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De Leiria para o mundo: Country Playground em entrevista
De Leiria para o mundo, os Country Playground chegam-nos com um álbum de estreia e muitos outros de experiência, junto às memórias de outras bandas. Rodrigo, com o seu sotaque brasileiro ainda bem presente, assumiu-se como músico português há quase uma década com os Born a Lion, enquanto Nando saltitava de banda em banda. Juntos, hoje prestam homenagem ao country, num tom que nos soa estranhamente familiar. Afinal de contas, a honestidade sabe a isso mesmo. Sabe a estar em casa, num dia quente, a ouvir Neil Young… Ou Country Playground.
«Turdus Merula» é o vosso primeiro álbum e foi editado… por uma revista. Como é que este fenómeno aconteceu?
A Preguiça é a nossa editora. Leiria é um meio relativamente pequeno e o pessoal conhece-se todo. E conhece-se de há muitos anos – nós não somos propriamente da geração mais nova que está a parecer agora. Eu tenho 40, o Nando tem 38… E basicamente nós tínhamos gravado o disco já no ano passado, em agosto, início de setembro, e o rodrigo teve de ir trabalhar para Coimbra e interrompeu os planos, mas o nosso plano inicial era lançar o disco online (primeiro ainda queríamos lançar em vinil! Só que é difícil…). Então pensámos: vamos lançar online, pôr no Spotify e nessas coisas todas, e tentámos fazer a coisa com a Preguiça, porque, pelo menos na nossa zona, é uma revista com bastante visibilidade. Fomos surpreendidos porque a Paula, uma das pessoas que está à frente da Preguiça, sugeriu-nos: porque é que em vez de lançarem o disco nessa data em que estão a pensar, o que acham de lançarem um bocadinho mais tarde e a Preguiça lança-vos o videoclip? E depois fez-nos outra proposta: e se a Preguiça fosse a vossa editora? E nós ficámos a olhar para ela… e assim, a Preguiça quis editar-nos sem sequer ouvir o disco.
Adotou-vos!
Nando: Adotou-nos. Eles já tinham ouvido os nossos concertos, a Paula conhece-nos há anos e o Rodrigo toca também nos Born a Lion, e eu em Leiria também tive outras bandas e eles apostaram, assim, cegamente.
«Ficou bom, ficou fixe, vamos continuar com essa cena? Vamos gravar alguma coisa? Epa, vamos!»
Este é um novo projeto, mas não é o vosso primeiro. Como (e quando) é que surgiu esta oportunidade de partir nesta aventura?
Rodrigo: Isto surgiu a partir de algumas canções que eu tinha escrito em meados de 2005. Tinha escrito algumas canções com a Ana, a minha mulher, só na viola e na voz, e depois andei com esse projeto em algumas datas pelo país. Depois parei alguns anos com este projeto e surgiu a oportunidade de reaver o projeto, mas eu não queria mais estar sozinho na viola, sozinho neste projeto, e era um tempo difícil, as pessoas não faziam silêncio para se ouvir a viola… Então fiquei «traumatizado», triste por as pessoas não darem atenção. E surgiu a oportunidade de um concerto em Leiria, onde disse que não ia tocar sozinho, vou chamar um guitarrista e vou eu para a bateria, e aí pensei logo no Nando. Ensaiámos duas, três semanas antes do concerto e foi altamente. Então deparámo-nos com uma situação: ficou bom, ficou fixe, vamos continuar com essa cena? Vamos gravar alguma coisa? Epa, vamos! E entrámos no quintal da minha casa e fomos gravar o disco em casa mesmo, no meio do mato e tal.
Homemade! E tu Rodrigo, ainda te manténs nos Born a Lion. Continua a ser o teu projeto principal ou vais mandar-te de cabeça com este novo grupo?
Rodrigo: Acho que projeto principal é difícil de dizer, porque no que eu entro é para valer, não é para brincadeira nenhuma. Já foi essa altura em que era puto, com 18, 20 anos, e que estava ali para curtir e para beber uns copos, e já não é mais assim e já há muito tempo. Born A Lion é a chave da minha vida musical em Portugal e isso não se questiona. É uma banda em que tenho os meus parceiros como irmãos – como tenho o Nando como meu irmão – e é um projeto singular. A gente acabou, mas por um motivo, rápido: a gente precisou de morrer para poder renascer de novo. Então há surpresas a aparecer entretanto… Vindas do purgatório!
«Sem vergonha, a gente fala de vários sentimentos.»
E com esta nova banda, acabam de lançar o vosso primeiro álbum de originais. De que fala este álbum?
Nando: São canções de amor, outras de redenção, outras de amizade pura, outras de busca e procura.
Rodrigo: É um disco completamente sentimental. Sem vergonha, a gente fala de vários sentimentos. É um disco simples de country rock puro e duro.
E onde é que entra o country no vosso rock?
Rodrigo: Entra muito forte. Agora pode não ser tão explícito porque basicamente ele está a entrar no nosso sangue. Já estava no nosso sangue há muito tempo, mas nessa dupla está a entrar devagarinho e cada vez se mostra mais e mais. Mesmo depois do disco, nos ensaios, nas novas composições (que já temos para um próximo) entra com mais intensidade, entra com mais intensidade a influência de Gram Parsons, Johnny Cash, Neil Young principalmente, Dylan, e outras bandas que influenciaram esse rock’n’roll rural.
Nando: Se calhar não é um country rock, mas um rock country.
«Se calhar não é um country rock, mas um rock country»
Foi uma coisa de alguma forma propositada ou foi algo que vocês encontraram a meio do caminho?
Rodrigo: Eu posso dizer que eu já tinha essa influência country rock já há muitos anos, vindo do meu pai, a escutar Willie Nelson, a escutar aquele cara do cinema que também fazia o Blade, o Kris Kristofferson. O meu pai também ouvia muito cenas western, e querendo ou não, isso me influenciou muito por tabela, ouvia aquilo de longe, quase a dormir no sofá com ele. E a paixão do meu pai pelos cavalos, por todo esse universo, as botas e essas coisas. Acabou por me influenciar mais pelo lado do rebelde rock’n’roll, do que propriamente pelos cavalos.
Nando: E também partilhamos uma paixão grande por Neil Young, que foi uma cena mútua, Buffallo Springfield e essa cena toda.
Pois, vocês têm uma música no vosso álbum dedicada a Neil Young.
Nando: Completamente dedicada a Neil Young. É para ele.
Também é uma canção de amor?
Rodrigo: Uma canção de amor a um grande artista, uma canção de amor a uma grande pessoa.
E o reserva o futuro para os Country Playground?
Rodrigo: Eu não sei… Tu sabes?! (risos)
Nando: No imediato, o o que nós gostaríamos agora era de começar a tocar, apresentar o disco, sair de Leiria, começar a mostrar isto a outras pessoas, e não pararmos nem de escrever nem de tentar chegar a outros sítios.
E acham que já vão conseguir entrar pela capital adentro?
Rodrigo: Acho que até setembro, outubro… vai ser difícil. É a altura dos festivais, não há espaço. Portugal é uma país «bueda» pequenino, com «bueda» festivais a acontecer. Todo o mundo está por aí, todo o mundo está de férias. Acredito que, depois do verão, a gente vai começar a entrar aí, aqui dentro.
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