sucessos dos anos 90, levou à loucura geral. Porém, foi durante «Lonesome Street» que Damon se jogou para a plateia, quase a ultrapassar a barreira de segurança e a mergulhar no público. Não faltaram os clássicos «Coffee and TV, «Beetlebum» e temas de um reportório que contempla oito álbuns. Em «Tender», Damon apela à ressonância de «Oh, my baby, Oh, my baby, Oh, why? Oh, my» e obteve a melhor resposta do público, que após um longo tempo deixou estas palavras dissipadas no ar, mas permanentes na memória pós-concerto. A pouco mais de metade do espetáculo, Damon convida um jovem fã para ao palco para cantar Parklife. O rapaz, que não quis ceder à separação de um abraço com o seu ídolo, vibrou de alegria e vivenciou um momento que irá acampar sempre nas portas da lembrança. «Song 2» deu o sinal verde para a destruição em forma de um campo de batalha de encontrões e para um estado naturalmente ébrio. «For Tomorrow» é a penúltima canção e «The Universal» não poderia ter sido melhor escolha para terminar o espetáculo, para uma audiência que não queria largar o amor que estava a receber.
Amanhá há mais e já estamos com saudades.