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Tape Junk sobre o novo álbum: «é o primeiro de banda»
Uma banda. Um produtor. Uma casa. Três dias. Foi assim que nasceu «Tape Junk», o segundo álbum da banda do mesmo nome, e que o seu mentor João Correia (Joca) diz ser o primeiro criado verdadeiramente enquanto grupo. Foi precisamente com João Correia que fomos falar, e ficámos a conhecer as aventuras da banda em Alvito.
MYWAY: Os Tapejunk estão a lançar um álbum cuja base foi gravada em três dias, como é que surgiu a decisão de fazer isso?
Joca: Sim, a base em três dias, depois tivemos mais uns dias para acabar alguns pormenores, mas a base toda do disco foram esses três dias. Surgiu porque falei com o Luis Nunes – que era o Walter Benjamin, e agora é o Benjamim porque canta em português – para produzir o disco porque já tinha trabalhado com ele muitas vezes, e achei que era uma cena fixe trabalhar com ele neste disco, por várias razões. Primeiro, ele não gosta assim tanto do primeiro, por isso achei que ia distanciar os dois, que era uma coisa que eu queria fazer. Como ele já nos tinha visto ao vivo várias vezes, teve a ideia de gravar o disco mais ou menos live, que fosse tudo tocado ao vivo, e deu-nos a ideia de gravar o disco no sótão na casa dele em Alvito, no Alentejo. Nós curtimos bué a ideia, porque também era uma cena que nunca tínhamos feito. Era assim um risco grande que ias correr, e isso faz com que faças tudo com mais pica, porque não sabes muito bem o que é que vai sair dali. Foi isso que fizemos, metemos as coisas no carro, fomos para casa dele, metemos na agenda que estávamos off durante três dias, não podíamos fazer mais nada, e ficámos lá a viver todos juntos, e a gravar o disco com uma rotina muito responsável. Foi uma cena fixe também porque gravámos aquilo para fita, que era uma cena que também nunca tinha feito. Estás a gravar um take cheio de pica, e de repente paras porque a fita acabou, coisa que nunca acontece quando estás a gravar em digital. Tem também a grande vantagem de ouvires o disco, de gravares o disco sem teres de estar a olhar para o computador, estás só a olhar para uma mesa de mistura e duas colunas, portanto estás mesmo atento ao que se está a passar. Fez com que nós tocássemos com uma identidade de banda. É o nosso som, é o que temos feito ao vivo, e passou para o disco.
MYWAY: Vocês são uma banda cuja identidade se faz mais nos palcos?
Joca: Eu acho que sim. Alguém escreveu isso no Press Release, que eu lembro-me de ver. Realmente é verdade, ainda não somos uma banda de disco, porque nunca gravámos um disco todos juntos, não é? (risos) O primeiro disco foi mais ou menos uma experiência, eu gravei-o praticamente sozinho com o António. Apesar de os outros terem participado, nós só formámos a banda mesmo para tocar depois de o primeiro disco sair. Depois fizemos concertos, e por aí fora, e aí é que tu ganhas a identidade da banda, e a sonoridade da banda, e de cada um. Agora foi a primeira vez que tocámos as músicas em disco, portanto para já ainda somos uma banda de palco, sim.
MYWAY: O que é que sentes que mudou na sonoridade dos Tape Junk com essa alteração na forma como as canções foram criadas?
Joca: Elas foram criadas da mesma maneira, fui eu que as fiz, e portanto o processo criativo foi mais ou menos idêntico ao do outro disco, ou como o que fazíamos com Julie and The Carjackers, até com Walter Benjamin foi a mesma coisa: o compositor escreve as músicas, e o resto da malta junta-se para as tocar. Aqui o processo foi mais ou menos esse, a única diferença é que tocámos músicas que nunca tínhamos tocado juntos, só mesmo para a gravação do disco, isso é que acho que distanciou um bocado as coisas. Houve músicas em que os arranjos foram mesmo feitos na hora. Para aí em quatro ou cinco músicas, cada um decidiu o que ia fazer para a música ficar a soar como queria, e pensámos os quatro da mesma maneira. Essa primeira abordagem acabou por ser a abordagem final do disco. Se ouvires de fora não imaginas, mas se souberes que foi isso que aconteceu, percebes o que é que cada um contribuiu para as canções soarem daquela maneira. E o Luís, o Luís como produtor contribuiu muito para as canções soarem daquela maneira, fazia sempre questão de dizer que era horrível e por aí fora! (Risos).
MYWAY: O facto de terem pouco tempo, e de estarem a tocar as músicas pela primeira vez, fez-vos estar mais atentos ao detalhe, ou menos preocupados?
