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Barras- a entrevista

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Barras- a entrevista

Barras é um rapper português, que se apresenta agora em nome próprio com o seu primeiro disco. Ancorado no hip hop português há mais de uma década, Barras reveste as suas histórias com beats dos anos 90 e com o braço amigo complementar de nomes como Sam The Kid, Condutor (Buraka Som Sistema) e Valete. É ele Bruno Barreirinhas, de 31 anos, e à conversa com o MYWAY, Bruno provou que o tempo e a idade não impõem barras às paixões de infância, que prosseguem até ao longo da vida.

MYWAY: Fala-nos um pouco sobre ti e como é que começou esta paixão do mundo da música.

Barras: Eu acho que começou desde pequeno, desde míudo da primária. Há aquelas festas da escola… então sempre tive assim uma ligação à música. Primeiro, na primária, imitáva-mos bandas (tipo UHF), ou fazíamos de DJ’s… Sempre tive ali uma ligação à música. O rap apareceu depois mais tarde, na preparatória, na zona onde eu nasci, uma zona influente, com muita gente imigrante – na zona das Portas Benfica. Na altura era uma zona que albergava muitos ghettos, tinha muitos jovens, muitos imigrantes. Tive ali amigos que vinham de França e que trouxeram novidades de França (tipo cassetes em VHS, videoclips), então isso chamou-me a atenção. Ouvia também muita música pela rádio, todo o rap que aparecia na rádio – Black Company, General D – ia conhecendo. Mas a paixão pela música apareceu como uma coisa de amigos, começou no final de 99 e em 2003 é que eu e mais um grupo de amigos decidimos criar os RPK, que era um grupo de rap. Tivémos duas músicas selecionadas por uma revista que era a Hip Hop Nation, na altura, com direito a uma entrevista também. Aquelas músicas tiveram um bom feedback que não tínhamos noção, só mais tarde é que a gente teve essa noção. Fazíamos algumas atuações em escolas, nada assim por aí além. Depois decidimos que devíamos tornar isto mais profissional e decidimos criar a nossa própria editora. Lançámos alguns projetos, mixtapes independentes, mesmo só para a zona local e tivémos dois projetos que se destacaram. Um deles foi «A entrada Clandestina», dos Street Soldiers em 2005. Em 2006, o projeto «Mary Witch» do Halloween. Sempre tive envolvido com música, sempre fazia música. Tava ligado nesse projeto, trabalhava na área de marketing e promoção dos CD’s e então sempre tive assim essa ligação com a música. E depois também tenho amigos que também são rappers, há sempre ali uma ligação, um contacto. Segui alguns dos seus trajetos. Em 2007, decidi afastar-me um bocadinho da música, achava que a minha vida tinha outras prioridades. Queria dedicar-me aos estudos, arranjar um emprego melhor, mas a música sempre esteve presente… o gosto da música. É assim, sempre ouvi, tive muitas fases. Houve uma fase em que só ouvia eletrónica, depois também um bocado rock, mas no rap em si foi onde eu descobri a minha habilidade para me poder exprimir. Nesse estilo musical, por haver uma grande liberdade de expressão. Podes falar de tudo, então encontrei ali a minha voz.

 

MYWAY: Preferes o improviso ou preferes escrever tudo e ir trabalhando, aos poucos?

Barras: Hoje faço isso, esse é o processo. Nas minhas músicas, quando quero falar de uma coisa específica que me aconteceu ou algum tema específico, tenho de fazer uma pesquisa, sentar e escrever. A nível de improviso, todos começaram assim, eu comecei assim. Mas agora, mais do que nunca, é sentar e escrever e fazer as músicas.

 

MYWAY: Porque é que o teu álbum a solo saiu tão tarde? Porquê tanto tempo?

Barras: Porque tinha-me mesmo afastado da música, nem pensava lançar álbum. Só que depois, essa situação da austeridade afetou-me, estás a ver? Tive amigos que emigraram e também tinham perspectivas de fazer carreira em Portugal, ter uma vida estável. Via uns a emigrar, outros a regressar porque as coisas não estavam a correr bem. Senti isso também na própria pele, tive também um relacionamento em que as coisas não deram bem, isso também acaba por afetar. Passei por alguns momentos, tive de luto, e tudo isso levou a que me inspirasse para fazer «O Lugar que não existe». Foi a partir de 2010, na altura que estava um bocado indeciso, cheguei a fazer um videoclip caseiro, no meu quarto, e a mensagem era que a gente não deve desistir dos nossos sonhos. Lancei esse videoclip, esse primeiro, foi o que me deu feedback para continuar a fazer o que estava a fazer. Depois entretanto, estava com a cabeça nesse projeto e ia lançando algumas músicas na internet e as músicas que iam saindo iam tendo bom feedback. Tive de sites angolanos, sites lusófonos, do Brasil… Como estava a receber esse feedback deu-me o entusiasmo para poder continuar.

 

MYWAY: Tu incluíste nas tuas faixas muito do hip hop dos anos 90. O que é que retiras de melhor nessa década, a nível musical?

