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Reportagem polaroid: Festival Hip Hop Sou Eu

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Reportagem polaroid: Festival Hip Hop Sou Eu

No álbum «Ritmo Amor e Palavras», a música «Só Vês o Que Queres Ver» juntava Boss AC  aos Da Weasel. Em rap sobre o a música e o Hip Hop da altura, diziam: «A ideia é ser original e criar a nossa própria cena / Não movimento: movimentos, e assim já vale a pena». Foram precisamente os movimentos dentro do movimento que se juntaram a noite passada no Coliseu de Lisboa para o festival «Hip Hop Sou Eu».

Dos MGDRV a Sam The Kid & Mundo Segundo, entre a nova e a velha escola, do norte ao sul do país, o hip hop que subiu ontem ao palco em Lisboa tem algo em comum: a independência. Com mais ou menos visibilidade, todos fazem um percurso que começa fora dos meios «tradicionais» de divulgação e edição, e crescem nas ruas e obrigam a que mesmo os que não querem lhes prestem atenção. O caso mais flagrante é o de Jimmy P, que chega ao mainstream pelo próprio pé, em crescendo compassado de fãs e atenção mediática.

No coliseu, não foram muitos os que assistiram às atuações. A plateia era constituída por um núcleo duro muito jovem que se mostrou atento e dedicado a repetir as rimas atiradas em flow certeiro. A velocidade com que as rimas iam sendo atiradas, era semelhante à velocidade de cada atuação. MGDRV, ProfJam, Plutónio, e Bispo atuaram pouco mais de dez minutos, mas o ritmo jogou a favor do espetáculo, e embora a atuação de Plutónio tenha tido um fim brusco, todos aproveitaram o tempo que tinham como se tivessem uma hora de concerto. Se do lado de cá a geração era relativamente homogénea, em palco nem tanto. Durante a atuação de Plutónio, uma criança subiu ao palco durante «2765», e Bispo convidou a avó, Dona Lucinda, ao palco.

Foi com a chegada dos GROGnation que se verificou uma das primeiras grandes reações da noite. Muitos dos que se espalhavam pelo Coliseu correram literalmente para a frente de palco assim que o anfitrião Tekilla – que também iria atuar – anunciou o nome da banda de Algueirão – Mem Martins. Da entrada energética à participação de NBC em «Na Casa dos 20», os Grognation explicaram em palco o porquê de serem uma das principais apostas do hip hop nacional atual.

Tekilla foi o anfitrião da noite, mas também subiu ao palco para atuar. A tarefa de suceder aos GROGnation era complicada, já que muitos aproveitaram para ir repôr forças ao bar, mas personagem de Mestre de Cerimónias assenta-lhe bem, e refletiu-se no concerto. A confiança que apresenta transborda para a plateia, e o single «Contra Factos» – que originalmente tem participação de Sam The Kid – com «barras cuspidas acapella» é um dos melhores momentos, assim como a sentida homenagem ao recentemente falecido rapper Short Size em «Só há 1».

As reações às atuações foram aquecendo com o avançar da noite, e Dillaz volta a arrancar a plateia do modo de descanso. O flow irrepreensível na ironia de «Agarra q’é ladrão», ou a história conjugal de «Não sejas agressiva» foram repetidos de cor e com entusiasmo.

Jimmy P sobe ao palco como um dos cabeças de cartaz, e logo a preparação é diferente. O rap de Jimmy inclui banda, o que contrasta com o formato MC + DJ apresentado por todos os outros protagonistas da noite, e enche o palco em concerto portentoso, com cheiro a rock, e homenagem à velha escola do hip hop. A máquina de palco de Jimmy P está bem oleada pela experiência, e isso é evidente na facilidade com que a banda desfila sucessos e o rapper agarra o público, público esse que se dividia entre os fãs de temas como «Storytellers», e «Warrior», e os fãs de sucessos como «O que vai ser», e «On Fire». A união das fações surge com «Amigos e Amantes». As referências a Valete em «Marcha», e «Sente Medo» mostraram que o rapper – ausente por ter um concerto em Leiria – seria uma presença celebrada. A participação do rapper JêPê, aposta de Jimmy para o futuro, trouxe boa energia.

Não foi preciso muito tempo para que a atuação mais aguardada da noite começasse. Sam The Kid e Mundo Segundo, dois dos nomes maiores do hip hop nacional, estão prestes a lançar novo álbum, e juntaram-se em palco. Do novo trabalho ainda só se ouve «Gaia-Chelas», e o brilhante «Tu Não Sabes», por isso, o concerto no Coliseu foi uma espécie de lição de história. Entre a carreira de Sam The Kid e de Mundo Segundo – a solo e nos Dealema – houve músicas como «A Partir de Agora», «Bate Palmas», «Não Percebes»  – clássico de Sam The Kid que continua a ser um hino para os amantes de hip hop – ou «Era uma vez», dedicado à memória dos companheiros perdidos, especialmente GQ e Snake. NBC subiu ao palco para dar alma a «Juventude» e «Raio de Luz», e Maze acompanhou Mundo em temas dos Dealema como «Brilhantes Diamantes», «Escola dos 90», ou «Bom Dia». Uma fã subiu ainda ao palco para interpretar a Sofia do tema «16/12/95», sem falhar uma fala. Do lado de cá, sentiu-se a falta da segunda história da canção. «Solteiro», e «És Onde Quero Estar», temas dos Orelha Negra e Mind Da Gap em que Sam The Kid participa ajudaram a comprovar o toque de midas do rapper e produtor. «Crise de Identidade», de Mundo Segundo, e claro, «Poetas de Karaoke», de Sam, fecharam uma atuação épica que deixou os fãs com água na boca, a desejar mais.

O ritmo das atuações, e o alinhamento bem definido fizeram com que as muitas horas de festival parecessem curtas, e no final sobra a certeza da boa saúde do hip hop nacional, seja do que enche salas grandes, seja do que preenche as ruas suburbanas. Espera-se que o baixo número de assistência não intimide a organização de mais eventos deste género, de espírito independente e de missão celebratória.


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