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Simple Minds no Coliseu de Lisboa: Vivos e não esquecidos
À hora marcada para o começo do concerto dos Simple Minds em Lisboa, ainda a fila à porta do Coliseu era longa. A banda escocesa chegou a Portugal com o álbum «Big Music» para apresentar em arranque de digressão europeia, e encontrou um coliseu esgotado e quente, a contrastar com o frio do Inverno rigoroso. Na plateia, a mesma geração da banda, que nasceu em 1979, de sorriso rasgado perante as recordações, e de braços abertos para as novidades. As novidades, essas, surgiram mais na forma do que no conteúdo. Logo ao início, Jim Kerr avisa que há muitas canções para tocar, e tinha razão. Foram mais de duas horas de concerto, com direito a intervalo e a canções raras.
Os anos de carreira não esbateram a identidade do som dos Simple Minds. O som da guitarra e dos teclados é identificável aos primeiros momentos das canções, e tornam o concerto numa viagem homogénea pela impressão digital da banda. Sem tempo a perder, que havia quase trinta canções por tocar, Jim Kerr não falou muito, mas manteve sempre a ligação com os fãs – muitos viajaram de propósito para ver a banda – enquanto atravessava o electro-rock negro e nostálgico, as canções de refrão na ponta da língua, pronto a ser cantado em tom de hino de estádio dançável. Além da identidade dos Simple Minds, o que se ouve são também os anos 1980 bem vincados, mesmo nas canções mais recentes, como «Blindfolded». Ao ouvir Jim Kerr, não deixamos, ainda, de ouvir detalhes que soam a David Bowie. É assim em álbum, e é assim ao vivo quando ouvimos «Honest Town», do mais recente «Big Music».
Não foram precisas muitas canções para que se confirmasse que quem estava presente no Coliseu de Lisboa conhecia muito além de «Alive and Kicking» e «Don’t You (forget about me)». As canções de «Big Music» foram celebradas com entusiasmo, mas ainda na primeira parte, foi com a chegada de «Love Song», de 1981, e mais tarde «Waterfront», de 1983, que se deram as primeiras grandes reacções. Logo após «Waterfront», seguiu-se onda eufórica provocada por «Don’t You (forget about me)». Foi precisamente quando a banda seguia já em caminhada épica que Jim Kerr anunciou o intervalo e pediu em tom de brincadeira para que ninguém saísse. A longa pausa teve o feito de anti-clímax, cortando o entusiasmo concerto no seu ponto mais alto até ali. No regresso, não foi logo Jim Kerr a entrar em palco. Nesta digressão, a banda conta com duas cantoras, uma para cada «metade» do espectáculo. Em ambas as partes, as cantoras tiveram direito a um momento de protagonismo, em que cantaram a solo. Se na primeira parte a cantora se manteve discreta, e muitas vezes até tímida, a segunda cantora mostrou-se mais confiante, e foi recebida com maior reacção. Para tal, também terá contribuido o tom das canções que cada uma interpretou. Na primeira parte, um tema quase acústico deixou muita gente colocar a conversa em dia, enquanto na segunda parte a cantora arrancou poderosa e dançante com «Book of Brilliant Things», e «Easter at Easter». Jim Kerr regressa, e «All The Things She Said», um dos maiores sucessos dos Simple Minds, provoca uma das maiores reacções da noite.
Entre o silêncio e a festa, o concerto dos Simple Minds foi uma viagem à memória dos muitos que assistiram, que teve, naturalmente, o maior êxtase em «Alive and Kicking». Arregaçaram-se camisas, amarrotaram-se pullovers, cantou-se como hino, e a música voltou a provar que não tem idade. «Sanctify» seguiu o espírito até ao encore.
Em concerto de best-of, houve espaço para «Belfast Child», canção-protesto que Kerr disse não interpretar à muito tempo, mas sentir vontade de o fazer agora, dadas as circunstâncias. O momento é um dos mais bonitos do concerto, mas a esperança é que não volte a acontecer nada que faça com que os Simple Minds a queiram voltar a tocar. Para o final, a versão quase irreconhecível, e por isso mais interessante, de «Riders on the storm», dos The Doors, e a certeza que neste serão não faltou nada aos fãs dos Simple Minds.