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Entrevista: Jibóia e a sua viagem musical
O festival Magafest foi a ocasião perfeita para uma conversa com Óscar Silva, de cognome musical Jibóia. O festival de um só dia, com lugar na Casa Independente, no Largo do Intendente, vai contar com uma lista irrepreensível de músicos: Filho da Mãe, Lula Pena, Minta & The Brook Trout, Norberto Lobo, Silence Is A Boy, Simão, Garcia da Selva e, por último, o aqui aclamado Jibóia, a finalizar a noite do próximo sábado, dia 5 de setembro.
Num caseiro café da Bica, de nome a Vizinha, Óscar falou-nos um pouco da viagem musical que teve, experimentando sozinho ou com amigos, os entrefolhos da música eletrónica, juntamente com todos os outros estilos que se conseguissem envolver com a sua estirope. E há novidades sobre o álbum que já podemos esperar para breve – ou pelo menos em registo ao vivo, na ZDB, a 17 de setembro.
Ao terceiro ano de Jibóia, conta-nos como tem sido esta experiência para ti. Ainda tem o mesmo sabor do início ou há novos sabores mais apurados e refinados?
O sabor é cada vez melhor. O caminho nunca foi muito estudado, então cada vez que se acaba um álbum começa-se outro e, pelo
menos até agora, tenho tido a ideia do que é que vai ser o próximo. O sabor continua a ser diferente e bom.
E com tanta fusão de sonoridades, ainda tens espaço para novas influências ou são as mesmas que se continuam a misturar de forma diferente?
Na altura em que comecei tinha se calhar mais presente, pelo menos na minha cabeça, as influências e o que queria fazer,
apesar de não te saber dizer se são estes três estilos de música juntos ou se são outros cinco, mas tinha mais apontada a
direção. Agora acho que, no meio dessas influências todas, está também o que eu fiz para trás, o que já é outra influência.
Já te influencias a ti próprio.
Já conto com o bocadinho que fiz até aqui, no meio daquela baralhada toda, que já é meu. E já conto mais com isso do que
tentar juntar várias coisas para se juntar numa. Acho que as influências antigas já não são vincadas, e talvez estejam mais
confusas ainda.
E onde é que se fazem notar as influências nacionais?
No bigode só.
Num projeto que é só teu, as colaborações vêm tomar um lugar importante. Servem-te para uma apresentação mais fiel das tuas músicas ou a sua relevância vai-se fazer notar também na própria génese dos discos?
Vem principalmente influenciar a génese dos discos. Até agora, tirando aquela Jiboia Experience com uma data de
gente a tocar coisas que eu tinha feito, quando faço colaborações é ir buscar ali qualquer coisa e não ser eu a fazer tudo e a
mandar, a fazer os outros a acompanharem-me. A ideia do projeto nunca foi continuar muito tempo sozinho, tocar sempre sozinho ou arranjar uma banda de suporte. A ideia sempre foi fazer algumas colaborações, mas fazer as coisas à minha maneira também. Posso fazer sozinho ou com mais gente, mas quando chamo alguém é porque quero alguma coisa dali, para fazer só à minha maneira, fazia antes sozinho.
Imaginas esta viagem sem a Ana Miró?
A próxima viagem já não tem tanto Ana Miró ao barulho. Tenho estado com ela desde o início e vou continuar a estar, mas não há de ser a única. Ela tem uma cena muito fixe, para além de ser amiga há uma data de tempo e eu ter gostado muito de fazer
coisas com ela, que é aquela questão de ter uma voz feminina, com quem nunca tinha trabalhado, nem em outras bandas.
E também nunca vais ter uma voz feminina.
E também nunca vou ter uma voz feminina. Acho eu, não sei, pode acontecer alguma coisa, pode acontecer-me qualquer coisa às
cordas vocais! Mas ela permitiu-me explorar essa parte. Não é uma coisa que eu queira deixar de fazer. E às vezes os sets são
meio/meio, tenho uma parte minha, uma parte com ela, é fixe poder ter essa dinâmica. Mas há sempre espaço para outras coisas
também.
Sentes a tua liberdade criativa a 100%?
Desde o princípio que sim. Dá-te um maior controlo no que fazes, mas também te dá um descontrolo maior porque não tens ali
ninguém a dizer-te que não podes fazer aquilo. Tens de ser tu a impor os teus limites, e às vezes impões demais ou não impões
nenhum e também é demais. Não sou aquela pessoa que está sempre à procura de uma opinião externa, mas tem as duas vertentes: a vertente que é bué fixe porque é muito mais rico fazeres o que tu queres e ninguém a dizer-te que preferia de outra forma e tu a dares o braço a torcer. E as colaborações têm um pouco a ver com isso, para que isso também me condicione um bocado.