Joca: Eia, despreocupação total! Despreocupação, quer dizer, não nos podemos esquecer que tínhamos um produtor na sala connosco, e que nós somos músicos profissionais, e é a nossa vida. Não conseguimos estar a tocar assim tão desleixados, mas o mais importante foi divertir-nos a fazer música. Foi o disco mais descomprometido que já gravei, isso de certeza. Foi super descontraído, e deu mesmo um gozo enorme. É como se estivesses a fazer canções pela primeira vez, só que em vez de ser numa sala de ensaios é para gravar o disco. Depois surpreende-te no final quando ouves tudo finalizado, aquilo marca mesmo o que se passou naquela casa naqueles dias.
MYWAY: O facto de estarem praticamente fechados numa casa no meio do Alentejo…
Joca: Estávamos mesmo fechados, acredita. Nem que quiséssemos jantar fora, ou ir às compras…o Luís vive mesmo isolado, não é brincadeira. Em Alvito não se passa muita coisa. Mas tirando o calor horrível, estava-se muito bem lá.
MYWAY: Esse ambiente também influencia a forma como as coisas saem?
Joca: Sim, porque quando sais de Lisboa – ou de onde estás a viver – tens o dia todo para fazer aquilo, e não tens as outras preocupações e rotinas do dia-a-dia. Estás focado em trabalhar no disco de manhã à noite, e sabes que é o que vai fazer para sempre, que é aquele espaço que tens. Tens de gerir muito bem o tempo, tomar decisões e correr alguns riscos, porque depois não queríamos voltar lá, não queríamos marcar um dia extra. É o que estava marcado, e vai ter de ser assim, porque senão nunca mais acabamos o disco, e vamos começar a complicar.
MYWAY: Foi como entrar noutra realidade, portanto?
Joca: Sim, e no fundo era o que eu fazia quando era mais puto, pegava no meu quatro pistas e gravava na casa dos meus pais – que era de férias e agora é a casa deles – chegávamos lá sexta-feira, ou sábado, e eu chegava a segunda-feira radiante porque tinha passado o fim de semana trancado num quarto a gravar canções. Isto foi quase a mesma coisa, tu tens aqui a tua vida toda, tudo para organizar, tudo por fazer, mas durante aqueles três dias não pensas em nada, estás fechado num estúdio, concentrado, e focado a fazer aquilo. Ainda por cima foi numa casa, o disco acaba por ser meio home recorded, que é uma coisa que eu adoro!
MYWAY: Foi um regressar às origens?
Joca: É, é regressar ao que dá gozo. Há montes de bandas outras bandas em que o que dá realmente gozo é teres um estúdio muito bom, e teres um material incrível, e teres montes de opções para gravar. Isso a mim tira-me a pica toda. Eu gosto de ter pouco material para gravar, gravar com o material que está disponível, e tomar a decisão logo à partida do que vou usar e como, e depois ficar só focado em tocar, e cantar, e pronto. O disco sai com o que tens na altura, onde estás.
MYWAY: Sentes que a música é mais real assim?
Joca: A música não tem necessariamente de ser mais real, mas este álbum para nós representa aquele isolamento, estes dias, e este impulso que demos para gravar um disco neste espaço de tempo, e neste local específico, e isso é o que passa para fora, é o mais honesto. Eu sempre que ouvir este disco vou localizar como foi gravado, e onde foi gravado, e lembro-me de tudo perfeitamente. É quase palpável, em vez de ser só um disco que tem um som muito bom. Se calhar para o próximo podemos querer fazer isso, não é? As canções que são, eu quis ouvi-las assim, porque é assim que nós tocamos. Não há que esconder nem as qualidades, nem os defeitos de cada músico quando está a tocar uma canção, e as nossas estão lá todas do princípio ao fim do disco, as boas e as más, está lá tudo.
MYWAY: O álbum é homónimo porque representa precisamente a vossa identidade?
Joca: Sim, é exatamente por causa disso. Eu digo sempre que é o segundo álbum dos Tape Junk, mas é o primeiro de banda, porque é o primeiro que gravámos os quatro. Este já veio do que nós fazíamos ao vivo, é completamente diferente, é um disco de banda. É de uma pessoa que escreve as canções da banda, mas são aquelas quatro pessoas. Se eu fosse para lá sozinho com o Luís, ou com o António, eu ia ouvir o disco e não lhe ia chamar Tape Junk, ia chamar-lhe outra coisa qualquer. Agora já fica vincado que é uma banda, e não uma cena mais a solo ou mais abstrata.
MYWAY: Sendo que este álbum foi gravado como se fosse ao vivo, ao vivo vai soar como no disco?
Joca: Praticamente. Há algumas coisas que vamos se calhar mudar um bocadinho, mas não muito. Podemos fazer alguns arranjos para adicionar a algumas músicas, mas o que tocámos até agora do disco soa como está lá, como foi tocado.