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Super Bock Super Rock: o último dia

©‎Tatiana Fidalgo

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Super Bock Super Rock: o último dia

A primeira impressão é um dos fatores decisivos na opinião que se forma sobre algo, mas é a última recordação dessa mesma coisa que vai determinar a percepção final. A imagem que nunca nos sairá da mente será a da atuação triunfal de Florence and The Machine, que permitiu assim uma retirada vitoriosa do Super Bock Super Rock da rota dos festivais. Os números dizem que cerca de 20 mil pessoas passaram pelo último dia do festival, esgotando a capacidade do recinto, algo que não aconteceu nos restantes dois dias, que começavam a meio gás para depois encherem para os cabeças-de-cartaz. Mas ontem foi o dia da banda prometida. E um dia de cartaz cheio.
 

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Vi Rodrigo Amarante por três vezes já, e a última foi ontem, mas foi também a minha primeira vez em missão jornalística. Desejei muito ter posto já em palavras o significado de um concerto deste moço brasileiro, mas a oportunidade não surgiu e só ontem me foi incumbido esse papel. Por isso, talvez as minhas palavras mais bonitas tivessem ficado para os dois anteriores – não por terem platonicamente ficado por escrever – mas porque as duas atuações a que tive a sorte de assistir tiveram uma dose de intimidade muito superior à do espetáculo no MEO Arena, que ali se apresentava em modo festival. Assim como grande parte do público, que alegremente conversava como se não estivesse num concerto onde o silêncio interpreta o papel principal. Amarante, sorrindo sempre, fixava o público como se ele o fixasse de volta, e cantava-nos apaixonado temas do seu álbum de estreia «Cavalo», alternando entre o inglês, francês e português que aprendeu ao longo da sua vida de viajante. Deixou-nos a saudade de «Irene», mas alegrou-nos com «Mana». E do outro lado do recinto, um velho estimado companheiro,  Marcelo Camelo, preparava-se para tocar com sua nova Banda do Mar, deixando no ar a saudade dos nunca esquecidos Los Hermanos.

Os Unknown Mortal Orchestra fizeram questão de retirar a impressão com que nos deixaram no ano passado, no festival NOS Alive. O espetáculo soporífero que se deu há um ano, ao fim da tarde de um palco secundário, ficou anulado na memória. O psicadelismo característico, transversal a vários estilos musicais, resultou efectivamente bem num ambiente noturno, à pala do Pavilhão de Portugal. «So Good at Being in Trouble» foi, de caras, o momento alto do alinhamento.

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Os brasileiros Banda do Mar só têm um ano de formação mas uma composição de peso: o casal Mallu Magalhães e Marcelo Camelo (ex-Los Hermanos) e o baterista português Fred Ferreira (Orelha Negra, Buraka Som Sistema, 5-30). Pela segunda vez, num curto espaço de tempo, a atuar no país, foram uma lufada de ar fresco. O folk romântico e desalmadamente cego perante obstáculos amorosos inundou o Palco edp e uniu amizades em danças desajustadas e cantorias desafinadas. «Cidade Nova» abriu o concerto, «Me Sinto Ótima» na voz de Mallu foi como mel para os ouvidos, e em «Hey Nana» (a perfeita serenata) espreitou o surf rock. A mais conhecida, «Mais Ninguém», fez Mallu desinibir-se e mover-se de forma sedutora, enquanto não tirava os olhos de Marcelo Camelo. Os dois músicos não desviam o amor que sentem um pelo outro e a química que nutrem em palco é inspiradora. «Pode ser» é cantada em coro e no final Marcelo Camelo agradece «Poxa, vocês são demais, muito obrigado mesmo». A próxima é «Mia» uma fanfarra suave cuja letra é sobre uma gata. «Desde o início até ao fim, quero ver vocês sorrindo para a gente», diz Mallu Magalhães. Durante «Faz tempo», Marcelo enrrosca-se, como um felino domado, em redor de Mallu. «Velha e Louca» precede o momento alto da noite: «Anna Julia», tema acarinhado pelo público português e da antiga banda de Marcelo Camelo, gerou a loucura e até choros de alegria. O resto do alinhamento prosseguiu com «Sambinha bom», «Solar», «Seja como for», «Janta» e «Dia clarear». No entanto, a divertida «Muitos chocolates» desprendeu a rockabilly que há em nós e assim terminou um doce espetáculo. Os Banda do Mar estarão de volta para o festival Vodafone Paredes de Coura. Voltem sempre, «já que estamos vivos a gente, pelo menos, aproveita mais!».