Depois do EP e do mais recente «Badlav», há alguma coisa a esperar para breve?
Sim, gravei há pouco tempo um disco com o Ricardo Martins, baterista de Loster, toca em Cangarra…
Também já tu tocaste com eles, não?
Sim, gravámos um disco que acho que está esquecido no tempo. Aliás, o meu primeiro concerto foi a abrir um concerto do Ricardo. Toco com ele desde… desde que toco! E sempre foi uma ideia desde o início: tentar dar à volta à cena dos beats, da
parte eletrónica, e tentar transformar aquilo numa coisa mais acústica. Relacionando um esquema de loops e de eletrónica (que
não gosto de lhe chamar, mas que é mais ou menos o que eu faço) ficou com uma parte acústica ali em cima. O disco agora está naquela parte chata das masterizações e provavelmente muito no início do próximo ano (eu queria que fosse no fim deste, mas talvez tenha de ficar para o próximo) vai sair cá para fora.
Pois, eu vi que tinhas um concerto para breve na ZDB.
Pois, exacto, esse é o primeiro concerto, uma espécie de pré-apresentação da coisa. Foi uma coisa assim conceptual, que já
tinha acordado com todo o pessoal da ZDB, e como lá gosto sempre de tentar fazer qualquer coisa diferente e especial à sua
maneira, ficou este conceito de pré-apresentação. Se bem que depois vou ter de andar algum tempo sem o tocar, porque convém
tocar muito quando ele sair! Mas essa vai ser a primeira apresentação que foi gravado pelo menos. Experimentar como o que
tocámos em estúdio funciona ao vivo, ainda nem as ensaiámos ainda.
E achas que é muito diferente do que tens no passado?
É obrigatoriamente diferente, não sei se é muito diferente. Baseia-se muito na repetição, naquela cena chata que eu faço, mas
basicamente em vez de teres um beat, uma coisa que eu lanço, tens alguém a tocar esse beat, quase. Que não é esse beat – e
foi o Ricardo a fazer as baterias todas – mas imagina agora trocar o beat pela bateria e dá lhe um ar mais humano, mais palpável. E acho que é um disco mais… negro. Calma, não é metal, tem uma sonoridade um bocado menos festa do que os outros talvez. Dá para dançar na mesma, mas tem uma aura mais sombria!
Por alguma razão em especial ou simplesmente aconteceu?
Por acaso, no início, simplesmente aconteceu. Mas quem teve connosco, quem teve a produzir o disco, a mandar bitaites, foi um
gajo do Porto que é o Jonathan Saldanha, dos HHY & The Macumbas. Eles tocam muito pouco, são uns 8 ou 9 e é difícil juntá-lostodos. Já há algum tempo que queríamos trabalhar com ele, e ele tem aquela aura mais negra, que é fixe, e foi um pouco por
causa disso que fomos buscar essa parte mais dark. Mas calma, também não é razão para cortar os pulsos.
Agora sobre o festival Magafest, que se aproxima, serás tu o responsável por pôr o pessoal a mexer, porque pelos nomes pareces o mais mexido deles todos… O que podemos esperar desta atuação? Vais estar sozinho ou estás sempre acompanhado?
Ainda não sei se vem a Miró. Ela ainda não sabe se vai ter um concerto nesse dia ou não, mas com ou sem Miró vai ser o mais
mexido, vai ser um bocado fora, mas fixe! Já tinha tocado o ano passado, mas com NOZ, uma outra banda onde tocava baixo por
acaso. Já conhecia as cenas da Inês e do Maga, mas acho que vai funcionar bem naquele local, ter os dois espaços, lá fora e lá
dentro, e é fixe ela continuar a fazer aquela programação mais centrada naqueles amigos e naquele pessoal mais acústico. Por
isso é vai ser mesmo estranho eu estar ali no meio. Vai haver um bocado de contraste.
Vai ser o after.
Mesmo quando ela veio falar comigo eu pensei o mesmo para mim mesmo: ok, mas onde é que vais encaixar isto? Eu disse-lhe, mas é fixe que seja mesmo tarde, porque se for tocar a meio da tarde, toda a gente me vai mandar ovos. O que conseguirem arranjar! Tem a ver um bocado com o contexto do dia, mas são bué nomes que eu adoro. Tem que funcionar, mas o pessoal tem de ver se bebe um bocado durante um dia! Se calhar vou ter de oferecer as minhas senhas… Mas vai ser fixe, vai correr bem, tem tudo para isso!