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Cláudia Franco: «Eu tenho uma equipa fantástica e não os trocava por ninguém»

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Cláudia Franco: «Eu tenho uma equipa fantástica e não os trocava por ninguém»

Cláudia Franco é a cantora revelação no panorama do Jazz em Portugal. O seu disco de estreia «Soul Dance» é o ponto de partida para um regresso aos palcos do CCB dia 6 de Junho, palco que irá pisar pela segunda vez. Enigmática, sorridente e de «pés bem assentes na terra», assim se mostrou Cláudia Franco em conversa com MYWAY. Ficámos a saber mais sobre esta artista e o que a move.

 

MYWAY: Conta-nos como é que surgiu a paixão pela música e como é que ascendeste profissionalmente.

Cláudia Franco: A paixão pela música sempre esteve cá, desde que me lembro sempre adorei cantar, sempre adorei ouvir música e não sinto que houve uma coisa que despertou isso… (risos) deve ter nascido comigo, deve ter sido isso. Até conseguir gravar o álbum levou um bocadinho de tempo… Eu sempre cantei e sempre tive grupos de garagem ou mesmo de clubes ou bares e foi só quando me convidaram para cantar jazz que eu descobri que gostava imenso de jazz e foi aí que comecei a pensar «será que era possível fazer isto da minha vida?». Foi nessa altura que aprofundei os meus estudos e decidi ir para o conservatório e depois acho que o grande passo foi quando decidi deixar o curso de Engenharia Civil e vim estudar para o Hot Club. Esse foi o grande passo. Tinha aulas de técnica vocal, era só o que eu fazia e aí dediquei-me a 100%. Depois fiz a licenciatura e o disco surge numa altura em que começo a tocar com o Rui Caetano, o pianista e produtor e decidimos que faria todo o sentido fazer um disco. Estávamos a gostar muito da nossa cumplicidade e sentimo-nos muito bem em palco um com o outro, uma coisa levou à outra e o nosso gosto pelos clássicos levou à criação do disco.

 

MYWAY: Como é que foi colaborar com o pianista Rui Caetano?

Cláudia Franco: Musicalmente foi fácil porque nós estamos a olhar para a mesma direção, gostamos das mesmas coisas, portanto essa foi a parte mais orgânica, mais natural. A parte mais difícil de por um disco na rua é toda a outra parte: tudo o que seja financiar um álbum e todas as coisas desde a gravação, desde o design, desde a pôr o disco na rua, fazer entrevistas… essa é a parte difícil: a parte que nós não dominamos

 

MYWAY: Sabemos que tens um grande gosto pelos clássicos do jazz, mas quais são as tuas influências musicais ou o que andas a ouvir atualmente?

Cláudia Franco: Eu ouço muito Jobim, apesar de ser algo que eu ouço desde sempre, continuo a ouvir muito porque me alegra. Gosto muito. É tão rico que não dá para não passar tempo. Ouço muito Jobim e Edu Lobo, música brasileira, e ultimamente também tenho ouvido Rosa Passos, que é muito leve e é muito rico. Depois ouço muito Norma Winstone, que é uma cantora de quem eu gosto imenso e sei lá, tanta coisa… Ultimamente tenho ouvido Bill Evans.

 

MYWAY: Vais regressar ao CCB no dia 6 de Junho. O que podemos esperar deste espetáculo?

Cláudia Franco: Como concerto de apresentação do disco, podem esperar as canções do disco com algum twist, digamos. Depois temos algumas surpresas na onda do pop/rock, algumas versões e um bocadinho do Jobim que eu não consigo viver sem a música dele e obviamente que tenho que ter nos meus concertos um bocadinho de Jobim.

 

MYWAY: Do teu percurso até agora o que é que consideras mais gratificante? Como é que interpretas a recetividade do público?

