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D8: «Sou um rapper de sentimentos»
Em Fevereiro de 2014, D8 chegava ao terceiro lugar da primeira edição nacional do programa ‘Factor X». Estamos em Outubro do mesmo ano, e o rapper de 17 anos acaba de lançar o primeiro álbum, depois de meses de concertos. Ao vê-lo na sessão de autógrafos que marcou o lançamento do trabalho, rodeado de fãs, confirmamos que a vitória não vem sempre associada ao número 1. «Sinto que é o início de algo que espero que dure muito tempo», diz-nos D8 sobre o álbum, cujo nome «Prefácio» denuncia as intenções. O futuro, o caminho até ao presente, e as inspirações para as canções, foram alguns dos temas da conversa do rapper com o MYWAY.
MYWAY: Estás A lançar o teu primeiro álbum, que se chama «Prefácio». Este nome surge porque sentes que é o início de uma história comprida?
D8: Exactamente. Sinto que é o início de algo que espero que dure muito tempo. Acho que também é o nome ideal para um miúdo de 17 anos que quer lançar um álbum, «Prefácio».
Tento sempre pensar uma mensagem positiva através das músicas
MYWAY: Este álbum tem várias músicas com mensagens positivas e de ultrapassar o sofrimento, como o «Vais conseguir», ou mesmo o «O que Tu Quiseres». Pretendeste que este trabalho fosse uma carta de incentivo a quem te ouve?
D8:Sim, sim, podes pôr as coisas nesses termos. Eu digo muito aquilo que penso, e tento sempre pensar uma mensagem positiva através das músicas. Há quem o faça negativamente – respeito imenso, e até gosto de algumas – mas a minha espécie de artista é passar sempre uma mensagem positiva. Sim, podemos dizer que é uma espécie de carta a quem me ouve, do género: ‘ouve, e presta atenção, que as coisas não são tão complicadas como às vezes as fazes, e que é normal, porque o ser humano tenta sempre complicar tudo’.
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MYWAY: Na música «O começo» dizes que «muitas vezes o caminho não foi direito». Sentes que o facto de não teres tido um caminho fácil até aqui ajudou a que aos 17 anos já tenhas um álbum lançado?
D8:Não, acho que não influencia. Há pessoas que têm um caminho muito mais turvo do que o meu, e só têm um álbum lançado aos 30. Acho que a vida me sorriu, e agradeço a Deus, e ao Paulo Junqueiro, e à Sony, por ter apostado em mim, e ao Emerson (o meu manager). Tenho muita sorte, graças a Deus, e não é por o meu caminho ter sido mais dificultado, ou mais facilitado. Eu digo ‘o caminho não foi direito’ porque foi um caminho muito pouco usual, pouco habitual, para uma pessoa do meu estilo de música, e por isso é que eu escrevi essa frase. Não porque tenha sido mais dificultado, não porque tenha sido mais facilitado que os outros, é porque foi um caminho completamente diferente, e novo.
MYWAY: De que forma é que dizes que o teu caminho no rap foi diferente?
D8:Na teoria rap não passa na televisão, ou não passa em horário nobre, e eu consegui provar o contrário, e consegui influenciar muita gente a seguir o seu sonho através de um programa de televisão, o que torna um caminho completamente diferente. Não conheço nenhum rapper que tenha participado num programa de televisão, que tenha conquistado as pessoas e ido até à final, não sei se existe. Agora, eu provei que afinal não é assim tão linear quanto isso, aquilo de ‘ok, vais a um programa de televisão tens de ser pop, tens de saber cantar, tens de saber mil e uma coisas’. Não, eu fiz a minha cena, fazia as minhas letras, e o meu tipo de rap, e fui longe, portanto…tive um percurso completamente diferente do que era esperado para uma pessoa do rap.
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MYWAY: Achas que para ires mais longe é preciso ser verdadeiro?
D8:Acho que sim, acho que as pessoas sentem quando estás a forçar algo. Às vezes nós artistas dizemos: ‘naa, eles não sentem, não querem saber, as pessoas querem é o ritmo’, mas as pessoas sentem quando o ritmo soa a farsolas. A vida sorri-te, e alguém lá em cima também te sorri, quando és tu próprio e não te deixas influenciar negativamente por ninguém. Às vezes pessoas têm muito aquela coisa de dizer ‘eu não me deixo influenciar’, e depois passa-lhes ao lado alguns conselhos positivos. Ouve os conselhos, e repara se isso é bom ou mau para a tua carreira, mas sê sempre tu próprio. Quando ouves aqueles conselhos e mesmo assim os adaptas à tua pessoa, aí ainda vais crescer mais. Aí é que se marca a diferença, e é esse o segredo para ter sucesso, em qualquer área.
Na teoria rap não passa na televisão, ou não passa em horário nobre, e eu consegui provar o contrário.
MYWAY: Estas histórias que contas nas canções são todas tuas, ou consegues escrever sobre situações que não viveste?
