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5-30: «A arte tem de chocar»

5-30 entrevista
©Divulgação oficial

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5-30: «A arte tem de chocar»

Encontrámos os 5-30 no ninho que lhes dá nome, a porta 530, que dá entrada aos estúdios «iá». Lá dentro, Carlão, Fred, e Regula trocaram elogios, exibem um orgulho e amor incontido pelo projecto que nasceu com a actuação dos Orelha Negra no Festival Sudoeste do ano passado, e resultou num disco editado quase de surpresa no final de Março. Ao mesmo tempo que mostram admiração mútua, são «parceiros no crime», e em conversa com o MYWAY, admitem a intenção de chocar, falam sobre a importância de Sam The Kid para os 5-30, e do «ponto alto» que vai ser tocar ao vivo. Chegou a hora.

 

MYWAY: Os 5-30 nascem porque o Fred quis fazer beats para o Carlão rimar. Essa vontade ditou o tom do álbum, ou ele mudou muito entretanto?

Fred: Eu tinha uma ideia mais ou menos abstracta do que queria fazer. A partir do momento em que o Carlão aceitou, e o Regula entrou para a banda, o caminho foi sendo desenhado consoante a nossa visão.

 

MYWAY: O estilo do Carlão e do Regula é muito, juntaram-se os dois por vontade de ter um equilíbrio?

Fred: Não pensámos muito nisso, foi mais a vontade de estarmos os três juntos a fazer alguma coisa, do que pensar em fazer em alguma coisa diferente.

Regula: Sim, desde criança que tenho o sonho de fazer música com este rapaz que está aqui (aponta para Carlão).

 

MYWAY: Como é que foi a experiência de concretizar esse sonho?

Regula: Ainda está a ser muito boa. Às vezes penso que ainda estou a sonhar, e depois acordo e estou numa entrevista com ele, em que ele me está a elogiar, e eu penso: yeeaahh. (risos)

 

MYWAY: E consegues estar à vontade?

Regula: Consigo porque ele é um gajo espectacular, muito humilde, tal e qual o que eu pensava que ele era antes de o conhecer.

Carlão: Ok, eu vou lá fora agora, um bocadinho…

 

 

«Não foi rimar num disco qualquer, foi rimar acompanhado pelos melhores» – Carlão

 

 

MYWAY: Carlão, este estilo é completamente diferente do que faziam em Dias de Raiva, e do que fazes com Algodão, e aproxima-se um bocadinho do que fazias com Da Weasel. Tinhas saudades deste registo?

Carlão: Eu achava que não, e aquilo que ia fazer para este disco até era uma coisa diferente, mas depois eles começaram a puxar, e acho que foi muito pelo Regula, que foi das coisas mais frescas no rap nacional que eu ouvi nos últimos tempos. Quando fizemos o concerto com Orelha Negra, na noite anterior ele tinha feito o concerto dele, que nós vimos, acho que essas coisas, muito sem dar por isso, foram fazendo com que se instalasse uma vontadezinha que eu nunca quis assumir. Entretanto, os beats foram um bocado para esse lado também, o Regula rimou, o Samuel (Sam The Kid) rimou, e eu às tantas dei por mim a rimar também e gostei muito daquilo que fiz, soube-me bem. Era uma cena que não estava à espera de fazer, mas ainda bem que fiz. E fiz ao lado de dois dos rappers mais fortes em Portugal, não foi rimar num disco qualquer, foi rimar acompanhado pelos melhores.

 

MYWAY: Só farias isto com estas pessoas?

Carlão: Neste momento sim, tanto que eu estive a declinar muitas coisas.

Regula: Mas a intenção é que ele continue a fazer sem nós, mesmo que continuemos a fazer cenas juntos.

Carlão: Eu já fiz uma participação num projecto de um gajo do Porto…

Regula: Mas mesmo sem ser participação, pedires mesmo um beat a alguém

Carlão: Ah, isso não, sozinho acho que não, mesmo. É um exclusivo 5-30. Não me parece que vá acontecer, mas já não digo nada, porque há pouco tempo também dizia que não ia rimar, e acabei a fazê-lo.

Regula: Atenção que há bocado estavas a dizer que ele estava a fazer uma coisa mais ou menos idêntica a que fazia nos Da Weasel, mas no fundo ele traz aqui uma coisa nova, que é o papel de cantoria.

 

MYWAY: Estávamos a falar do Sam The Kid, pode dizer-se que ele é o quarto 5-30, da mesma forma que se falava sempre do quinto Beatle?

 

Carlão: Sim, ele está lá no quarto canto, como ele diz no «Placas».

