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Mogwai: «Passamos tanto tempo uns com os outros que parece um presente constante»

©Maria Raposo

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Mogwai: «Passamos tanto tempo uns com os outros que parece um presente constante»

Guardo sempre algumas palavras bonitas para os Mogwai. Talvez porque estas lhes possam faltar a eles, entre tantas músicas sem letra, ou outras tantas com palavras distorcidas pelos seus melódicos vocoders.

Conheci o seu post-rock amigável há uns bons anos atrás, entre frutíferas partilhas de conhecimento, e vi-os pela primeira vez no ano passado, durante o Primavera Sound da Invicta. Mas foi este ano que o seu concerto no NOS Alive surtiu o verdadeiro efeito em mim, relembrando toda a paz e nostalgia de temas como «Haunted By a Freak» ou «I’m Jim Morrison I’m Dead». Mas rapidamente toda essa viagem ao passado se transformou numa luta pelo presente, onde temas como «Batcat» e «Fear For Satan» desempenhavam um papel fundamental nessa espiral catártica. O fim, o futuro, passava por essa libertação emocional em forma de acordes.

Antes dessa incrível performance do passado dia 10 de julho, estive à conversa com Barry Burns, o homem dos sintetizadores, das teclas e das guitarras, que nos falou sobre a vida nómada de músico, sobre o ainda novo álbum «Rave Tapes» e sobre o futuro da banda escocesa.

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Hoje estão em Lisboa para o NOS Alive, mas o ano passado estiveram no Porto para o NOS Primavera Sound. Sentiste alguma diferença entre os dois festivais? E entre as duas cidades?

Adorei. E adorei o sítio também. São muitos diferentes. Mas porque é que são diferentes? Lisboa é uma das cidades mais antigas do mundo, certo? Mas a cidade do Porto parece mais velha, com as pontes e os parques, simplesmente adorei. Quanto aos festivais, não sei. Os festivais conseguem ser muito frios… Quando há pessoas diferentes, os festivais parecem sempre diferentes. É bom estares com os teus amigos quando estás cá, por isso…

E aproveitaram para ver alguma coisa por cá ou estão apertados de horários?

Não há muito tempo… As pessoas acham que temos muito tempo de fazer coisas, mas temos 40 pessoas connosco, temos de lhes pagar os ordenados, por isso pensamos: queremos ficar dois dias? Não temos dinheiro para pagar isso, portanto… A minha mãe diz-me sempre ‘deve ser bom andar a viajar pelo mundo’ ‘bem, vejo muitos camarins fixes!’.

Oh não! Então fiquem mais um dia e vão acampar, façam isso da maneira económica!

Devia fazer isso! Mas sou um velho, vou morrer daqui a nada, já tenho tipo 100 anos! Algo assim…

Pois, estás nesta banda…
Há séculos!

Não pareces nada…
Oh, és demasiado simpática!

Vocês ainda nos vêm apresentar o vosso Rave Tapes, que é bem diferente dos anteriores álbuns, especialmente se tivermos em conta que veio logo a seguir ao «Les Revenants». Como é que aconteceu esse processo?

Não sei… Os nossos discos são sempre tão diferentes talvez porque nós compramos diferentes equipamentos, sintetizadores antigos, dos anos 70 ou assim, e usamos o que temos no estúdio, não temos uma ideia que pomos sobre a mesa e pensamos vamos fazer um álbum. Nós simplesmente fazêmo-lo… Não somos muito inteligentes! Não conseguíamos “fazer” um álbum.

Então e o que é vos levou para a via electrónica desta vez?

Não sei. Detesto admitir isto, mas as guitarras são bastante limitadas, assim como o que podes fazer com elas. E há tantas pautas de guitarra… Por isso, quando trazes sintetizadores, ou coisas computorizadas, que são sempre tão diferentes, acho que me ajuda a fazer sair novas sonoridades nas músicas. Mas posso estar errado…

Não me parece que estejas.
Eu nunca estou errado! (risos)

Qual é o próximo destino, há alguma direção em que gostassem de ir com o vosso próximo álbum (isto se houver um novo álbum…)?

Acho que vai haver, mas o que estamos a fazer agora é um documentário com a BBC, com a equipa de transmissão inglesa. Acabámos ontem o documentário, e agora temos “Les Revenants – Series 2”, vamos fazer isso na próxima semana. E acho que a música daí poderá influenciar o álbum dos Mogwai. Mas não sei, nós vamos inventando pelo caminho.

O que tiver de acontecer, acontece.
Exacto!

E vocês já estão juntos há 20 anos como banda, começaram bastante novos, portanto presumo que tenham crescido como pessoas e como músicos.

É um pequeno gangue! É um pouco estranho porque passamos tanto tempo uns com os outros que parece um presente constante. Parece que estamos numa ala psiquiátrica e não sabemos o que fazer. Se não fizéssemos isto, o que é que iríamos fazer?

Vi uma entrevista em que vocês diziam isso, que não saberiam o que fazer e que já se iriam «sentir velhos» para arranjar outro trabalho…
E iria ter de pagar para entrar nos festivais! Não quero pagar…

Podes sempre ir através da imprensa!

Boa ideia… Arranja-me um emprego!

 

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