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NOS Primavera Sound dia 2 – Reportagem
Todas as fotografias tiradas por Nádia Dias para o MYWAY
Começamos a segunda tarde de NOS Primavera Sound pelo palco ATP, que no dia anterior ainda não funcionava. Damos uma olhada ao psicadelismo atmosférico dos Follakzoid tempo suficiente para aprovarmos as suas canções cavalgantes, antes de seguir para os Midlake.
Tal como acontecera no dia anterior com Rodrigo Amarante, a escolha dos Midlake para o final de tarde no festival revela-se perfeita. Ainda com a plateia a mover-se preguiçosa pela relva humedecida pela chuva do dia, a banda apresentava o folk rock bucólico em concerto feliz e luminoso. A ausência de chuva, tema da maioria das conversas do dia, foi também notada pelo multi-instrumentista da banda (flauta transversal incluída), Jesse Chandler. Em português quase perfeito, o músico apresentou a banda, e deu «graças a Deus» pelo fim da chuva. O vocalista Eric Pulido brinca que lhe inveja o bom português, mas explica que o motivo deste são os quatro anos que Chandler viveu no nosso país, e o casamento com uma portuguesa: «ouvi dizer que isso acontece muito», diz Pulido, «e nem são precisos quatro anos, bastam quatro horas», acrescenta. «Roscoe» foi dedicado «à Maria João da Antena 3», e a um dos girassóis gigantes que, juntamente com as flores para o cabelo, polvilham o festival de cor. «We Gathered In Spring» (juntámo-nos na Primavera) trouxe o épico ao concerto, e torna-se coincidência poética. Foi assim, juntos na celebração das canções e com vivas ao vinho do Porto, que deixamos a banda para regressar ao palco ATP, onde os lendários Television iriam tocar.
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O motivo da visita dos Television a Portugal é a digressão que tem levado a banda a tocar na íntegra o clássico álbum «Marquee Moon». Os homens da banda envelhecem, mas os riffs das suas guitarras não, e foram esses que conquistaram uma plateia relativamente numerosa para o espaço, mais exíguo, em questão. O concerto esse, decorre lento e com muitas paragens demoradas entre canções, e sem que a banda, fechada sobre si própria, pareça preocupada com isso, ou com qualquer outra coisa além de executar as mesmas sem problemas. Quanto a isso, não houve questões. «Marquee Moon», tocada já no final foi reconhecida e celebrada profusamente, logo aos primeiros acordes e levantou os espíritos, enquanto antes, «Prove It», «Torn Curtain», ou «Guiding Light» já tinham conquistado a plateia que não parecia precisar de muito mais além de ouvir as canções e o poderio das guitarras que influenciaram bandas como os The Strokes, ou mesmo Sonic Youth. Colocado o carimbo no passaporte musical, tenta-se apanhar ainda alguma parte do concerto das Warpaint, mas com o atraso no concerto dos Television, chegamos quando a banda já vai fazendo uma intensa versão de «Ashes to Ashes», de David Bowie, que aterra em «Elephants». Era a última, voltamos para o palco ATP, onde desta vez vão tocar os Pond.
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Não passou muito tempo entre o concerto dos Television e o dos Pond, mas o que acontece em palco é exactamente o oposto. A banda australiana, que partilha com os Tame Impala os membros Jay Watson e Cam Avery, é explosiva no seu psicadelismo, e logo à primeira música, o crowdsurfing meio selvagem ilustra a raça de concerto que eles deram. Banda e multidão alimentavam-se da energia mútua, e enquanto os crowdusfers se repetiam, No Porto, os Pond tocaram temas como «Colouring The Streets», para o filme de surf «Spirit of Akasha», ou o brilhante «You broke my cool» e foram destruidores perante uma multidão que juraram ser a «maior e melhor» para quem já tocaram. Longa vida à nova era do psicadelismo.
Os Pixies regressaram esta noite a Portugal, depois de o ano passado terem actuado no Coliseu de Lisboa. Um álbum e uma baixista depois (Paz Lenchantin substituiu Kim Shattuck), a banda chegou ao Porto para actuar no Palco Super Bock do NOS Primavera Sound, e reuniu enchente em frente ao palco, mesmo que nem toda essa plateia tenha sido entusiasta constante.
É verdade que «Indie City» acabou de sair, mas as canções do novo álbum são recebidas com uma certa indiferença, comparando com as reacções aos temas mais antigos da banda, que despachou reportório em mais de hora e meia de concerto, sem contemplações ou compassos de espera que não fossem apenas os essenciais para respirar entre canções. «Crackity Jones», «Couge Away» ou no assobio e sorriso com piscar de olho de «La La Love You», de «Doolitle», provocaram alguns fogachos de motins, assim como acontece com «Velouria», do álbum «Bossanova». Em «Vamos», as flores que dominam o festival chegam à guitarra de Santiago, que as usa para a tocar, antes de tocar uma guitarra com outra guitarra.
A importância, qualidade e peso das canções dos Pixies chegam para que um concerto seja bem-sucedido, mas não se pode dizer que tenha sido mais do que isso. Por sublinhar, fica a comoção partilhada com «Monkey Gone To Heaven», e o inevitável êxtase provocado por «Here Comes Your Man», e «Where Is My Mind», que, estando já no panteão de canções maiores do que a vida, foi cantada de arrepio à flor da pele, e «uh-uhs» uivados com emoção desafinada (do lado de cá do palco).
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Chegamos ao Palco Pitchfork para ver a actuação de John Wizards, e pouco depois de o fazermos, o concerto termina. Foi curta, mas poderosa a festa dada pela banda sul-africana, e termina com o vocalista a dar beijinhos ao microfone, enquanto explica que não consegue mais explicar o amor que tem por Portugal. Afropop e reggae temperados com muita vontade de dançar, foram distribuídos por gente sedenta de calor, e que ali o encontrou.
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No lado oposto, e de regresso ao Palco Super Bock, os Mogwai convidavam um público que se aconchegava contra o frio polar a viajar com eles, e conseguiram-no. Se nas filas mais longínquas do palco havia muita gente sentada nas pequenas colinas, não se ouvia uma conversa a ser colocada em dia, como tantas vezes acontece. Concentração e devoção era o que se verificava, enquanto a banda escocesa, que editou «Rave Tapes» este ano, exibia canções que atravessam tempestades longas com distorção, até encontrar luz, e quando se pensa que as vão deixar aterrar, delicadas, voltam a explodir em grito final. No final, agradece-se a quem ficou acordado até tão tarde para os ver, e sublinha-se o prazer de tocar com bandas que «cresceram a ouvir». Do lado de cá, sobra a sensação de ter viajado pela mão dos Mogwai, e de não voltar a aterrar tão cedo.
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Da contemplação passamos, rapidamente e sem perdão, para o rock directo dos Shellac. Quando chegamos, já a festa estava armada, ouvimos «Steady, as she goes» e por lá ficamos tempo suficiente para ouvir Steve Albini anunciar «You Came In Me» com um discurso sobre como quem o vê está «a chegar a uma idade de descoberta e de criatividade com outras pessoas» e avisa: «vai haver quem se aproveite do teu corpo». É precisamente ao som de «You Came In Me» que saímos, para testar o ambiente pelo Palco Pitchfork, onde Todd Terje actuava. Por lá, os corpos que ainda não estavam cansados para ir para casa, afastavam o frio dançando freneticamente ao som do DJ e produtor norueguês. Para nós, o fim das festividades do dia fez-se por ali, que amanhã há mais. St. Vincent e The National são só dois dos muitos nomes que vão fechar o festival.