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Tara Perdida: «O público é que vai decidir o nosso futuro»

Tara Perdida - Paradise Garage
©Divulgação

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Tara Perdida: «O público é que vai decidir o nosso futuro»

Os Tara Perdida encerram as homenagens ao falecido vocalista João Ribas já esta sexta-feira, 7 de Novembro. O novo ciclo arranca pela voz de Tiago Afonso, dos Easyway, que assume o papel de novo vocalista dos Tara Perdida. Ao Myway, o guitarrista Ruka garante que Ribas «é insubstituível», mas que os Tara Perdida vão continuar enquanto o público os quiser ouvir. Em 2015 há novo álbum.

 

O Ribas é insubstituível, por causa do carisma, por causa da pessoa singular que era, etc. O que o Tiago vai fazer é cantar as nossas músicas.

 

MYWAY: Os Tara Perdida vão actuar no Paradise Garage no próximo dia 7, em concerto que serve de fecho de ciclo, mas também de apresentação do novo vocalista, Tiago Afonso. De que forma é que sentem que ele representa o legado do João Ribas?

Ruka: Bem, em primeiro lugar o legado do João Ribas é o legado dos Tara Perdida. O João Ribas é o ícone que a gente, sabe, com a carreira que a gente sabe, mas os Tara Perdida é que fizeram o trabalho todo. Mais ou menos a partir de 1999, a gente agarrou na liderança interna da banda, na composição, e isso tudo. Portanto, o legado é dos Tara Perdida, onde o Ribas se insere também, mas claro, o Ribas é o ícone.

Em relação ao Tiago, ele não vai lá para imitar o Ribas. O Ribas é insubstituível, por causa do carisma, por causa da pessoa singular que era, etc. O que o Tiago vai fazer é cantar as nossas músicas. A gente continua a fazê-las da mesma maneira, a forma de composição é igual a quando lá estava o Ribas. O que o Tiago vai fazer é a mesma coisa que o Ribas fazia, cantar aquilo que a gente faz. Achamos que ele é a pessoa certa porque tem uma grande voz, está dentro da área punk-rock há muito tempo, já fez tournées europeias com os Easyway – quando procurámos alguém queríamos voz, mas queríamos experiência – e achamos que o Tiago é o gajo indicado para entrar num novo ciclo, e continuarmos a fazer a nossa vida desta maneira. O público é que decidirá o nosso futuro, nós claro que acreditamos sempre, e a nossa obrigação é essa mesmo, acreditar. Mas não há a cena de substituir o Ribas…o Ribas morreu. Depois, claro, há conversas internas…sei lá, eu estive com o Ribas até ao fim da vida dele. Acho que o Tiago é a pessoa certa. O Ribas ia gostar do Tiago, se a gente quisesse falar assim. Acho que ia adorar o disco novo, e dizer para a gente ir em frente e partir tudo. Isto é tão recente, é normal que a dor exista muito, mas o tempo depois vai adormecendo a dor, mas acho que ele ia gostar de tudo o que a gente está a fazer, e das homenagens. Fazemos tudo no sentido dele. Neste disco estão lá duas músicas dedicadas a ele, e o próprio nome do disco, o conceito do disco anda à volta desse assunto, mas claro, tem músicas novas com a lírica cada vez melhor. A gente quer chegar um ponto de marcar a diferença em relação às letras.

 

MYWAY: Antes de voltarmos ao concerto, podemos já falar precisamente sobre esse disco, que vai chegar em 2015…

Ruka: Acho que é cedo demais, temos agora o Paradise Garage. Posso dizer que vamos entrar em pré-produção em Dezembro, e entramos em estúdio em Janeiro. Isto é tudo o que queremos, não quer dizer que as datas vão lá bater. Isto é tudo coisas hipotéticas, e depois o nome do álbum, o nome do álbum e das músicas, acho que é cedo para falar já. Na altura em que entrarmos em estúdio com certeza que vai existir novamente uma acção de promoção para o disco. Agora, neste caso, estar a falar sem ter falado antes com as editoras e com as agências em relação ao disco…acho que o melhor é esperar e atacar agora o que estamos a fazer. Estamos a apresentar o Tiago, que já vai entrar como vocalista dos Tara Perdida no concerto do Paradise. Vamos dividir o concerto em duas partes, uma que é de Tara Perdida, e outra de homenagem, e pronto, aí viramos o ciclo, e estão lá as pessoas. Está lá o Samuel (Palitos) que era dos Censurados, está o João Pedro Almendra que era dos Cu de Judas…Tentei que numa música que é o «Memórias» estejam as três bandas em que o Ribas teve, juntas, a tocar uma música, vai estar o Tim a tocar o «Lisboa», o Rui Almeida, o Diogo Ramos – que andou na tournée – o sobrinho dele na bateria (o Ribas ia adorar ver o sobrinho na bateria!). Se tu reparares no que está para trás, até o nome do álbum, «Dono do Mundo», já vem um conceito nosso…a gente já sabia o que se estava a passar. Aquele disco também é trabalhado com algumas coisas nesse sentido. Há lá um grande momento do Ribas com a família toda, com os sobrinhos todos…houve alguns momentos em que tentámos que o Ribas tivesse feliz. Ele é o nosso anjinho da guarda, agora. Pelo menos o meu é de certeza, e é assim que vou continuar a minha guerra.

 

MYWAY: Sentiram logo que a melhor forma de homenagear o Ribas era continuar e olhar para a frente?