Regula: A participação dele não foi mais activa por ele ter outros projectos no forno.

Fred: O Samuel para mim é um bocado como o Carlão é para o Regula, no sentido de ser uma referência. É a minha maior inspiração, é uma pessoa que mesmo não estando presente a 100%, quando está, a opinião dele é muito importante. Ele tenta sempre dar uma opinião construtiva, e isso ajudou-nos muito a definir algumas coisas quando tínhamos dúvidas. As opiniões dele foram muito importantes.

Regula: A capa, por exemplo, foi ideia dele.

Carlão: Ele tem uma precisão cirúrgica, sabes? Vai directo à cena.

 

 

«Seja qual for o tema sobre o qual escrevo, tento sempre chocar» – Regula

 

 

MYWAY: Em todas vossas entrevistas fala-se sempre do choque, da frontalidade da linguagem nas vossas canções. Interessa-vos chocar, ou não é algo em que pensem?

 

Regula: Seja qual for o tema sobre o qual escrevo, tento sempre chocar. É isso que eu espero ouvir de um artista, como ouvinte. Quero ouvir algo que me choque e que me faça voltar atrás para entender bem.

Carlão: Eu acho que não tentando muito acabo por fazê-lo, mas depois há coisas que achas que vão ser na boa, e chocam muito. Mas eu revejo-me muito nisto que o Regula diz do choque. Acho que a arte tem de chocar, e o choque não tem que ser uma coisa negativa. É algo que te abana, a arte tem que ter sempre isso. É aquele tipo de coisa que não te deixa indiferente, e nesse aspecto acho que sim, que este disco é um choque do início ao fim.

 

MYWAY: Interessou-vos também serem diferentes ao nível da sonoridade?

Regula: Isso é aqui com o artista da maquinaria, ele é que fez a magia da produção (aponta para Fred). De facto, trouxemos uma sonoridade nova para cá graças à magia do Fred.

Fred: Acho que aí também teve um bocado a ver com o que nós íamos conversando os três. Como tinha dito há bocado, íamos definindo o caminho, mas serviu-me muito estar há muitos anos com os Buraka, e por outro lado com o Samuel e com os Orelha (Negra), em que tens uma vertente mais hip-hop, e nos Buraka o lado mais electrónico de uma canção. Eu tentei fazer isso o melhor possível.

Regula: O resultado foi tão bom, que o Samuel era para ter participado com ele nas produções e nem sequer fez nada.

Fred: Nem é só a música, porque eu mandava um beat para eles, e o Carlão aparecia logo com um grande refrão…

Regula: Foi muito fácil a criação de música, todos nos inspirámos uns aos outros, estamos aqui muito perto uns dos outros, temos umas vibrações positivas. Claro que há sempre algum desacordo, que é normal, mas de resto foi impecável.

 

MYWAY: Vocês trabalham todos aqui nos estúdios «iá», já trabalhavam antes separadamente, ou juntaram-se para o projecto?

 

Fred: Quando viemos para aqui, o 5-30 já estava a ser feito, mas depois juntámos o útil ao agradável, e o processo foi acelerado por estarmos todos aqui, ajudou estarmos aqui no 530, e foi por isso que ficou o nome 5-30.

 

 

«Toda a gente tem gostado e isso é o maior prémio que podes ter» – Fred

 

 

MYWAY: O vosso primeiro single «Chegou a Hora» encaixou perfeitamente na estratégia de ir revelando pouco até largar a bomba. Foi propositado?

 

Fred: Foi. Eu até queria que no dia em que saiu a música saísse logo o álbum, mas pronto fizemos desta forma e queríamos causar alguma surpresa. Agora, ficámos surpreendidos com a reacção tão forte das pessoas. Nós achávamos, e continuamos a achar, que está um bom trabalho, e gostamos muito dele. Agora, Quando sai, não depende de nós, e isso tem sido muito positivo, toda a gente tem curtido e dado o maior apoio, não só pessoal do hip-hop…

Regula: Pessoal que gosta de música!

Fred: Sim, desde o senhor da pastelaria, até ao meu filho, ao meu primo, toda a gente tem gostado e isso é o maior prémio que podes ter. Agora acho que tocar ao vivo e ter as pessoas cantarem as músicas vai ser a maior emoção, e eu vou ter que me aguentar ali…Porque que começou aqui devagarinho, e vai crescendo. Esse ponto será o mais alto, estarmos juntos em cima do palco. Se tudo correr bem, o pessoal já conhece as músicas e já as vai cantar.

Regula: Ainda vais ver o Fred a chorar! (risos)

Fred: Eu ponho a toalha à frente!

 


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