D8:Não consigo…Quer dizer…Não é bem assim…Eu escrevo sempre com uma mensagem para tentar abordar. Se me disseres assim: ‘escreves sem uma mensagem?’ eu dir-te-ia que não, agora, eu vivo sempre as coisas, e vejo as coisas que estão à minha volta. Eu para saber escrever tenho que saber o que é que se está a passar. Não consigo saber sobre um tema sobre o qual não tenha visto, ou vivido nada. Agora, há um tema no álbum que eu não vivi, que é o «Estou aqui» (sobre filhos que desrespeitam os pais), mas que vi amigos meus a fazerem isso, e aproveitei e abordei esse tema, porque conhecia como eles lidavam com a situação, e não concordava.
MYWAY: Tens temas neste disco que falam sobre um relacionamento teu, a «Já não dá» e a «S.O.L.O», foi fácil expor para tanta gente uma coisa tão pessoal?
D8:Eu acho que a música não expõe assim grande coisa, expõe é a minha forma de lidar com o assunto. Não expõe a pessoa de quem falo, não expõe a identidade de ninguém…
MYWAY: Expõe sentimentos…
Mas isso eu faço em todas as músicas. Eu sou um rapper de sentimentos, por exemplo, se me falares da do Bullying («Vais conseguir»), eu exponho lá os meus sentimentos, na altura em que falei do meu pai expunha a minha revolta. Eu exponho, e não tenho problema nenhum, acho que isso faz parte da minha característica, e quando se fala de amor…exponho aquilo que sinto em relação àquela relação, àquela pessoa.
MYWAY: Como é que vai ser passar essa intensidade ao vivo?
D8: Eu sou muito natural ao vivo, eu vivo muito – acho que até vivo mais do que no estúdio quando estou a fazer a letra – nas músicas mais tristes fica um clima tenso no palco, e nas músicas mais alegres aparece o puto brincalhão, e trapalhão, que às vezes até se engana, e se mete com aquela pessoa do público. Acho que isso até transmito bem. Agora, neste novo álbum tenho lá uma música ou outra que são mais pesadas, que ao vivo me darão bastante gozo. Gosto muito mais de cantar as músicas tristes ao vivo do que as alegres. Vivo mesmo esses momentos, e acho que a banda sente esse clima de tensão no palco, e quando olhas, chegas e pisas, é uma sensação diferente. Por isso, acho que sim, que vai correr bem.
Quem faz a indústria são as pessoas, e se estiveres a trabalhar com quem te quer ver bem, vão influenciar a tua música de uma maneira muito positiva.
MYWAY: Da última vez que falámos, algures em Março, dizias que o teu objectivo maior era seres sempre melhor. De que forma é que o D8 de hoje é melhor do que o D8 antes do álbum?
D8:O Diogo aprendeu a ouvir os conselhos que lhe deram, e a saber distinguir conselhos – também há conselhos que não são bons. Às vezes as pessoas têm muito aquela ideia que eles são os ‘bichos papões’ que te querem sugar, mas não é verdade. Isso é pessoal que não sabe, e se quer armar em esperto. Eu tinha muito essa ideia também.
MYWAY: E mudou?
D8:Mudou muito, porque tu conheces as pessoas. Às vezes as pessoas olham para uma indústria, e generalizam-na, quando não é bem assim. Quem faz a indústria são as pessoas, e se estiveres a trabalhar com quem te quer ver bem, vão influenciar a tua música de uma maneira muito positiva. Portanto, o D8 é melhor em termos artísticos? É, definitivamente. Tenho mais melodia, acho que escrevo de uma forma mais concreta, mais alinhada do que escrevia antes. Depois acho que melhorei bastante na escolha dos ritmos. Amadureci, e isso nota-se bem numa ou outra música do álbum, a forma como abordo os temas de uma forma mais adulta, e soube separar bem o lado brincalhão do lado mais sério. Antes, em cima de um beat alegre eu cantava uma revolta, em cima de um beat triste eu cantava uma revolta, em cima de um beat para brincar cantava uma revolta. Hoje já em dia consigo perceber, ‘ok, isto é um beat de revolta, isto é um beat de amor, isto é um beat alegre…’ consigo distinguir e criar várias dinâmicas e flows para cada coisa. Noto que evolui bastante, mas tudo também porque comecei a ouvir as pessoas que trabalhavam comigo.
MYWAY: Sentes que podes vir a trabalhar com elas num futuro próximo?
D8:Claro que sim, acho que em equipa vencedora não se mexe. Estou satisfeito com o meu álbum, estou satisfeito com as minhas músicas, estou satisfeito com o trabalho que tenho tido até agora. Porquê mudar tudo aquilo que me deixa satisfeito? Sou uma pessoa que trabalha bastante, sou, mas sou só uma pontinha do iceberg. Toda a gente que trabalha à minha volta não aparece para dar entrevistas ou para dar autógrafos, e essas pessoas é que fazem o D8 exprimir-se da forma como se exprime, sentir-se como se sente em palco, trabalhar como trabalha. Há um bom clima, e isso sente-se através da música. Quando os promotores me convidam para actuar, sente-se o clima da banda, que é um clima positivo, são pessoas que querem trabalhar, e querem ajudar. Acho que isso tudo influencia a forma como vês um concerto ao vivo, ou como ouves a minha música num disco. É diferente.
O MYWAY agradece à «Fábrica 22» o apoio à sessão fotográfica com D8
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