Cláudia Franco: O público felizmente tem reagido bem! Sendo uma área mais difícil, um estilo musical que à partida as pessoas não conhecem e às vezes até têm algum preconceito com o jazz, porque o jazz tem tantas vertentes e por vezes as pessoas pensam que tem só uma e confundem um bocadinho; o que é natural; porque também não existe tradição de jazz em Portugal portanto estamos todos à procura. A reação tem sido boa, mesmo para o ouvinte com mais dificuldade… Imaginemos alguém que não entenda inglês, por exemplo, que é logo uma grande barreira ou alguém que nunca ouviu jazz. As pessoas têm uma boa reação porque penso também que o nosso objetivo neste disco era criar um jazz moderno mas com os pilares da tradição. Ou seja, não queríamos criar uma coisa que de repente chocasse as pessoas e que fosse difícil de ouvir, queríamos criar uma coisa melodiosa e que nos fizesse dançar e sorrir e que não fosse muito difícil de partilhar. Depois acho que isso acontece naturalmente… o mais difícil é chegar ao público e fazer com que eles ouçam, depois de ouvirem eu penso que gostam.

 

MYWAY: Quais são as tuas aspirações a longo prazo e com quem é que gostarias verdadeiramente de colaborar? Isto é, sonhos que te tenham passado pela cabeça.

Cláudia Franco: Bem, quanto a sonhos… é difícil, nós no jazz estamos tão habituados a que não aconteça nada que depois não sonhamos muito (risos). É verdade. Eu acho que o sonho de qualquer músico é poder ir a muitas salas e é poder pisar palcos como o Carnegie Hall ou ir à Blue Note, ao Ronnie Scott, estes palcos com muita história. Em termos de parcerias é realmente muito difícil, tenho que pensar um bocadinho que eu não sonho com essas coisas porque realmente é «um tiro muito alto». Eu estou muito feliz com a minha banda e às vezes nós não damos o valor às pessoas que temos à nossa volta. Eu tenho uma equipa fantástica e não os trocava por ninguém, porque o lado pessoal é muito importante também, para podermos ser o melhor que nós podemos ser. Ter a nossa família a apoiar-nos (e neste caso eles são a minha família) é muito importante. Se calhar eu gostava de partilhar o palco com uma grande big band ou tentar com uma Dianne Reeves… não há nenhum nome que esteja a «saltar» neste momento, é muito difícil. Eu gosto muito de um guitarrista que é o Mike Moreno. Talvez esse…

 

MYWAY: O que é que achas do estado atual da visibilidade do jazz em Portugal? O que achas que poderia ser feito para valorizar o soul e o jazz?

Cláudia Franco: Eu penso que uma coisa que aconteceu foi que os músicos tornaram-se profissionais. Mas só os músicos, quase toda a rede à volta não. Desde os críticos, aos clubes, às editoras, aos bares, todo o suporte que existe para elevar a música jazz não o faz. Penso que isso é um bocadinho o que acontece quando um músico sai à rua, tem um grande concerto e depois não tem pessoas que sejam profissionais na sua área. É importante, se eu vou ter um crítico a falar do meu disco, que essa pessoa consiga também ser profissional na área dela. Acho que isto está ainda tão no início que ainda não existe essa profissionalização nos outros campos. Penso que talvez da parte das rádios tivesse que haver uma abertura maior para o jazz porque as pessoas ouvem rádio. Da parte das lojas, que põem os discos à venda, em vez de porem um espaço estreitinho para o jazz, que não o fizessem. Se calhar poderia não haver tantos rótulos que dividam a música e põem o jazz no fundo, as pessoas só passam pelos corredores do pop. Ou seja, a questão é equilibrar e isso não tem a ver só com o jazz mas com a cultura em geral. Quando abrimos um geral, uma revista ou vemos um noticiário o espaço para a cultura é uma coisa pequena… às vezes não há. O problema para mim é profundo, não é só um problema ao nível do jazz, é um problema a nível de cultura e obviamente se nós não falamos de cultura às pessoas as pessoas não vão comprar cultura.


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