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NOS Primavera Sound – Reportagem do 3º dia
Chegou ao fim a Primavera da música, no Porto. The National, St. Vincent, Ty Segall, ou Cloud Nothings estiveram entre os destaques de uma noite cheia, que foi um feliz teste à resistência dos festivaleiros, que chegaram cedo e saíram tarde.
Às 17h55, os portugueses You Can’t Win, Charlie Brown abriam o Palco NOS, com uma das maiores audiências do festival aquela hora. A banda dizia-se surpreendida, e jurava que esperava menos gente para os ver. A boa recepção não devia ser surpresa para uma das mais interessantes bandas nacionais, e em palco voltaram a dar provas de merecimento. Com o álbum «Diffraction/Refraction» por apresentar, a banda passou pelos temas do novo álbum como «Shout», «After December», ou «Be My World», mas trouxe também «Chromatic», «Over the sun, under the water». Entre a felicidade épica e a melancolia de canções detalhadas que viajam entre a delicadeza e a força (não bruta) a banda ajudou muitos que encontravam nas suas canções a banda-sonora perfeita para o descanso que as pernas ainda pediam, enquanto aproveitavam para aquecer com um sol tão bem recebido quanto as bandas mais pedidas do cartaz. No final, a brilhante versão de «Heroin», dos Velvet Undergound, chamou a atenção de muitos ouvidos estrangeiros, e tornou a dança irresistível para alguns.
Já no Palco Super Bock, logo ali ao lado, o ex-Sonic Youth Lee Ranaldo trazia os Dust e o álbum «Last Night On Earth» ao festival. A protagonista, claro, foi a guitarra, em concerto acessível, sem grandes experiências, e discreto. Em menos de uma hora, passaram pelo palco «The Rising Tide», «Last Night On Earth», ou «Blackd Out», que fechou o concerto em crescendo, certificando-se que este terminava em ponto alto.
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Os Neutral Milk Hotel, regressados no ano passado depois de uma ausência de 14 anos, não gostam mesmo nada de fotografias, de tal forma, que esse facto se torna quase protagonista do concerto. Para além de não autorizarem fotógrafos, e de os ecrãs do palco estarem desligados, o vocalista Jeff Mangum pede várias vezes aos espectadores que não tirem imagens do concerto, mostrando-se irritado com quem o faz. Sublinhamos o quase quando nos referimos à importância deste facto na história do concerto dos Neutral Milk Hotel no Porto. O indie-rock carregado de folk da banda, e que chegou a ser tocado através de serrotes e sinos, encheu de felicidade o NOS Primavera Sound. Momentos como «King Of Carrot Flowers», um «Oh Comely» arrepiante, ou «Two Headed Boy» foram celebratórios quase em tom de celebração religiosa. Fim de tarde de sorriso nos lábios e a canções a apontar para a luz.
Ao contrário dos Neutral Milk Hotel, as Yamantaka deixaram fotografar-se, e é delas que agora trazemos imagens.
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Nova e curta viagem para o palco vizinho, e reencontramos John Grant, que já tínhamos ouvido no Festival Vodafone Mexefest, no final do ano passado. Seja na sala principal do S. Jorge, ou entre o verde do Parque da Cidade, o despeito das dores de amor fica bem cantado na voz de Grant, que voltou a trazer o álbum «Pale Green Ghosts» para apresentar. O tema que dá nome ao álbum é electronicamente obscuro, e já antes «It doesn’t matter to him» p tinha sido. A dor que canta contrasta com a simpatia que apresenta, e explica que «Where Dreams Go To Die» não é sobre o Porto. Já «GMF», abreviatura de «Greatest Motherfucker», é precisamente dedicada à cidade. Na letra, Grant canta o triunfo sobre o abandono através do auto-elogio, mas a confiança foge-lhe das mãos com «Glacier», que se revela triste e demorada. Para o fim, «Queen Of Denmark» a viver entre a contenção e a expulsão da raiva acumulada e a ideia de capítulo fechado. A escuridão é mais bonita quando John Grant a canta.
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Foi uma das maiores enchentes do festival, a que se verificou em frente ao Palco NOS para o concerto dos The National, mas um concerto não se faz só de números, e este foi muito mais do que isso. As visitas da banda de Matt Berninger a Portugal são tão frequentes, que a cada uma delas nos questionamos sobre se a actuação e a recepção estarão ao nível da anterior. As dúvidas são normalmente logo dissipadas, e foi isso que voltou a acontecer no NOS Primavera Sound, com um concerto que até contou com a participação de Annie Clark – St- Vincent – que actuaria logo de seguida no palco ao lado.