Ruka: Não. Ainda hoje custa, não é? Aqueles primeiros concertos que fizemos…nem te sei explicar o que é que sentes ali em cima, e quando sais…é uma coisa do outro mundo. Lembras-te que cancelámos o Garage quando o Ribas foi internado e morreu. Então como tínhamos a sala paga, queríamos fazer isto com os amigos mais chegados da velha guarda, e por isso voltámos ao Garage. Os outros concertos, do conceito «Tara Perdida e amigos – Saudades sem fim», eram concertos que estavam marcados. Houve promotores que cancelaram, e houve outros que disseram ‘não, nós queremos fazer’. Nesse caso tínhamos obrigações, então foi a maneira de a gente voltar a tocar, senão acho que hoje ainda não tínhamos voltado a tocar. Foi o outro guitarrista, o Tiago, que me puxou para tocar, porque eu não estava a conseguir. Foi assim devagarinho. Era um alinhamento de 22 músicas, então tínhamos que ter gente fresca, nova, que não quebrasse. Então escolhemos pessoal novo, acabámos por meter o Diogo Ramos numa de fã, e o Tiago Afonso numa de cromo, que o gajo tem uma grande voz! Naquela música do «Até ao fim», dedicada ao Ribas, eu tenho vergonha de cantar ao lado do Tiago! Mas eu canto aqui um bocado, umas palavras para o Ribas…há muita gente que gosta, e eu fico satisfeito com isso! Até havia gente que achava que eu é que ia ser o vocalista dos Tara Perdida!

 

Somos verdadeiros, não estamos ali com grandes truques, não há grandes encenações, metes o teu coração ao alto.

 

MYWAY: Nunca pensaste nisso?

Ruka: Não, e sabes porquê? Porque eu adoro tanto os Tara Perdida que não queria estragar! Aminha voz não é má, mas é mais num registo de viola de caixa, uma coisa mais intimista. Agora, eu gosto de fazer as coisas bem feitas, e assim não ia fazer bem a voz, nem a guitarra. A voz não tem o disparo suficiente para aquela banda, ao nível que está, e eu sou uma pessoa consciente, e amo tanto aquilo que não queria estar a estragar. Sem hipocrisia, se eu fosse um grande cantor, e tivesse uma grande voz? Se calhar arriscava, mas isso tem de ser com realismo. De outra forma não, eu não sou surdo, vi logo que não era eu. Nem queria! Isso nunca se meteu em questão. Houve pessoas que disseram que devia ser, por causa do feeling e isso tudo, mas não é por aí. A gente quer muito mais, e queremos alguém que cantasse a sério, que é o caso do Tiago Afonso. Claro, a nossa maneira de fazer as coisas é sempre a trabalhar com ele, e dizer-lhe: ‘aquela parte é assim, aquela é assado, não podes fazer daquela forma’, que é também para não desmistificar a nossa música. Ele vem de uma banda que é os Easyway, que é um estilo diferente, mais soft, mas ele aqui canta em português, e acho que neste país ninguém conhece o Tiago Afonso. Primeiro, pouca gente conhece em inglês, porque neste país 50% não sabe inglês. Acho que a gente vai conseguir dar um input, e as pessoas vão perceber que está aqui um dos melhores cantores de Portugal. Vou dizer-te em tom de brincadeira: eu sou vizinho do Tiago Afonso há muito tempo, então, de cada vez que o encontrava dizia-lhe tipo: ‘ohh, olha o melhor vocalista de Portugal’! Ele dizia sempre: ‘lá estás tu pá!’, e eu ‘não estou nada, é a minha opinião!’. A ironia do destino é que ele veio cá parar. Depois tem coração, e naquela banda as coisas vivem muito do coração. Somos verdadeiros, não estamos ali com grandes truques, não há grandes encenações, metes o teu coração ao alto. Claro, com muito trabalho, tens de trabalhar primeiro. Se trabalhares muito primeiro, depois é sempre a andar.

 

MYWAY: Sentes então que a chegada do Tiago Afonso manteve aquele misticismo dos Tara perdida sobre o qual falaste anteriormente?

Ruka: O júri disso vai ser o público. Nós como compositores da banda sabemos perfeitamente que…pá, não é o Ribas. Vou ser muito directo, radical e frio: se as pessoas querem ver os Tara Perdida para ver o Ribas, mais vale não irem ao concerto. As pessoas estão à espera do quê? De ver o Tiago e dizer, ‘ah, parece o Ribas’, para isso mais vale não ir. Não há ninguém que sofra mais com isso do que nós. Não há ninguém. Nós criámos uma marca, criámos a nossa banda, há vinte anos que trabalho arduamente para a banda, por isso aquilo que fiz e que o Tiago fez, é o que vamos continuar a fazer, continuar a compor as nossas músicas, aquilo em que a gente acredita. Não conseguimos estar a dizer que o país está mal e não há solução. Podemos dizer que o país está mal e não há solução, mas vamos dar a volta à situação, e criar alicerces para trabalhar, e ser feliz e levar a vida em frente. Não pode ser só dizer mal e ficar pelo mal! A vida não é fácil, mas à sempre solução! O espírito é esse, essa é a nossa maneira de viver, e é assim que vamos continuar a viver. Não vamos estar agora bater na política em 14 músicas, não vamos estar sempre a falar das mesmas coisas. Queremos mudar as coisas. Não vamos mudar nada, mas podemos mudar alguns fãs nossos, algumas mentalidades em termos da maneira de olhar para a vida, com um espírito de tentar, de morrer a tentar, não como sempre se respirou em Portugal, que é a inveja, e o ‘deixa estar isso que já ‘tá bom, não vais estragar. É assim que a evolução acontece, quando a gente tenta. Por isso, Tara Perdida é uma banda que tem de morrer a tentar. O apanágio desta banda é tentar, vamos ver, vamos tocar, vamos ver como é que soa. Só fica mal depois de tentar. O truque é não ter truque, é não ter truque, é sermos nós próprios.


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