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António Zambujo no Coliseu de Lisboa: Raízes pelo mundo

Antonio Zambujo - Coliseu de Lisboa
©Nádia Dias para o MYWAY

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António Zambujo no Coliseu de Lisboa: Raízes pelo mundo

Diz o lugar-comum que não se deve voltar onde se foi feliz. Felizmente, António Zambujo não se preocupa tanto com os clichés quanto nós – que até os usamos para iniciar reportagens – e regressou esta quinta-feira ao Coliseu de Lisboa onde pelo qual tinha passado em 2012. Desta vez, o motivo do concerto era o lançamento do álbum «A Rua da Emenda», mas a viagem foi além desta.

A meio do concerto, Zambujo falava da importância das raízes e da cultura para «não perder o norte» a uma identidade nacional muitas vezes à deriva. O que o músico faz com as canções, é precisamente explorar as raízes, e levá-las a ver o mundo. É por isso que não soam estranhas, ou sem sentido, transições entre os Açores, com «Chamateia», e o Alentejo onde Zambujo nasceu, e que chega pela moda «Quinta-feira da Ascenção», e «Para que quero eu olhos». A viagem pelo Alentejo foi acompanhada pelos cantores Bernardo e Eduardo Espinho, e com os três cantores em palco, este pareceu cheio, e a ovação foi a merecida. Voltemos às viagens. Quando ouvimos «Barata Tonta», ou o brilhante «Algo Estranho Acontece» vemo-nos a dançar num qualquer bar da América do Sul, e «Reader’s Digest» – escrito por Miguel Araújo – é fado cantado no Brasil. O Brasil, esse, voltaria no encore, com uma versão deliciosa do clássico «Valsinha», de Chico Buarque.

Não é só pelo mundo que Zambujo viaja. Em flirt constante e correspondido com a audiência, o músico viaja pelo amor e pelas suas fases. A leveza malandra de sorriso no canto da boca com que tornou «Flagrante» famoso domina o concerto, e é com ela que canta «Tiro pela Culatra» – onde um jantar que era para ser a dois se torna a três, acabando com as intenções de engate «matador» do protagonista da história – ou «Flinstones», sobre «as coisas que um homem às vezes inventa quando pensa que está a enganar as mulheres». Zambujo não é, no entanto, só malandro. A fase de encantamento surge com «Despassarado», e ouvimos desgosto em «Canção de Brazzavile», com letra do escritor angolano José Eduardo Agualusa.

Em palco, Zambujo esteve acompanhado por Bernardo Couto (guitarra portuguesa), José Manuel Conde (clarinetes), João Moreira (trompete) e Ricardo Cruz (contrabaixo e direção musical, mas foi sozinho que se atirou ao clássico de Amália, «Foi Deus». Zambujo arrancou o tema acapella, e enfrentou o arrepiante silêncio absoluto de um Coliseu bem composto para o ouvir. Ganhou. A ovação foi uma das maiores da noite, e uma das mais merecidas.

No final, «Pica do 7» foi cantado de cor, e «Lambreta» fechou o concerto já no encore, enquanto o músico ainda distribuía o charme português de anca solta que o torna único.

António Zambujo regressa esta noite ao Coliseu de Lisboa.

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