St. Vincent subiu ao palco com os The National à terceira canção, «Sorrow», e serviu de detalhe de luxo a colocar corações ao alto, logo antes de «Bloodbuzz Ohio» o continuar a fazer. Foi sempre assim, durante o concerto. As canções sabidas de cor, a entrega absoluta, Matt Berninger a vestir loucura em fato preto. Em «Conversation 16», repete-se «I’m evil» como quem expulsa o próprio demónio interior, e em «Ada», canção de «Boxer» que Berninger diz adorar, canta-se «All together in the dark», frase que serve de sinónimo às actuações da banda em Portugal. A entrega completa de que falávamos chega ao clímax no final, com «Graceless» em tom de desespero, e «Terrible Love», «Fake Empire», e «Mr. November» servem de catarse emocional para a melancolia com que os The National nos deixam, enquanto Berninger desce ao público para regressar desgrenhado e amarrotado, perante olhares desesperados de seguranças e sedentos dos fãs. A fechar, a tradição. Depois de a banda questionar sobre o paradeiro de um vocalista perdido pela plateia numerosa, Vanderlyle Crybaby Geeks cantado baixinho em partilha emocionada. Não choveu cá fora, mas os The National deixaram, como o fazem sempre nos seus melhores momentos, muita gente a chover por dentro. Até já.
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Depois da perninha no concerto de The National, St. Vincent subiu ao Palco Super Bock em nome próprio, para apresentar o álbum que também o usa. Em palco, a cantora é personagem fascinante e singular, robótica nos movimentos, teatral na actuação, felina nos olhares, e na guitarra que domina como se dela fizesse parte. Logo pelo início, os trunfos «Digital Witness» e «Cruel», este último, ainda do álbum «Strange Mercy», surgem cativantes, antes de St. Vincent avançar para uma de duas histórias sobre os seus pontos em comum com o público nacional, e que incluem Kangurus, o amor pelos The National, e o falhanço do vôo com asas que para ele foram construídas. Já em «Surgeon», a cantora que tinha subido a um pequeno podium para de lá se apresentar, em pose superior, simula um desmaio final, antes de rebolar, teatral, pelas escadas. Passada uma hora, e já com «Cheerleader» interpretado, olhamos para o relógio com a sensação de que tinha passado muito pouco tempo. Bom sinal. O adeus faz-se com a cantora às cavalitas de um dos seguranças. Não imaginaríamos melhor despedida para um concerto que parece ter vindo de um mundo paralelo, certamente mais colorido que o nosso.
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A quota de festa foi cumprida pelos !!! no Palco Super Bock, com o vocalista da banda, Nick Offer, a fazer as honras em calções muito curtos e camisa. O funk da banda serve quase de base para as loucuras de Offer, que coloca o microfone dentro dos calções, senta-se em cima de uma das luzes, manda calar o público antes de explicar que está a brincar, corre o palco, mistura-se com a plateia, e não mostra nunca sinais de exaustão. Foram muitos os que os viram e se renderam à dança, irresistível.
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Pela primeira vez na noite, subimos ao Palco ATP para o concerto de Ty Segall, que celebrava o 27º aniversário. As expectativas eram elevadas, e ao vivo, Segall confirmou-as todas. Rock de sangue a ferver e velocidade punk, gerou motim e crowdsurfings sucessivos, em concerto de constante explosão selvagem, mesmo com as várias falsas partidas devido a problemas técnicos. «Finger», ou «Tall Man, Skinny Lady» foram algumas das canções apresentadas. À falta de melhor palavra, chamemos esmagador ao concerto de Ty Segall, um dos melhores do festival, já que a sensação final é de termos sido atingidos por um camião de guitarras. Que venham muitos mais.
Em corrida, chegamos ainda a tempo de gastar as últimas energias no concerto de Cloud Nothings no Palco Pitchfork. O espírito era semelhante ao vivido no concerto de Segall, mas neste caso, a segurança irritou o vocalista Dylan Baldi, que os acusava de tratar as pessoas que faziam crowdsurfing como animais. O músico passou metade do concerto em críticas à situação, ainda que sublinhando que foi um bom concerto.
A urgência e a sede incansável dos concertos de Ty Segall e Cloud Nothings a fechar um dia perto da perfeição no «nosso» NOS Primavera Sound (Pional ainda actuou no Palco Pitchfork) deixam o espírito para as próximas edições. Que nunca murchem as flores que o festival coloca nos cabelos do seu público. Até logo.
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