Barras: Tem o groove, a cena do sample, o boom bap… Cresci a ouvir a partir dos fins de 99… nas fases de pesquisa ia andando lá mais para trás, aprendendo, descobrindo artistas desse género. Mas depois também tem o estilo do rap francês, sempre foi um bocado essa linha até 2004, 2005, muito NTM, Kool Shen (tem o meu nome, também se chama Bruno). Sou um grande fã, mesmo. Então normalmente, a linha musical foi essa, depois a nível de temáticas, as minhas influências são de todo o lado, tenho da literatura como tenho da música e tento beber um bocadinho de tudo e transmitir, na minha habilidade.

 

MYWAY: Quanto ao hip hop português, achas que é preciso muito mais esforço para obter mais conhecimento?

Barras: Sim, é preciso muito mais esforço. Há uma nova fase em que muitos míudos fazem os seus vídeos, mixtapes, têm muitas views. Eu também, no meu tempo da escola, toda a gente me conhecia. Muita gente em muitas escolas! Só que não havia ainda o YouTube… e hoje isso reflete-se nas views que tens, isso é bom. Há aí grandes jovens talentos. A nível de reconhecimento, isso é uma consequência do trabalho. E é também importante dar às pessoas um produto de qualidade. Acho também que quem houve rap, que está muito direccionada para jovens, devia buscar público mais velho e também chamar a atenção dos jovens para ouvir música com um pouco mais de qualidade. Música é um trabalho sério. Para poderes gravar num estúdio, para teres um bom produtor, tens que pagar. Uns vão conhecendo uns e outros e vão ajudando. Eu, em todo esse meu projeto, apesar de ter pessoas que me indicaram «vai a este estúdio, conhece esta tal pessoa», sempre paguei os beats porque reconheço o valor e o trabalho da produtora. A gente não deve desvalorizar, eu paguei os instrumentais, não foi nenhuma quantia exorbitante mas é sempre algo simbólico. O reconhecimento vem, sobretudo, na consequência de um trabalho e entrares num circuito em que estas constantemente numa competição. Eu tento abdicar um bocado disso, de fazer da música uma competição. Porque acho que a música em si é para elevar, é para o bem. O meu estilo de música é mesmo esse, de dar muito incentivo de procurar um rumo, uma esperança, é sempre nesse sentido. É a consequência do trabalho e o reconhecimento também tem a ver com o tempo.

 

MYWAY: Quanto ao álbum…

Barras: Saiu online, podem comprar no www.sohiphop.com.pt, na Amazon.com se quiserem a versão digital, ou podem ouvir no Spotify, iTunes, MEOmusic ou no YouTube. Colocam «Barras- O Lugar Que Não Existe» e podem ouvir o álbum. Tenho um primeiro single, que é a «Nova Ordem Mundial» com vídeo que podem ver também no YouTube e tenho a minha página que é Barras Oficial, no Facebook.

 

MYWAY: Quando é que te podemos ver e ouvir, sem ser no álbum? Próximos espetáculos?

Barras: Não, não tenho espetáculos. Tenho planos, tenho uma ideia. Não tenho é ainda uma estrutura a nível de estar numa agência ou ter um empresário que me arranje concertos. Porque também, o importante neste momento é dar a conhecer a música. É um primeiro projeto, depois estamos numa era em que há excesso de informação: fazer com que sejas um destaque é uma batalha. Estou a fazer uma cena que é um rap consciente. Agora também estamos no verão, há muitos concertos. A minha ideia é dar-me a conhecer, a partir de setembro vou avançar com o novo single, mas principalmente é dar a conhecer o projeto. A minha ideia, para ter um concerto, é para o final do ano, organizar e fazer uma atuação de apresentação.

MYWAY: Pensas convidar os que participaram no álbum? Todos?

Barras: Sim, claro. Depende da disponibilidade de cada um!

 

MYWAY: Com quem é que gostaste mais de trabalhar?

Barras: Para já, o meu projeto, a nível de participações tem pessoas com que eu tenho uma relação. São amigos. São pessoas que conheci num período na vida em que senti que essa pessoa tinha um potencial. Como reconheço esse potencial, tentei puxar para o meu projeto, porque tinha a ver. Tenho a participação da Andrea no som «Acorrentados», tenho a participação de uma atriz que é a Raquel Oliveira (é minha prima, por acaso), tenho um Valete que é um amigo meu de longa data e tenho depois dois cantores que são amigos, vi que eles tinham potencial. A nível de produtores tenho vários. A minha ideia inicial era contatar vários produtores no mundo lusófono. Consegui alguns. Tenho produtores do Brasil. E tenho o Condutor, dos Buraka Som Sistema que produziu uma faixa, o Sam The Kid produziu o meu intro e tenho outros produtores, de Moçambique, de Angola…

 

MYWAY: Para finalizar, se pudesses dirigir-te aos jovens e aos que estão a começar no mundo do rap, que conselhos é que davas?

Barras: O principal é deixar fluir. Querem fazer música, façam. Tens que fazer sempre má música para depois fazeres a boa música. O conselho é: se o jovem acha que tem essa aptidão para fazer rap, é fazer. E não desistires até encontrares a tua própria cena. Quando encontrares a tua própria cena, o teu trabalho vai estar feito e vai ser reconhecido.

 

O primeiro vídeo, «Nova Ordem Mundial»:

 


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