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Vodafone Mexefest – Reportagem do segundo (e último) dia

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Vodafone Mexefest – Reportagem do segundo (e último) dia

Texto por Joana Canela e Marta Rocha, Fotografias por Nádia Dias

 

Façamos o balanço da edição de 2014 do Vodafone Mexefest, ainda antes de contarmos como foi a última noite. O festival que enche de música e gente (e chocolate quente, nunca esquecer) a Avenida da Liberdade, chegou ao seu melhor momento. A concentração das salas na zona dos Restauradores, e o aumento dos espaços em relação ao que acontecia anteriormente facilita as viagens, e provoca menos desilusões causadas pela impossibilidade de entrar «naquele» concerto, e até a distribuição dos horários facilita a movimentação. Quanto à música? Passamos a contar.

20h, Sociedade de Geografia de Lisboa Como no primeiro dia, começamos a jornada de Vodafone Mexefest devagarinho. Depois de termos aberto as hostilidades na estreia da edição de 2014 do festival com Ana Cláudia na Sociedade de Geografia de Lisboa, voltamos ao local para ver o brasileiro Tiago Iorc encantar sozinho com uma guitarra.

Tiago Iorc explica logo que cresceu em Inglaterra e nos EUA, justificando assim algumas das suas letras em inglês, mas também a toada indie folk luminosa que transmite mesmo em português, em canções como «Um dia após o outro», ou «Forasteiro». Para além dos originais, também versões de «Morena», dos Los Hermanos, com o desespero à flor da pele que a banda de Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo tão bem transmitia, «Tempo Perdido», original da banda brasileira Legião Urbana, ou mesmo «Magic», dos Coldplay – truque geralmente usado por DJs para grandes multidões – estiveram presentes.

Em palco, Iorc esbanja simpatia, e à vontade de quem nasceu para ele, e transforma o concerto em conversa entretida. O músico mostrou-se (muito) interessado em saber de onde vinham as pessoas que compunham a sala quase cheia, e abraçou uma fã que disse ter vindo propositadamente da Irlanda. Para além do incentivo ao estalar de dedos frenético, o músico atirou-se ainda a uma versão de «Dia Especial», de Cidadão Quem, cantada sem microfone entre as cadeiras da sala. Houve ainda tempo para uma música nunca tocada ao vivo, e para «Música Inédita» conquistar corações. Bonito.

20h30 – Ateneu Comercial – Este ano, os Capitão Fausto correram os festivais todos – até aqueles onde não tocaram. No Mexefest decidiram ir à paisana. Manuel Palha, Salvador Seabra e Tomás Wallenstein participaram no festival com o seu projecto paralelo os Modernos, deixando Domingos Coimbra juntar-se em palco com o seu número de pandeireta. O teclista Francisco Correia ficou-se pela plateia; ali era Wallenstein a ocupar as ocasionais teclas.

A festa (que é um concerto dos Modernos) teve lugar no Ateneu Comercial e agarrou amigos e desconhecidos. No cartório trouxeram o seu único EP «#1» e uma cover da poderosa «Bisturi», dos extintos Feromona. Despreocupados e vibrantes, mostraram o seu lado mais expansivo e divertido, brilhando com «Panado Cister» e conquistando com o single «Só Se Te Parecer Bem».

20h55, Estação Ferroviária do Rossio – Vindos em passo acelerado do concerto de Tiago Iorc na Sociedade de Geografia, chegamos ao concerto de Curtis Harding quando músico e banda já distribuíam alma a cavalo das guitarras. Blues, rock n’roll, e soul andaram de mãos dadas e ancas irrequietas, em concerto sem grandes conversas ou paragens. Só houve tempo para elogiar a beleza da cidade, onde passaram apenas «algumas horas», e o resto foi Groove e alma. Canções como «Drive My Car», «Next Time», ou «Cast Away» estiveram no alinhamento, mas foram a versão de «Ain’t no Sunshine When She’s Gone», de Bill Withers, e «Keep On Shining», brilhante single do músico, a tocar no Gospel, que provocaram reacções maiores numa plateia recheada de curiosos. Saímos da estação de alma cheia.

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21h36 – Coliseu dos Recreios – A bonita e simpática Sharon Van Etten trouxe tanto amor ao Coliseu quanto o que o seu público tinha para lhe dar. Dois anos depois de «Tramp» e os mesmos depois do concerto no Lux, a nova-iorquina voltou a Portugal com a mesma doçura, mas com um álbum diferente às costas. «Are We There» é um disco mais negro e mais pessoal, que expõe a dor da difícil escolha entre uma relação amorosa e uma carreira na música. Felizmente para nós, a música ganhou, e a separação acabou por inspirar a composição do novo álbum, lançado em Maio deste ano.

«O que é que vocês estão a fazer aqui? Vieram ver-me? (…) Sou uma miúda bastante sortuda!», diz uma tímida Sharon Van Etten a um Coliseu praticamente cheio. Ali se reuniam pessoas de todas as salas da Avenida para ouvir a implacável voz de Sharon. À primeira vista não seria fácil, com o seu folk emotivo, agarrar o público que, até ali, se apressava de sala em sala, numa correria necessária. Mas a verdade é que uma grande parte dos festivaleiros da espécie Mexefest nutre, como qualquer ser humano com sentimentos, um carinho especial por Sharon Van Etten.

