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Anastacia no Campo Pequeno: Diário de uma sobrevivente
Anastacia chegou a Portugal em momento de ressurreição. Recuperada do cancro da mama que a afectou por duas vezes, a cantora assume a vontade de não ceder logo no título do álbum a apresentar, precisamente, «Resurrection». A verdade é que a distância que separa o primeiro concerto da cantora no Pavilhão Atlântico e esta actuação não se sente só nos dez anos que passaram, mas também na diminuição substancial de público para a ver. A pop mudou muito desde que Anastacia começou a sua carreira, e outras cantoras foram-lhe ganhando terreno. Em Lisboa, Anastacia mostrou-se destemida, e com a noção exacta da sua posição, apostando nos sucessos mais antigos como trunfo maior, além «daquela» voz.
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«It’s all about the music», (tem tudo a ver com a música) ouvia-se em sussurro vindo do palco, ainda antes de Anastacia o enfrentar. A frase, sublinhou-o a cantora ao longo do concerto, era o mote para a actuação, e justificava um palco despido e banda em formato mais intimista. O arranque ao som de «Left Outside Alone», uma das canções que fazem a imagem de marca da cantora, voz poderosa e músicas a levar tudo à frente, abriu a actuação, e confirmou que o destaque era, de facto, para a música, não necessariamente para a mais recente. A diferença de reacção do público entre as canções novas e os sucessos de sempre sentiu-se também logo ao princípio. «Staring At The Sun», logo de seguida, não deixou de ser bem recebido, mas o entusiasmo limitou-se às filas da frente. Já «Sick and Tired» voltou a ser unânime.
O concerto podia ser «só a ver com música», mas a cantora deu-se muito bem na posição de entertainer. Entre as respostas às perguntas que alguns fãs colocaram antes do concerto, e que ia tirando de uma caixa, e as conversas e piadas trocadas com a plateia (com destaque para a imitação de Sofia Vergara em ‘Uma Família Muito Moderna’, a cantar canções de embalar para uma fã que estava grávida de cinco meses), Anastacia coloca-se à vontade, como se estivesse em casa entre amigos. Há até uma ligeira provocação a Miley Cyrus quando alguém lhe pede para fazer twerking: «Twerking é uma coisa que já fazemos há anos e anos. Ela não o inventou, é só o nome que lhe dão agora que é diferente». Os agradecimentos aos fãs, os ‘freaks’, foram constantes, e a cantora sublinhou várias vezes que foi neles que encontrou força para lutar contra a doença. Sem apagar o que sofreu, Anastacia não se esconde no sofrimento, e veste a pele de sobrevivente agarrada ao que tem. A dor que passou reflectiu-se apenas em duas canções, o resto foi pose e voz inconfundível diva em movimentos sensuais e mensagens de poder. Na balada «Heavy On My Heart», momento comoção geral, a cantora disse abrir o primeiro capítulo da sua doença, enquanto «Stay» fechava o livro. A mensagem de «estou aqui para ficar» que a canção relata, foi traduzida no resto da actuação.
Antes de «Resurrection», Anastacia tinha editado um álbum de versões rock chamado «It’s a men’s world». O trabalho não ficou para trás no concerto, mas não se perderia nada se ficasse. A cantora cantou versões de AC/DC, com «Back to Black», ou «Guns N’Roses» com «Sweet Child O’Mine», em momento que se assemelhou a um qualquer programa de talentos televisivos, em que os concorrentes tentam demasiado colocar identidade própria em clássicos.
O alinhamento bem acertado transformou o concerto num crescendo até ao final, mesmo que um dos maiores trunfos tenha sido entregue logo ao início. Em «Evolution», já do novo álbum, a cantora pede a todos que se levantem e incita a uma competição de canto entre os dois lados da arena, e o single «Stupid Little Things» já soou familiar a mais gente. No encore «One Day In Your Life» e «I’m outta love» levantaram quem faltava levantar, e se «competição» de canto fosse de dança, todos teriam ganho. Fica agora por saber se esta ressurreição de Anastacia traz uma longa vida para a sua carreira. Para já, é um capítulo de superação feliz.
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