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Franz Ferdinand and Sparks são o novo supergrupo da área. Lançaram este ano o álbum conjunto FFS, talvez para tentarem variar o habitual prato de canções em nome próprio, mas a verdade é que as duas bandas já colaboram há mais de uma longa década. Cruzando gerações, a mescla entre a teatralidade dos norte-americanos Sparks e a hiperatividade musical dos escoceses Franz Ferdinand encontrou um entendimento em palco, mas não fascinou com os temas conjuntos. Celebrados pela plateia foram antes os temas da banda de Alex Kapranos – Take Me Out, «Do You Want To e até a mais melancólica Walk Away – respondendo às necessidades de um público mais jovem que os Franz Ferdinand já conhecem e reconhecem. Mas o cenário de musical criado à volta da performance colaborativa com os Sparks aqueceu uma audiência frenética, que nem por falta de conhecimento deixou de dançar ao som de «This town ain’t big enough for the both of us». Do álbum «FFS», que ali apresentavam os próprios, destaco a enérgica e irónica «Collaborations Don’t Work», que fica no ouvido, não apenas pela divertida e expressiva repetição do refrão, mas porque Kapranos a aponta (como revelou em pleno concerto) como a história que conta a fusão entre as duas bandas. Afinal, qual dessas ironias será a verdadeira? A das suas palavras ou a da música?

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Já Franz Ferdinand and Sparks iam a metade e o MEO Arena, com a sua grandeza, tinha os seus diferentes acessos bloqueados. A equipa do festival tratava de encaminhar o aglomerado de gente para a entrada principal- ninguém sabia o porquê- e assim criou-se burburinho que o espaço se encontrava cheio. O percurso labiríntico até ao local da plateia em pé revelou-se estafante. Ao som da energia dance rock e electro pop dos FFS, o público acomodou-se, sentado ou em pé, sem chegar a estar perto da sensação de aperto desconfortável, até a arena encher no seu todo. Florence & The Machine já são presença habitual em Portugal e surgem de peito erguido face a um público que bem conhece o poder do cerne da máquina, Florence Welch. As inúmeras vivas do público, no momento da espera, elucidam de forma clara a paixão assolapada que os fãs têm pela ruiva. Quem não tinha, pelo menos passou a ter.

Florence Welch, de 28 anos, para além de uns vocais angelicais, possui uma fórmula mágica para prender a plateia e fazê-la sentir o compasso das batidas do seu coração. Consigo trouxe o coro, guitarras, teclado, instrumentos de sopro e uma harpa, ao apresentar-se munida de uma banda que foi brilhante no seu trabalho. Florence é física, tribal e genuína e, ao interpretar as canções, pisa o palco como pisaria um campo de batalha se pudesse lutar contra os seus maiores medos. Sem descurar de uma atitude atenciosa e amável, Florence dirigiu-se às grades diversas vezes, deixou-se agarrar pelos fãs e distribuiu abraços (inclusive o de uma menina que retirou das grades, para próximo do palco). A certa altura também apelou ao abraço conjunto, à harmonia e ao amor. A personagem que a vocalista adopta em palco assemelha-se a um anjo que se deu conta dos seus erros e que pede absolvição dos seus pecados. «What the Water Gave Me», de «Cerimonials», borbulhou no início de um concerto que ferveu durante duas horas. «Ship To Wreck», do álbum mais recente, arrecada um frenesim animado e uma recepção calorosa. Para «Shake it Out» a cantora pede um coro, e é com «Rabbit Heart» que Florence se entrega ao calor humano, pela plateia, a interagir com os fãs e a distribuir carinho, com um olhar orgulhoso. Seguem-se «Delilah», o soberbo hino das pistas «Sweet Nothing» (da parceria com Calvin Harris, com guitarradas desta vez). Uma cover de «People Have The Power», de Patti Smith, foi interpretada brevemente. «How Big How Blue How Beautiful», «Queen of Peace» e «What Kind Of Man» encerram o alinhamento composto pelas canções mais frescas, saídas este ano. «Drumming Song» foi denso e dramático. «Spectrum» pôs toda a gente a dançar e, para regozijo da velha guarda, «You Got The Love» e «Dog Days Are Over» anteciparam o final. Florence Welch tem todo o amor à camisola, mas foi aqui que a tirou e correu no espaço entre o público, só de soutien. O encore teve direito a «Third Eye» e relembrou os tempos de folia e inocência com «Kiss With a Fist».

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Texto por Catarina Soares e Joana Canela
Fotografias por Tatiana Fidalgo

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