Foi assim que, sem medos ou inibições, a cantora de 33 anos se apresentou ao Coliseu, cantando «Afraid Of Nothing», a primeira música do seu último álbum, num registo negro, a fazer recordar Chelsea Wolfe. «Taking Chances», «Break Me» e «Your Love Is Killing Me» registaram os picos de intensidade do concerto, mas o amor das suas canções espalhou-se por todo o alinhamento, que incluiu uma nova música «nunca antes ouvida».Certamente voltará a ser tocada. Quem sabe em breve, de novo em Portugal.

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22h30 – Ateneu Comercial – Depois de terem passado ainda este ano pelo último dia do NOS Primavera Sound, no Porto, os Cloud Nothings voltaram a Portugal para outro concerto destruidor, desta vez em Lisboa. No cartaz do Vodafone Mexefest, o grupo norte-americano ocupava um lugar determinante. Depois do concerto explosivo de Wavves no Ateneu na edição do ano passado do Mexefest, as esperanças para esse lugar eram este ano depositadas em Cloud Nothings.

As expectativas não foram defraudadas. O trio de ataque, equipado com uma bateria incansável, disparou temas sem sinais de cansaço. A apelar à rebelião, «Stay Useless» foi um exemplo de caos no concerto mais fogoso da noite. Pelo mesmo caminho foi a nova e já bem gritada «I’m Not Part Of Me», do último álbum «Here and Nowhere Else», editado em Abril deste ano. Saltos, berros,muito mosh e algum crowdsurf resumem o concerto de regresso dos Cloud Nothings a Portugal.

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23h, Cinema S. Jorge – Ainda as portas da Sala Manoel Oliveira, no Cinema São Jorge, não tinham aberto, e já as filas para ver Perfume Genius atravessavam o foyer, e desciam as escadas do edifício lisboeta. A fidelidade do culto ao alter-ego de Mike Hadreas confirmava-se. Desta vez, o músico trazia o álbum «Too Bright», e subiu ao palco de negro, como as canções que canta, e de batom vermelho.

Na canção «Dark Parts», do álbum «Put n 2 it», Perfume Genius canta: «I Will take the dark part of your heart, into my heart» («Vou tirar a parte negra do teu coração para o meu»).  Na verdade, o que Perfume Genius faz é pegar em todas essas partes obscuras do coração de cada um que o ouve, e deixá-las à flor da pele. Entre o sussurro e o grito, Perfume Genius taz com ele todas as dores, e não deixa que a intensidade que coloca na interpretação não esteja à altura da solenidade das canções. Ouvido sempre em silêncio absoluto, antes de explosões de aplausos, o músico dança como se ninguém o visse, e rebolando as ancas, hipnotiza quem o vê.

Se as canções de «Too Bright» se aproximam mais da luz, canções como «Take Me Home», o já referido «Dark Parts», ou «Sister Song», de «Put your back n 2 it», transbordam de intimidade obscura. «Learning», do primeiro álbum com o mesmo nome, é interpretado a quatro mãos no mesmo teclado, e soa como imaginamos uma caixa de música mágica. Para o final, «Queen». O single épico do novo disco, a ser celebrado com a pompa que pede, e a terminar o concerto com o fogo que vinha aumentando desde o início. A continência de agradecimento tímido fechou de vez a actuação. No final, a sensação é de que os corações estão, de facto, mais luminosos.

23h20 – Estação Ferroviária do Rossio O nome Palma Violets facilmente vos poderá soar familiar. Mas foi só no ano passado que editaram o seu primeiro álbum de estúdio, «180», de onde retiraram a já muito rodada «Best Of Friends».

São miúdos novos e despretensiosos, que tiveram a sorte de serem apadrinhados pelo NME. Mas o seu valor vai para além das palavras dessa revista ou desde site. Se havia a possibilidade de levarem uma ensaboadela de banda indie, rapidamente eles se desmarcariam do rótulo depois dos primeiros dez minutos de concerto. O indie rock estava em palco, mas acompanhado de uma dose de rock psicadélico temperada com garage. Uma dupla furtiva de vozes e uma fúria de instrumentos deram ao grupo britânico o carimbo de uma das actuações mais poderosas da noite. Do repertório fizeram parte «Tom The Drum», «Best Of Friends» ou «Take Me Home», mas também outros novos temas, a descobrir num disco que já cheira a breve.

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00h15, Coliseu dos Recreios – Todos os anos há um caso destes no Vodafone Mexefest, um artista ou banda que sobe ao palco perante a lotação esgotada da maior sala do festival, e é recebido com devoção inquebrável. Já tinha acontecido com James Blake, ou Woodkid, e desta vez, os Wild Beasts foram os eleitos. Se no dia anterior St. Vincent também tinha enchido o Coliseu de Lisboa, os Wild Beasts deixaram-no a abarrotar, e foram recebidos por uma plateia que reflectiu e devolveu a dedicação que a banda deixou em palco.

Ao longo de pouco mais de uma hora e meia, os Wild Beasts atravessaram a discografia entre canções que fazem dançar a contemplação em batida coerente. Temas como «Sweet Spot», «Daughters», «Hooting & Howling», ou o single «Wanderlust» com a pungente frase «Don’t confuse me with someone who gives a fuck» a fazer soltar estados de espírito em formato de dança, foram alguns dos temas mais celebrados num concerto em que a celebração foi a constante.

No final de Maio passado, os Wild Beasts tinham tido uma passagem discreta por Portugal, no palco pequeno do Rock In Rio Lisboa. Desta vez, a banda encontrou um festival que lhes serve perfeitamente como casa, e puderam alimentar livremente todo o amor que os une ao país. Entre elogios emocionados, e agradecimentos sentidos, fecha-se o concerto, e preparamo-nos para descansar as pernas. Para o ano há mais.

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