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Quinta do Bill: «Não fazemos só música para nós»
Ninguém fica indiferente a trautear a lendária «Filhos da Nação», grito intemporal de folia, que data de 1994. O nome Quinta do Bill perpetua no ouvido e no coração dos portugueses, que reconhecem automaticamente estes veteranos do folk português. São estes Carlos Moisés (voz, flauta, guitarra acústica), Paulo Bizarro (baixo, voz e percussões), Miguel Urbano (Acordeão, teclados, programações, voz, guitarra acústica, percussões), Jorge Costa (bateria e percussões) e Dalila Marques (Violino).
Foi em 2014 que a banda, a propósito da comemoração dos 20 anos de «Os Filhos da Nação», atuou no Coliseu do Porto com a parceria da Banda Sinfónica Portuguesa. Esta noite está agora imortalizada e registada num CD-duplo e DVD «Sinfónico-Ao vivo». Falámos com o grupo a propósito da edição deste trabalho e Carlos Moisés, vocalista da banda, foi o porta-voz da maioria das questões propostas.
MYWAY: Já têm mais de 20 anos de carreira e desde cedo conquistaram o público português. O que é que mudou na vossa forma de estar em palco?
Carlos Moisés: São 20 anos do lançamento do disco «Filhos da Nação», o grupo já vai para os 28 anos, começámos em 1987. O que mudou… Não sei, creio que fomos mudando ao longo dos anos, à medida que íamos gravando discos novos, tendo experiências novas em concertos e tudo isso creio que ajudou a mudar a nossa forma de construir as canções e fazer os espetáculos mas paralelamente creio que foi muito importante conseguirmos uma certa identidade no som, que fez com que as pessoas hoje em dia já consigam distinguir o som da Quinta do Bill, ao mesmo tempo também que vamos conquistando pessoas para esta grande família das canções da Quinta do Bill. Basicamente foi isso, também tivemos sempre uma preocupação de álbum para álbum, numa canção ou outra experimentar outras sonoridades mas sempre muito fiel aos instrumentos que utilizávamos- que é uma simbiose de instrumentos elétricos com instrumentos acústicos e alguns tradicionais- e todos esses ingredientes acabam por construir essa tal identidade sonora da Quinta do Bill.
MYWAY: Como é que foi trabalhar com a Banda Sinfónica Portuguesa e o que é que foi mais estimulante nesse processo?
Carlos Moisés: Este processo de atuar no Coliseu com a Banda Sinfónica foi muito interessante e foi muito enriquecedor para nós enquanto músicos, porque experimentámos revestir as nossas canções com uma sonoridade muito variada através dos inúmeros instrumentos que a Banda Sinfónica tem. Os arranjos foram feitos propositadamente para este formato musical e como eu disse foi muito bom, muito interessante para nós, percebemos realmente que a música dá «pano para mangas», podes conseguir transformar as canções sem perder a sua identidade. Transformá-las para que elas se tornem coisas interessantes e coisas diferentes e penso que isso está bastante patente tanto no CD, como no DVD que gravámos no Coliseu.
MYWAY: Contem-nos um episódio interessante ou engraçado que tenha acontecido após ou durante um concerto.
Carlos Moisés: Sei que há pouco tempo, num concerto, apareceu uma senhora a dizer que nós fomos muito importantes na vida dela e por acaso é coincidência porque o single que foi escolhido para este trabalho foi uma balada que já data de 1996 que é «A única das amantes», do álbum «Trilho do sol». Ela confessou-me que essa música foi muito importante porque estava a atravessar um pocesso muito difícil da vida dela e que a música a ajudou a levantar-se e a ganhar ânimo. Agradeci muito e acabei por refletir um bocado, realmente as canções são importantes para as pessoas. Às vezes pensamos que tudo isto é muito efémero mas com esses casos assim percebemos realmente que as canções mexem com a vida das pessoas e fiquei de certa forma agradado por saber que ela se levantou à custa daquele refrão que diz «tens o mundo a teus pés». Penso que faz todo o sentido acreditarmos que não fazemos só música para nós, que nos dá muito prazer, mas também que mexe com a vida das pessoas.
Paulo Bizarro: Eu tenho uma engraçada que foi de uma vez que fomos para os Açores e eu levei a mochila do meu filho na bagagem de mão. Ele tinha andado a brincar aos cowboys e tinha lá dentro uma pistola. Aquilo foi engraçado, quando passou no raio-x (risos), eu consegui identificar a pistola e dar a volta porque estava convicto que não tinha pistola nenhuma e entrei para dentro do avião. Às tantas entrou a polícia para dentro do avião e tal, para mandar sair as pessoas todas e eu por descargo de consciência meto a mão na mochila e vi realmente que tinha lá a pistola do meu filho, que era de ferro. Mas foi uma história engraçada, depois passei o avião todo com o polícia com a pistola na mão…. e eu atrás dele.
Carlos Moisés (referindo-se a Cató Calado): Agora já lhe passou mas durante muitos anos tinha um ritual antes de entrar em cima do palco que era vomitar… era os nervos (risos), era o sistema nervoso, mas aquilo começou a ser preocupante. Felizmente passado alguns anos, passou (ainda demorou um tempo a passar)! Ele entretanto conseguiu engordar (risos gerais).
MYWAY: Têm notado mudanças no público que vos apoia, a nível de idades?
Carlos Moisés: É interessante porque nós já somos «dinossauros», não é, já existimos desde 1987 e vamos para os 28 anos de existência… Teoricamente, podia pensar-se que temos aquele estrato de pessoas que gostam e que nos acompanham, de determinada idade. Mas é bom sentir que nos concertos vamo-nos apercebendo que essa classe etária vai-se renovando porque aparecem os pais, os avós, aparecem os netos, os filhos… e eu acho que isso também tem a ver com o tipo de música que fazemos. É uma música que, apesar de muitas letras serem letras preocupadas, que apelam à reflexão das pessoas e que as pessoas estejam alertas aquilo que as rodeia, tem aquela componente muito forte: a componente festiva, que nós fazemos questão de transmitir nos concertos. Ou seja, fazer a festa: convocar as pessoas para a festa, para pular e para cantar. Eu penso que essa mais valia é importante no sentido de cativar novos públicos.